03 - Dia Ruim Em Black Rock

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O sono era profundo e sereno como sempre, se não fosse pelo fato de estar acontecendo um verdadeiro reboliço dentro de sua cabeça. Os sonhos se intercalavam entre imagens, fantasias e desejos sem sentido. E assim como na maioria das noites após um dia tenso, tudo retornava para aquela fatídica noite onde tudo começou.

Aquela mesma, quando fora surpreendida na calada da noite pela figura que a silenciou com sua mão grossa, fria e áspera. Os olhinhos ainda estavam enormes com o susto enquanto ouvia o clamor de silêncio vindo de quem a segurava tampando-lhe a boca, pressionando levemente sua cabeça contra o travesseiro:

- Shh!... -E então, um rosto familiar e pacífico desceu das sombras vindo de encontro ao seu.

- Papai? -Indagou, com a voz abafada.

- Heey... -Sorriu ele retirando a mão, passando a sussurrar. - Não precisa se assustar, sou só eu.

- Eu não me assustei, Papai. -Mentiu, em tom de bravura. - Sou corajosa, se fosse um monstro, ele teria saído correndo.

Ele riu em concordância:

- Ah, é mesmo? Então, você é uma menininha muito, muito corajosa?

- Uhum, muitão.

- Hum... Quero ver. Chega mais pra lá. E não faça barulho, não queremos acordar sua mãe.

- Pra quê? -Rolou para o lado lhe dando espaço, abraçando a bonequinha de pelúcia.

- Rapidinho... -Cochichou, à medida em que a menininha se via altamente confusa.

De repente, o colchão afundou muito por trás de suas costas, reagindo ao peso do homem que se deitou ao seu lado no pouco espaço sobrando, apoiando-se com o cotovelo ao segurar a própria cabeça, deitado de lado com Abby, que ia se encolhendo de costas a ele.

- Tudo bem?... -Perguntou ele, baixinho.

A menininha deu de ombros, voltando a fechar os olhos lentamente sob o abraço que recebeu do enorme braço cabeludo que lhe envolvera. Gritante foi a forma como se assustou, debatendo-se na cama ao ter certeza de que sentira o horripilante envolvimento de seu Pai mais uma vez quando acordou até ofegante, puxando o ar para si com toda força ao se por sentada na cama, sendo alvejada pela forte luz do sol adentrando ao quarto, espantando sem querer com seu ataque, até mesmo Amendoim, que saltou do colchão em evasiva para não acabar sendo pisoteado pelas pernas em tremeliques da dona, chutando o edredom com força ameaçadora.

Pôs a mão sobre o peito em tremendo mal estar, sentindo as batidas do coração fortes e aceleradas. Por um momento, jurou que pôde notar até uma pequena fisgada na região, esfregando-a depressa ao controlar a respiração:

- Ah, não... Não quero morrer. Não quero morrer, não faz isso comigo. -Brigou com o órgão em desespero dentro do peito. - Não faz isso... Para... -Nenhuma doença cardíaca instalada de fato, mas sim uma crise de ansiedade com efeitos físicos psicossomáticos, que encenam a sensação de um infarto. Um problema com o qual Bela luta para vencer há anos. Sempre passa é claro, mas quando acontece, parece que nunca vai acabar até que esteja morta. Rápido, deu início ao exercício de respiração que aprendera com o antigo psicólogo. Inspirar fundo contando até seis, prender a respiração contando até três, e soltando o ar esvaziando o peito até o final. Repetiu o ato cerca de quatro vezes até começar a notar diferença física. O coração pareceu lentamente se acalmar, a respiração voltou ao normal e aos poucos, se recuperou.

Mirou no relógio despertador sobre o criado mudo, o mesmo não estava apitando. O que poderia significar duas coisas, estava adiantada ou atrasada. Infelizmente era a segunda opção. Marcando 12:45, o choque foi imediato:

BELA TALBOT - Uma Corrida Contra O TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora