Capítulo XXII - Novgard

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Selena passou as últimas vinte e seis horas tentando encontrar uma razão para ser perseguida entre os sete reinos de Alvura do Norte pelos tenebraes. Talvez estivesse pagando pela vez que comeu os brigadeiros da vovó, que ela havia feito para o décimo quinto aniversário de Artur. Mas nem é muita coisa assim... Tinha que ter cometido um pecado gigantesco para ser uma caça tão valiosa.

O breve toque do sino da cidade avisava o inicio da segunda vigília - correspondente ao período entre meia-noite e três da madrugada - e a relembrava que já devia estar dormindo há horas.

- Certo. Tenho sangue rhoanês... Isso me torna uma Aemaki? - perguntou para Sombra, que se virou de costas para ela, nem um pouco interessado no assunto; ele havia chegado no exato momento em que havia fechado a porta do seu quarto, horas mais cedo. - Eu não quero fazer parte daquela família louca.

Foi obrigada por seus pensamentos a acordar Hendrik somente para tirar sua dúvida.

- Não, Selena - resmungou atrás da porta. - Isso significa que sua ancestralidade vem das terras de Rhoan, Samíria.

Já haviam a atacado anteriormente. Devia se preocupar por ter escapado das mãos daqueles seres? Rogava a Kyrios que não. Bastava apenas aguardar a resposta vir com o tempo, apesar de se recusar a querer esperar. Mas e se até lá mais vidas forem perdidas? Quantos rhoaneses seriam necessários para satisfazer a maníaca sede de sangue dos tenebraes? Mais uma vez a resposta estava em aguardar o tempo revelar. Cabia às cartas de papai uma distração a fim de acelerar o relógio.

Gostaria, no entanto, de saber como o Sir Rhonos tinha uma disposição admirável para subir os oito andares e acordar todos os escudeiros do dormitório pouco antes do dia amanhecer. Selena recebeu uma repreensão de Sombra por demorar a se levantar da cama e se arrumar - seu atraso só prolongava o tilintar do bendito sino do cavaleiro.

Naquela manhã, o salão estava cheio e poucos se propunham a conversar com os colegas; Dalienne era uma. Milagrosamente, até mesmo Hendrik não estava a fim de conversas; com a cabeça abaixada, aproveitava os poucos minutos que tinha de um dia atarefado até o início da segunda vigília. Com a cara afogada nas mãos, Selena imitava o amigo ao lado.

- Vocês foram para a cama cedo! Por que estão cansados?

- Estou em fase de crescimento. Dentro de um ano vou dobrar de altura, então preciso descansar - disse Hendrik sem nem erguer a cabeça.

Pela fresta dos olhos, viu a amiga lhe encarar esperando uma resposta.

- Estou dormindo pelas horas a mais que teremos de astronomia hoje. - Deu de ombros não querendo contar que passou um bom tempo acordada quase enlouquencendo com seu possível destino.

Pôde vê-la girar os olhos na órbita, mas tornou a baixar a cabeça orando para que aqueles minutos não passassem com tanta pressa, o que não ocorreu, abreviando-se a apenas alguns míseros segundos, quando os portões foram abertos. Foi tão repentino que acabou não só assustando os dois dorminhocos como os outros que estavam distraídos em seus mundos. Os pratos eram rapidamente entregues, primeiro, porém, aos veteranos e assim por diante, até chegar à sua turma. Parecia o sistema de distribuição de alimentos que ocorrem em aeronaves, carrinhos levavam pratos nos seus três níveis e o serviçal os entregava aos outros a fim de dá-los a cada aluno; lembrou-se da primeira e última vez que pegou avião para visitar os avós de consideração, pais da tia Olívia, e só os considerava avós a pedido do vovô quando tinha dez anos.

Admitia estar curiosa para a primeira aula de botânica, pois nas últimas semanas o Lorde Erland estava em uma missão real. Mais do que intrigada ao que quer que fosse essa missão real, queria saber a razão pela qual devia estudar tanta coisa só para proteger o ducado e ir às guerras. Afinal, não era isso o que um cavaleiro fazia? Por sorte, Hendrik tirou as palavras da sua boca e questionou a mesma coisa a Dalienne, a qual respondeu que a educação e o domínio das habilidades diversas importam, pois o objetivo da Casa Alliand não é criar somente um exército, mas sim cavaleiros instruídos para prosperarem e expandirem a cidade.

Princesa de Gelo: O Legado da Aurora [Vol 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora