Capítulo XXI - Um remanescente

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Hoje é o níver da Selena, então já deixa aquele voto bonito de presente!

— Dalienne, milady, que conceito de pessoa adorável você tem? — ciciou Hendrik para menina que anotava em seu caderno o que professora estava escrevendo no quadro.

Não deu um segundo para ela responder quando um giz atravessou a sala e atingiu em cheio a cabeça do menino, arrancando uma exclamação sua.

— Fique quieto, criatura!

Sua voz guardava por trás da reclamação um tom humorado, embora não fosse encontrado em seu semblante cheio de sulcos algum sinal deste.

Na mesma hora, para evitar que um giz voasse também em sua direção, Selena olhou para sua mesa e largando a pena no tinteiro, desatou a rir. Dalienne havia escondido o sorriso com a mão, tornando a escrever. Com um breve olhar de esguelha, pôde ver uma marca branca na altura dos supercílios do menino.

— Tá sujo aí — Indicou suas sobrancelhas.

— Sério, Selena... — sibilou, ironicamente, após limpar a área.

Permaneceria com a mesma opinião que Hendrik partilhava acerca da professora ser uma pessoa adorável até o fim da aula. No entanto, quando ela começou a ensinar leitura a cada um, foi obrigada a admitir que, sim, ela se importava que o conteúdo fosse absorvido e que demonstrassem de fato isso, embora após ensinar o alfabeto e as sílabas, ela perguntava se haviam entendido e todos respondiam 'sim'. A maioria dos alunos mal sabia o que era um livro, e ela sabia disso, então ela entregou um exemplar dos Contos de Jaskyr, o Bardo Tagarela, a cada um como dever de casa. Achou divertida a ideia ao abrir no primeiro capítulo e encontrar um título intrigante: A Bruxa Estéril que Queria Ser Mãe.

Tudo corria muito bem, estava ensinando a Hendrik como escrevia o nome da cidade de Polus quando o seu foi chamado. No mesmo instante, pensou que seu coração havia pulado para fora do seu corpo. Torcia para que fosse apenas uma impressão até sentir o olhar da professora pesar sobre suas costas. Olhou-a de forma que pudesse ler seus pensamentos clamando por misericórdia.

— Vejo que conhece muito bem as palavras... Venha escrever o seu nome no quadro para nós vermos. — A gentileza no tom de sua voz soava como uma sentença de morte.

Embora tivesse se saído muito bem, a tremedeira unida ao suor frio lha relembravam do momento em que toda atenção da classe tornou para ela. O giz chegou a se partir no meio, mas a pressa em querer retornar ao seu lugar foi tão grande que rapidamente segurou o fragmento antes de cair no chão. O breve aplauso da professora avisou à sua mente em completo caos que poderia retornar ao seu lugar, porque, mesmo após ter terminado de escrever, continuava parada em frente ao 'r' de seu sobrenome temendo encarar vários olhos curiosos.

Cada um seguiu ao quadro para fazer o mesmo, porém a letra completamente garranchada e impossível de ler de Hendrik foi o que o impediu de sair da aula após o resto dos alunos ser liberado.

Selena estancou os passos ao notar que ele não vinha atrás.

— O que será que houve? — perguntou ela, temendo que o amigo experimentasse as palavras de desaprovação.

— Eu disse que ela era uma pessoa adorável — disse Dalienne, serena. Não tão breve, algo a incomodou. Notou pela sequência de batidas que sua bota bateu contra o chão; um pavor refletia no brilho do seu olhar. — Vamos esperar aqui?

— Por que não?

Dalienne ergueu as sobrancelhas em incredulidade.

— Você viu o quadro de horários?! — Pegou o seu folheto indicando a próxima aula e o nome ao lado: aula de música — Lady Alamere. Escrito com tinta ainda recente estava 'Madame Louca' bem ao lado. — Ela é louca, Selena! Se chegarmos atrasadas e já estamos, ela vai atear fogo em nós.

Princesa de Gelo: O Legado da Aurora [Vol 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora