Nós também somos amigos

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Reita observou bem os guitarristas de sua banda. Ele não era um gênio super sensitivo, mas as coisas estavam tão ruins, que ele já percebera. A relação entre Uruha e Aoi estava passando por um momento complicado.

O baixista, assim como os outros, sabia perfeitamente que aqueles dois tinham passado da fase "companheiros de banda" para a de "amigos mais do que íntimos ao quadrado". Porém, a cerca de mais ou menos um mês, tudo mudara.

Kouyou assumira uma posição extremamente fria em relação a Yuu. Uma manhã Uruha chegara ao estúdio com uma expressão abatida e vencida, o rosto pálido parecia ainda mais doentio em contraste com as olheiras profundas e escuras. Algo se quebrara no espírito do jovem loiro, e se refletia em seu exterior.

Yuu também mudara. Assumira uma atitude reservada e afastada de todos, evitava qualquer tipo de contato mais profundo; e, apesar disso, tornara-se um poço de arrogância. Esquecia com freqüência de palavras como "obrigado" e "por favor". Mas a mudança mais assustadora estava nos olhos... Aqueles profundos olhos escuros, antes sempre brilhantes de animação e malicia, passaram a encarar a todos com superioridade, como se mirassem apenas seres que não valiam a pena serem fitados.

Isso sem mencionar a forma como agia nos ensaios. Yuu começara a segurar a guitarra como se fosse um novato desajeitado. Mesmo que as notas saíssem boas, Reita flagrara o moreno dedilhando de forma totalmente ridícula! Trocando as cordas, porém com o som fluindo quase magicamente.

Eram mudanças assustadoras.

Desde então todo o mistério e romance que cercava o relacionamento secreto (não tão secreto assim) dos guitarristas desaparecera.

Não havia mais as trocas de olhares cheias de segundas intenções. Nem os sorrisos discretos e abobados que apenas os apaixonados sabem dar. Os toques furtivos, quando achavam que ninguém estava olhando, simplesmente acabaram. Uruha e Aoi não mais ficavam de cochichos nos cantos, fingindo trabalhar nas composições, enquanto aproveitavam da companhia um do outro.

Não existia nada mais daquilo.

Respirando fundo, Reita achou que era hora de dizer alguma coisa. Kai não parecia nada bem também. Vivia constantemente com uma expressão preocupada na face. Olhava penalizado para os guitarristas, sobretudo para Uruha.

O líder tinha a atitude de alguém que quer ajudar, mas não sabe como.

— Kou... – Reita se viu chamando, no instante em que Takashima ia saindo da sala.

O guitarrista loiro parou no lugar, com a case no ombro:

— Hn?

— O que está acontecendo? – não fez rodeios. – Porque você e o Aoi estão agindo assim?

Uruha olhou firmemente para o baixista:

— Nada. Não é nada. – balançou a cabeça.

— Tenho o direito de saber. Somos amigos, Kouyou.

— Quer mesmo saber, Rei-chan? – ao dizer aquilo Uruha parecia cansado, derrotado – O meu problema é que aquele não é o Aoi, ne?

Akira soltou o braço do companheiro de banda. Voltou os olhos para Yuu, que apenas escutava, sem dizer nada.

— Não é o Aoi? – repetiu visivelmente confuso – Eu queria saber o que aconteceu pra vocês mudarem tanto.

Mas Uruha não disse mais nada, apenas saiu da sala, sendo seguido pelo guitarrista moreno. Reita engoliu em seco e passou a mão pelos cabelos. Ele não ia desistir tão fácil de saber a verdade. Não deixaria seus amigos sofrendo sem tomar alguma atitude.

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