18 - A Coisa Em Flagstaff

17 4 0
                                    


Lidar com Gordon, embora jamais admitisse publicamente, a encheu de medo. Às vezes, a lenda é maior que o homem, o que não era a questão desta vez. Quando teve o cano da arma apontada para sua cabeça, foi capaz de ver toda a verdade por trás dos boatos. Dava pra sentir no ar circulando em volta dele, todas as vidas humanas e não-humanas que já foram tiradas pelas mãos do infame caçador. Quantos por aí já não foram esfaqueados ou alvejados a tiros por atrapalharem sem querer uma caçada a vampiros de Gordon Walker? Quantos inocentes não foram ameaçados ou pior, para que ele pudesse encobrir seus vestígios?

A verdade é que, quando a polícia acha um cadáver decapitado pela foice de Gordon, jamais saberá que aquele indivíduo mutilado era um vampiro. Tudo o que os homens e mulheres de distintivos veem é um ser humano brutalmente assassinado - "Temos mais um Xerife, tenho certeza que foi aquele filho da puta de novo." Se os próprios Winchesters estavam na mira do FBI, quem dirá Walker, cujos cadáveres deixados para trás nem sempre eram de monstros.


Tão diferente do caçador que conhecera uma vez em Flagstaff, no Arizona, há dois anos atrás. Bela acabara de fazer vinte e dois anos na época. Tinha viajado ao Estado seguindo os fortes boatos dos ataques de uma criatura conhecida como "Wraith" - (Aparição), onde pessoas estavam sendo encontradas mortas na beira da Rota 66. As vítimas surgiam em cenários quase idênticos, jogadas no acostamento, completamente nuas numa imagem degradante. Viradas de bruços e portando na parte de trás da cabeça, pouco abaixo de uma das orelhas, um ferimento de formato arredondado, causado por uma perfuração violenta no cérebro. As "Aparições" como são chamadas, possuem uma espécie de "garra", em formato de espeto. Extremamente pontudo, que se torna mais grosso em sua base. Puramente orgânica, coberta pela pele cinza e ressecada de seus corpos monstruosos, a arma natural (ou neste caso, sobrenatural) aparece protuberando-se para fora do pulso da criatura quando chega a hora de perfurar as vítimas. É através desse mecanismo corporal que conseguem se alimentar, sugando dos seres humanos os nutrientes da massa encefálica. As análises dos necrotérios são sempre as mesmas, legistas embasbacados e sem respostas para a causa de uma doença ou ato de envenenamento desconhecido que causa não só a morte cerebral da vítima, como também deixa o órgão totalmente seco e gelatinoso, de cor cinza escuro feito o pulmão de um fumante compulsivo. Tendo forma humana aos olhos das pessoas, a criatura é capaz de se integrar à sociedade e passar completamente despercebida, só não conseguindo esconder sua verdadeira forma embaixo da pele, por seu reflexo. Basta um relance no espelho para que a verdadeira face do monstro seja revelada à qualquer um em plena luz do dia.


E foi assim que o negócio foi fechado com um comprador figurão da Rede. Como a maioria dos colecionadores e suas procuras estranhas, o sujeito estava interessado num "Espeto" de "Wraith", sabe-se lá porquê. Encontrar o monstro já é uma tarefa difícil, retirar sua garra... É uma tentativa cara. É como tentar arrancar o dente de um leão enquanto o animal tenta te rasgar em pedaços. Caçar e matar, seria a alternativa mais óbvia. Mas desde quando Bela era uma caçadora? Que imagem degradante, fazer uma investigação complexa, matar uma criatura das trevas e salvar muitas vidas sem nem ter a foto publicada no jornal, sem ao menos poder exibi-la num museu. E o pior de tudo, ter que cobrir os próprios rastros como se tivesse acabado de cometer crime de homicídio. Alguém vai encontrar o cadáver, certamente pensará que é uma pessoa e de repente, mais um "criminoso" entra para lista de procurados, mesmo quando só estava se esforçando para fazer o bem. É um trabalho sem salário, sem reconhecimento, onde os bem feitores se escondem para sempre nas mesmas sombras que os monstros que caçam. Buscando um anonimato numa vida quase eremita, sem identidade ou luxo, verdadeiros refugiados. Isso jamais seria sua vida, não mesmo! Mas... Fazer o quê. Até tinha verificado com Mark se ele podia mandar um caçador para a área e conseguir a maldita coisa, a resposta foi um "Vou ver o que posso fazer", dois dias de sumiço e um cliente enfurecido.

BELA TALBOT - Uma Corrida Contra O TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora