Capítulo XXIII - Elo

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- Você está aqui por causa de Kyrios? - perguntou Hendrik.

Dalienne havia aproveitado a distração do Sir Lukan que guiava a turma ao salão para virar no corredor ao lado, o qual daria na biblioteca. Enquanto Selena e Hendrik aguardavam seu retorno durante a janta, ela explicou a razão de estar ali e a grande responsabilidade que tinha nas mãos. Havia um tempo que não falava com o Eu Sou nem sonhado com ele. Devia se preocupar? Talvez estivesse com problemas muito incompreensíveis para uma garota que só cumpriria uma pequena parte da missão.

Torcia com todas as forças para não ouvir os despejos de descrença como Christopher e o Sir Beorren haviam feito. Ele, no entanto, assentiu.

- Deixa eu te contar uma coisa. - E aproximando-se, prosseguiu - Eu também acredito.

Não havia notado que estava prendendo a respiração até, sem querer, solta-la com o alívio em saber da boa-nova. Afinal, todos naquele mundo pareciam acreditar nos deuses sarianos, onde, além de Orion, haviam muitos outros deuses; deuses para tudo, até para as pegadas de um cavalo, cujo nome era Rewander. Mas Illídia, a deusa da vida, era a mais adorada. Inclusive, como tarefa, era obrigatório todos os noviços visitarem o Templo Celestial da cidade ao início da semana. Quando iam, Dalienne acompanhava seu pai e família enquanto Selena e Hendrik permaneciam na fonte diante da escadaria, onde ficavam adivinhando qual era o valor das moedas jogadas na água. Jamais haviam combinado de ficar ali, somente decidira acompanhá-lo quando ele não quis entrar.

- E você o viu pessoalmente?

- Sim.

- Ele não falou nada sobre o colar?

- Não.

- Mas ao que tudo indica, ele quis que você o trouxesse a esse mundo - concluiu.

Infelizmente, assentiu.

- E se ele me trouxe para uma armadilha? - sussurrou, orando mentalmente para que ele não estivesse ali para ouvi-la, caso contrário, poderia matá-la ali se quisesse e fosse realmente esse o plano.

- De todas as histórias que minha mãe me contou nenhuma ele cometeu tamanho ultraje contra os seus escolhidos.

Mordiscou o pão de cevada, molhando a garganta com o suco de uva. Olhava a todo instante para a porta do salão, à espera de Dalienne com o livro, no entanto, ao fazê-lo pela quinta vez, quem entrou foram os cavaleiros, prontos para recolherem as turmas. Observava-os, desejando estar em seus lugares e seguirem para o dormitório, mas seu destino era a Torre Central, onde teriam a aula de astronomia.

O Prof°Andhos era um tanto quanto esquisito. No modo de andar. De falar. De tudo. Tinha passos suaves, como se fosse um bailarino; movia-se como a brisa da primavera e isso, de algum modo, irritava-a. Por que não podia simplesmente agir como todo mundo? Isso a distraía do foco da aula. A capa negra sempre balançava conforme ele ia de lado para o outro, discorrendo sobre a matéria. Às vezes, porém, era tão aéreo que enquanto falava para os alunos sobre as estrelas, ele refletia sobre a própria frase filosófica e começava a falar consigo mesmo. Um aluno ou outro tinha que puxá-lo de volta para a terra após sua mente alcançar a galáxia mais distante dali.

Contudo, não foi a torre o destino de Lukan, pois havia tornado à esquerda, descendo as escadas e seguindo para a ala oeste, onde ficava o campo de treinamento? E foi exatamente isso. Ele abriu a porta para que pudessem passar. O professor ainda não havia chegado, mas os terceiranistas estavam ali, entre eles Christopher, solitário e quieto demais para cumprimentar Alecsander, que logo se sentou ao lado do amigo, apresentando Mikane e Qeven. Nem olhá-lo, ele o fez. Estranho.

Princesa de Gelo: O Legado da Aurora [Vol 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora