Capítulo XIX - O grande dormitório

276 55 3
                                    

- Eu estou te avisando, Alecsander Cavaerley - o cavaleiro parou bem em frente ao neto, abaixando-se a altura do seu rosto. - Se eu o vir perto dos Alliand, eu invado aquele dormitório e o tiro de lá.

Barney partilhava de risos escondidos do avô junto com o irmão mais velho que fingia estar sério, mas quase não aguentava segurar a risada que lutava para se soltar. Para isto, olhava para suas roupas e abaixava ainda mais cabeça quando um riso escapava.

- E se você quiser permanecer nessa cidade viva é melhor também ouvir o que estou falando - disse o velhote à Selena, retornando ao quarto do neto. E continuou falando enquanto estava lá - Seu pai era inimigo número um da Casa Alliand; Carlos também. Ninguém mais sabe que vocês são seus herdeiros. Seus fantasmas ainda assombram aquelas pessoas...

Alecsander olhou para o alto para recuperar o fôlego e levou a mão à barriga para diminuir a tensão de segurar a risada. De igual modo, Selena segurava-se para não soltar um ruído que delatasse a sua gargalhada junto com os meninos. O mal-humor do velhote era tão divertido que fazia seu sotaque ficar um pouco mais acentuado; sua revolta devia-se pelos três estarem debochando da sua zanga. Estava assim desde o dia anterior quando o neto falou que viraria melhor amigo de Rhaysen Alliand a fim de provoca-lo.

Àquela altura havia de antemão arrumado suas coisas para se realojar no dormitório, o que não era tanta coisa. Lynn havia praticamente despejado algumas roupas velhas que não mais lhe serviam e Alec, emprestado um par de botas e sapatos. Havia guardado tudo numa bolsa velha emprestada da mais velha no momento em que Barney havia dito ao avô que iria brincar com os meninos da rua no fim do dia anterior, quando, após sua permissão, sussurrou para ela que iria na verdade ao Flores Doces beber mais vinho com mel e ajudar o Sr. Oleg com a clientela já que Domnus também iria morar junto com ela e outros escudeiros no dia seguinte.

Levando a sério o que o cavaleiro tinha dito, contava ou não que era Dalienne Alliand quem havia a ajudado a decidir o nome de sua espada? Decidiu que não quando o velho retornou do quarto a passos pesados segurando mais uma muda de roupas do neto; um semblante tempestuoso dizia que não estava a fim de ser contrariado. Aliás, o cavaleiro tinha o hábito de detestar ser contrariado. Portanto, não pioraria seu belo humor.

Assim que notou o avô retornando, tomou sobre si um semblante fechado, a ponto de suas grossas sobrancelhas quase se tocarem. Barney levou as duas mãozinhas na boca e evitou manter o contato com o irmão.

- Alecsander, o que eu disse?

O adolescente tragou uma lufada de ar a fim de não explodir em risadas.

- Eu não vou falar com nenhum dos Alliand. - Sua voz foi sobremaneira tão pesada, que surpreendeu o mais novo e a menina, que esperavam que ele fosse rir. - Eu entendi, vô.

- Isso inclui agregados à família.

- Nem. Agregados - repetiu mastigando bem as palavras, assentindo com tanta veemência que mais parecia ser deboche.

O velhote deu um tapa no seu cabelo desgrenhado, desatando a rir e permitindo que todos também o fizessem.

- É igualzinho a seu pai - comentou recuando uns passos.

Recostada na parede, Selena acariciava uma das corujas que não ficou muito feliz quando as gargalhadas ecoaram pela sala de supetão, fazendo-a levar um susto e quase bicar o seu dedo. Quase porque retirou-o quando de imediato notou que a ave ameaçada descontaria sua raiva nela. Retornou a afagar suas penas quando se acalmou mais um pouco. Ela e todas as suas companheiras de poleiro eram tão amarronzadas quanto o tronco de uma árvore. Suas grandes garras não pareceram tão ameaçadoras quando sua patinha se estendeu para que se apoiasse em seu braço.

Princesa de Gelo: O Legado da Aurora [Vol 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora