Foi com força e uma certa imprudência que o impala freou bruscamente na Lacost Street, no mesmo bairro de Gert, parando de frente a um portão absurdamente alto com lanças pontudas. Nele, habita uma placa de "Proibido Estacionar", guardando a entrada de um casarão de luxo qualquer.
Bela desligou o carro, tomando um momento para se ver no retrovisor. Aparência impecável, como sempre. Mandou um beijinho ao seu próprio reflexo antes de alcançar o porta luvas. O abriu facilmente, até demais, a portinha despencou deixando cair um monte de tralhas entre o banco do passageiro e o chão. Papéis, embalagens de comida vazias, um encadernado grosso e cheio de recortes colados e por fim, uma caixinha de metal que mais parecia um cofrinho, só que não era.
Esticando-se, pegou do chão a tal caixa, pondo-a sobre o colo. A tampa era solta, sem nenhum tipo de tranca. Dentro, haviam incontáveis documentos, todos com as fotos dos garotos, fraudados como "FBI", "Vigilância Sanitária", "Médico Legista", "Controle De Pragas", "Encanador", "Repórter da CNN", incluindo distintivos falsos de guardas florestais, patrulheiros e até Xerife.
- Nossa, não é a toa que são fora da lei. -Embaixo de todos, havia um papelzinho amassado com uma escrita em caneta, aparentemente recente: "Nothern Street, 155". Um endereço conhecido pela mercenária, se tratando da periferia de Harbor. - Não me lembro de ter um Hotel nessa rua... -Indagou, guardando o papel em seu bolso. Retornou a caixinha ao porta luvas, apanhando no banco do passageiro, o encadernado.
A capa parecia couro, na verdade, estava mais para um fichário pequeno com trocentas folhas adicionadas, todas escritas a mão, com ilustrações as vezes em desenhos de caneta e outras, compilados de recortes. A primeira página seguia simples, como um diário:
"16 DE NOVEMBRO DE 1983"
- "Fui à Missouri e descobri a verdade. Através dela, conheci Fletcher Gable, que me deu este diário e disse "Escreva tudo". Foi o que Fletcher me disse, como se essa nova vida fosse uma escola e eu pudesse repetir de ano se não fizesse boas anotações. Só que, se eu repetir nessa escola, eu morro. E então os meninos ficam órfãos. Vou voltar a onde tudo começou.
Há duas semanas, minha esposa foi assassinada. Eu a vi morrer, presa no teto do quarto do Sammy, o sangue pingando no berço dele até tudo pegar fogo - com os olhos voltados pra mim enquanto morria. Na semana anterior, éramos uma família normal. Jantávamos, íamos a partida de T-BALL do Dean, comprávamos brinquedos pro Sammy. Mas, em um instante, tudo mudou... Quando tento pensar nisso, entender... Sinto como se estivesse enlouquecendo. Como se alguém tivesse arrancado meus braços e meus olhos. Estou vagando sozinho e perdido, e não posso fazer nada..."
Basicamente, dava pra entender que se tratava do Pai dos meninos contando sua jornada, quase todas as páginas inciais narravam seus dias de agonia e terror ao lidar com a morte da esposa, "Mary", que teria sido encontrada grudada no teto sobre o berço do pequeno Sammy. As palavras também descreviam um tremendo objetivo de vingança contra a "Coisa" que a matou, contando inclusive como foi difícil criar os meninos sem a mãe, treinando-os numa vida baseada em caçar e aniquilar qualquer ser "sobrenatural" ou fora deste mundo. Folheando as páginas despretensiosamente, Bela se deparou com várias coisas relacionadas ao Ocultismo, como descrições detalhadas de criaturas como "Ceifadores" - Os seres que supostamente levam as almas dos mortos para o outro plano, seja céu, inferno ou limbo. Anotações sobre espíritos, em como o sal os repele -Bela até sorriu nesta parte, lembrando-se de quando aprendeu tal artimanha, esta que usou a pouco tempo inclusive para manter o espírito da tal "Amanda" longe de seu quarto. Mas, entre uma olhada aqui e acolá, não conseguiu conter o gelo na espinha ao se deparar com um desenho feito à mão de uma fera canina. Abaixo, escrito "CÃES NEGROS" - E um sumário sobre a criatura. Isso lhe despertou um certo terror interno, o coração acelerou automaticamente, o que a fez fechar o diário em aversão e devolvê-lo as pressas para o porta luvas, assim como todos os outros papéis que caíram ao abri-lo, dos quais catou com pressa, apanhando o máximo que conseguia fazer caber nas mãos, livrando-se deles ao fechar a portinha com força.
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BELA TALBOT - Uma Corrida Contra O Tempo
TerrorConheça Bela Talbot, uma caçadora de artefatos mágicos raros, que atua como mercenária no campo do ocultismo. Armada e perigosa. Uma ladra, traiçoeira, egoísta e venenosa. Mas, será mesmo? Graças a tragédias que se abateram em sua vida, Bela descobr...