06 - Negócios Inacabados

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Gramado raso, fofo e verdinho, rodeada por lápides altas que atingiam a altura de seu quadril, algumas mais exuberantes, com cruzes de madeira no topo e outras de formatos arqueados, ousavam lhe alcançar a altura do peito.

Cada passo era repleto de nervosismo. A visão de ter seu corpo coberto de sangue, vítima de tiros e facadas era aterrorizante, imaginando o que um bando de capangas de um ricaço desesperado por uma muamba sobrenatural seria capaz de fazer consigo. A única resposta sobre o possível paradeiro do pé de coelho, o espírito que invocou, se encontrava em estado de ira, exigindo sua parte do trato. É foda, não é? Ter que cumprir o seu favor sem ter de fato ganho nada em troca ao invés de problema e uma possível cabeça à prêmio. Como poderia voltar a vender? Como permanecer no meio do comércio do ocultismo com uma reputação futuramente questionável? Luke certamente a difamaria se não a matasse. E pior, como acharia sua própria saída do pesadelo iminente sendo que todos os contatos possíveis reteriam suas informações, excluindo-a do meio ao perder a credibilidade? Isto, assumindo que sairia viva.

São tantas coisas, uma pior que a outra lhe ocupando a cabeça. Tanto que, numa das mãos, carregava desanimada a garrafa e álcool e na outra, o saco de sal. No bolso interior da jaqueta de couro sintético marrom clara, portava a caixa de fósforos e o celular, carteira e luvas, com a arma embutida na cintura, no interior entre a calça e a blusa preta de gola alta. E assim, parou respirando fundo de ódio diante do túmulo de Amanda, bufando ao ter percebido se esquecer do item mais central da operação: A PÁ.

Largou o saco de sal que se estabacou no gramado, por sorte sem se romper, ao que se xingou esfregando a testa:

- Puta que o pariu. Isso não é hora.

- Algum problema, moça? -Alguém lhe chamou por trás.

De cara fechada, encarou o sujeito. De botas enormes e sujas de terra seca, calças largas e azuis assim como a camiseta de manga comprida e luvas grossas. Viu nele, sua oportunidade de arrumar a merda.

- Na verdade, eles foram resolvidos, rapaz.

- Não é bom a senhora ficar aqui a essa hora da noite, é perigoso.

- Certamente. -Puxou a jaqueta aberta mais para o lado, revelando o revólver escondido na cintura. O homem lhe deu as palmas das mãos, ou melhor, luvas, num gesto indicando ser pacífico e não querer problema. - Se acalme, moço. Não vou te fazer mal. Preciso de um favor.

- Seja o que for, eu não quero me meter, moça... Se não se importa.

- Hum... -Deu de ombros. - Eu não estava pedindo. Pode cooperar por bem ou por mal. E se for por bem, há uma recompensa pra você. O que acha de quinhentos dólares?

O homem hesitou, parecendo cogitar a possibilidade ainda com um certo medo na cara:

- O... O que seria?...

"Consegui" -Manifestou satisfação de modo discreto:

- Você pode trazer uma pá?


Um monte de terra era atirado por cima dos ombros do coveiro, que com uma pá, exercia a função maluca, requerendo tremendo esforço. O coitado pingava suor, empapando as vestes com o molhado quente e fedido, ofegante e persistente, dentro de uma cova que agora tinha tal profundidade, cuja altura das bordas lhe chegavam ao pescoço, enquanto Bela, se via de braços cruzados sem derramar um pingo de esforço à beira do buraco sendo cavado. Impaciente, fitava o céu, o chão e as árvores à procura de um entretenimento inexistente no tédio da espera.

- O caixão está muito fundo ou o quê? -Perguntou, impaciente.

O sujeito parou com respiração pesada, deixando a pá de ponta cabeça, apoiando as mãos em sua base afim de um descanso cabisbaixo.

BELA TALBOT - Uma Corrida Contra O TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora