BELA TALBOT - Uma Corrida Contra O Tempo

19 - Estrada Para O Inferno

Longe de casa, seria uma viagem muito longa pra fazer de uma vez. Ponto positivo, não precisaria ir até New Orleans em busca do amuleto. Pelo que Dean indicou por telefone, ele e Sam estavam pouco mais de 100 milhas de distância, o que daria a Gordon algumas horas até encontrá-los. Isso se os encontrasse... Não é como se ele pudesse sair perguntando se alguém viu Sam e Dean Winchester, dois procurados pelo FBI e ele, um antes prisioneiro. Ela tinha Dean em mente, e queria, mas não conseguia tirar da cabeça a loucura que Gordon atropelava com a insanidade quando a apontou a arma. "Sam Winchester é o Anti-Cristo". Como se o mundo precisasse de mais isso, como se já não houvessem demônios demais à solta. Mesmo que incoerente e visivelmente perturbado mentalmente, ele parecia acreditar nisso. Sabendo do que sabe, Bela tinha certeza de que caso houvesse um confronto, Gordon não teria chance contra os garotos. Não se todos os boatos sobre os dois fossem verdade. E a julgar pelo jeito em que os Winchesters resolvem os casos, era bem provável que já estivessem longe quando ele chegasse. "Oh, merda, eles ainda estarão lá" -Pensou, preocupada. Desde que na ligação, ela havia pedido a localização deles mentindo sobre encontrá-los ao propor um jantar amigável, um tipo de agradecimento em dobro pelo fiasco com o Navio Fantasma. "Será que Dean acreditou?"

Quase quatro da manhã e ela na estrada, esquentando a cabeça com um milhão de coisas. Como teria coragem para invocar o Diabo numa encruzilhada? Sra. Bernick querendo ou não a assustou com a ideia, ainda que sem más intenções. O tempo acabando e o inferno chegando. Amendoim sozinho no apartamento. Invocar um demônio que pode ficar enfezado. Falar com Mark. Ligar pro Dean... Ligar pro Dean? Isso não parece boa ideia. E se ela avisar os rapazes sobre Gordon e ele, frustrado por não os encontrar, vir atrás dela para matá-la sem piedade? 

"Você mentiu, Bela, eles não estavam lá". 

E a questão do - "Ele já me achou uma vez, vai poder me achar de novo, ele vai vir atrás de mim, sei que vai."

Não, é melhor não. Talvez amanhã. Amanhã? Tem um amanhã! E é preciso descansar pra tentar tirar tudo isso da cabeça. Acelerou um pouco mais ao avistar no lado da contra-mão, um motel de beira de estrada. A julgar pelo letreiro em neon vermelho, há vagas. É isso.

Ao cruzar a pista e descer o carro pelo estacionamento, que mais parecia um ferro velho abandonado por causa de barras de ferro jogadas em montinhos próximos a caminhões, imaginou que tipo de espelunca a aguardava. Ainda, melhor que dormir no carro. Diminuiu a velocidade ao se preparar para estacionar o mais próximo o possível da porta da recepção. "Se alguém roubar o carro, o gerente vai ver, não tem como ele não ver". De leve, foi freando ao avistar lá dentro não um homem, mas uma moça atrás do balcão. Fazendo uma bolha gigantesca com chiclete enquanto lia uma revista Teen, a maltratada de quase 30 anos mas que se vestia igual a uma pop star dos anos 80, nem pareceu notar os faróis que brilharam através da porta de vidro. Inferno, ela nem percebia que era brega, quem dirá o cliente "Indesejado". Se alguém roubar o carro, com certeza essa imbecil não vai notar. 

Não foi uma parada delicada, um solavanco repentino balançou o carro ao final da parada total na vaga mal desenhada. O impacto parece ter vindo de uma das rodas traseiras.

- Mas o quê?! -Mirou no retrovisor, não avistando nada além do normal. Instintiva, engatou a ré bem devagar, sentindo a roda se desvincular do que quer que havia passado por cima, e parou, puxando o freio de mão. Bolsa? Ok. Chaves? Retiradas da ignição. Pôs-se pra fora do veículo travando as portas antes de batê-la. Investigativa, inclinou-se curiosa e até preocupada pela lateral do carro, procurando por qualquer coisa diferente na roda traseira. "Por favor, não esteja furada". Nada de furo, porém, na frente do pneu, quase debaixo, via-se o que a princípio era um chumaço de cabelos pretos. Ao se ajoelhar, um espanto.