Capítulo XXXI - O dia de Figgy

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Um dos cavaleiros puxou as crianças pela manga de suas vestes, pondo-se a frente delas, assim como os outros dois, que brandiram suas espadas. Ainda que estivesse pouco iluminado, eram refulgentes os olhos escarlate dos seres sedentos. Seus movimentos eram rápidos, como um raio, mas também suaves e bem executados. Como se cada ato dos cavaleiros fosse previsto, dois dos tenebraes estresiam em passos combinados, movendo os braços como se manipulassem o ar, os pés arrastavam-se na neve com uma graça aterrorizante e cada golpe acertava em cheio pontos cegos dos cavaleiros, resultando nas espadas dos dois deles serem jogadas longe. Selena pôde ver que eram duas eram as tenebraes, e gêmeas. Ambos os cabelos estavam presos em coque, contrário ao do meio que tinha solto os seus cabelos, ainda assim se podia ver que eram puramente brancos.

- Vamos ficar aqui assistindo...? - interrogou Hendrik, claramente atemorizado.

Selena olhou para a amiga esperando uma resposta sua. Se dependesse de si, estaria há muito correndo.

- Podemos testar a fraqueza deles - disse Dalie e lançou um olhar à tocha do outro lado. - Se um de vocês sabe correr rápido, essa é a hora.

Hendrik! Olhou para ele, sabendo que dos três era o melhor.

- Tá bom! - Ergueu as mãos em rendição. - Mas criem uma distração.

Precisava se concentrar como outrora havia feito. Toda a atenção que tinha devia transferi-la para si. Por um breve instante, pôde notar o ar ao redor de si esquentar conforme se movimentava. Era Dalienne. Mas devia naquele momento permitir que seus poderes se manifestassem. Respirava fundo com o objetivo de desacelerar as batidas do coração. Um calafrio pela sua espinha avisava que estava obtendo êxito; o torpor nas pontas dos dedos, que o gelo fluía deles.

Não tinha ideia do fazer com o gelo em suas mãos. Sua brilhante imaginação só conseguia lhe indicar os desenhos de super-heróis que via na tevê. Leve as mãos ao chão. Estava incerta quanto a qual seria a intenção daquela frase, mas o fez. Traçou um caminho mentalmente que fosse de encontro aos pés dos três seres, que, por sorte, estavam concentrados nos cavaleiros. Esperou Hendrik se aproximar para então liberar seu poder. Sentiu como que um terremoto sob suas mãos ao tocar na neve; o abalo sísmico era decorrente do seu toque e não o chão que tremia, mas a neve em si, que avançava como um imponente onda contra os tenebraes. Era como uma extensão da sua mão, um membro a mais do seu corpo, quando sentiu a neve se tornar densa e rija ao segurar firme os pés dos seres cinzentos.

O sinal de Hendrik ao ter pego a tocha foi um breve assobio. Dalienne, de pronto, moveu o ar a favor do fogo, dando a ele combustível para que se alastrasse feito uma serpente voadora.

O tenebrae do meio deu dois passos rápidos, empurrando o ar na sua frente para fazer o cavaleiro recuar rumo ao fogo. Dalienne ergueu as chamas, desviando-as rapidamente e as lançando contra o tenebrae, que, sem rodeios entrou em combustão, não sobrando cinzas sequer para contar.

- Sua praga!!! - bramiu uma das tenebraes.

Ela avançou impetuosa contra Dalienne, derrubando o cavaleiro no chão quase sendo atingindo por um golpe do outro, que lutava contra a irmã gêmea da tenebrae. Um reluzir de pavor assombrou Dalienne, a qual recuou uns passos e por pouco, não tropeçou nos próprios pés. Precisava ajudá-la.

- Ei! - gritou Selena.

A tenebrae não apresentou sinal algum que tiraria sua atenção de Dalie. Era necessário medidas mais urgentes. Foi então que centrou seus poderes na mão que usava, a direita, e imaginou uma espada de gelo cravando seu abdômen. Célere, as cinzas se espalharam pelo ar. Sabia que não havia as extinguido, como fogo fazia, mas era um meio de atrasa-las.

Princesa de Gelo: O Legado da Aurora [Vol 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora