Capítulo XXXIX - Coninhos

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— Como assim você não sabia que eu e o Petrus somos da mesma família? — perguntou Sir Auryn.

Scarth. Não era para menos, ambos não tinham nada a ver a não ser os mesmos fios loiros quase brancos. Via-o do outro lado do estábulo, limpando as patas do cavalo da Sir Vanirya.

— Você é muito legal, nem chega a se comparar com ele... — disse, em sua defesa.

O estábulo dos cavaleiros estava lotado, com muitos deles indo de um lado a outro sendo acompanhados de seus novos escudeiros. A umidade misturada ao feno resultava num odor nada agradável, sem contar que era indistinguível detectar o cheiro do excremento de cavalo a esta mistura. Agradecia pela cavaleira ter limpado a área onde Soneca, seu suokki, estava. Muitos escudeiros estavam cumprindo tal dever àquela hora da matina.

Sir Auryn riu.

— Pegue leve com meu primo, nosso avô não foi uma boa pessoa com ele...

— Por quê?

A cavaleira estava ajeitando a sela sobre o cavalo quando Sir Beorren surgiu logo atrás. Os muitos vincos que se formaram no seu rosto evidenciavam uma preocupação.

— Sabe o que ocorreu no Flores Doces, não é?

Sr. Oleg, lembrou-se. Dom mudara drasticamente, passando a ficar quieto e distante dos demais; incomparável aos lunos anteriores, quando era conhecido por todos da turma e o mais popular, devido à sua simpatia.

Assentiu.

— Barnard ainda não sabe. — Respirou fundo, alisando a barba grisalha, quase branca. — Pedi a Alecsander e a Christopher que, por ora, mantivessem segredo. Como ele adora ir ao Flores Doces e sempre leva você junto, peço que invente qualquer desculpa para ele nem pensar mais em ir.

Decidiu não questionar por quê, concordando apenas.

— Até que tudo passe... E Lynn retorne da cadeia.

Mencionar o nome da mulher quase lhe provocou náuseas. Engoliu em seco temendo que àquela altura o cavaleiro já sabia que ela tinha dedo na prisão da neta. Foi um alívio para ela ao notar que o sir não desconfiava dela em específico.

— Não há provas contra ela, então logo ela estará de volta.

— Illídia sempre está a favor dos justos — disse Sir Auryn logo atrás. — É melhor irmos, porque vejam quem está pronto...

Sir Norrand já seguia para a saída com a sobrinha Sothie puxando as rédeas do garanhão, sendo seguido por Sir Rhonos, líder da Lança Corvo, e Sir Gawain, integrante da mesma lança que o Lorde Elford; Hendrik puxava as rédeas de seu cavalo, dando um aceno ao passar pela amiga.

Sir Auryn pousou a mão sobre o ombro da escudeira.

— Pronta para o desfile, Selena?

Foi divertido atravessar a cidade guiando Soneca, o suokki da cavaleira. Ele era um animal dócil e vez ou outra o pegava farejando sua cabeleira que, devido ao vento, batia em seu rosto. Todo o instante que tentava pega-lo sentindo seu cheiro, Soneca fingia estar olhando para frente. Claramente, Sir Auryn notou isto, pois notificou à escudeira que ele adorava brincadeiras.

A Rua Principal estava abarrotada de cidadãos e Selena teve a breve impressão de ter visto Barney na altura em que passavam pela praça dos Três Reis, mas com tantas crianças correndo para acompanhar os cavaleiros, não pôde ter certeza, nem mesmo por Sir Beorren, que caminhava à frente aparentando não haver visto o neto; Christopher guiava seu cavalo. Sacerdotes do templo davam ritmo aos aplausos, entoando uma marcha de percussão saudosa e com as trombetas dando um toque majestoso à melodia.

Princesa de Gelo: O Legado da Aurora [Vol 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora