24 - Um Novo Começo

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Interrogatórios são sempre inconvenientes.

Foi ali, aos quatorze anos sentada numa cadeira dura, frente a uma mesa metálica e gelada dentro de um cubículo sem janelas, que foi interrogada pra valer pela primeira vez na vida.

Se não estivesse ciente da situação, acharia que era uma prisioneira no corredor da morte ou alguém prestes a ser condenado num futuro tribunal.

Eram eles, as pessoas de terno que Chapelle havia falado sobre. A levaram às pressas e forçadamente para sua suposta instalação. Com um saco de pano em volta da cabeça por toda a viagem de carro, a impediram de ver o caminho. E com os pulsos presos por um "enforca-gato", não tinha como resistir. Jamais esqueceria do terror daquela situação de "Sequestro". Podia imaginar sua foto passando nos jornais após ter seu corpo encontrado em alguma vala.

Não foi o caso, mesmo que isso não a tranquilizasse tanto.

E agora era tudo cinza. Quatro paredes e o frio do ar condicionado. Mesmo que pequeno, o cômodo provocava um certo eco quando alguém falava. O barulho escruciante da cadeira à frente do outro lado da mesa se fez, com os quatro pés sendo arrastados antes do homem terminar de ajeita-la e se sentar, tascando os cotovelos sobre a superfície prateada da mesa, portando-se como quem via um grande obstáculo à diante.

Abby não o olhou diretamente, não conseguiu. De lágrimas secas nas bochechas inchadas e total desesperança após o grande trauma, fixava a atenção num ponto invisível e distante, para onde queria escapar de tudo e todos. O homem começou a falar:

- Perdoe-nos pela inconveniência. Só fizemos o necessário.

Nada, nenhuma reação.

- Quer uma água ou alguma coisa?. -E nada, de novo. Só que desta vez, ele proferiu mais preocupado. - Você pode me ouvir, mocinha? -Indagou, diante da pose paralisada e catatônica da adolescente. - Hey! -Estalou os dedos, finalmente arrancando uma reação da jovem, que piscou de susto ao ser puxada de volta a realidade, ainda que aparentemente distante. - Quer me contar o que aconteceu?

Ela sinalizou um "Não" com a cabeça, segurando o choro.

- Você sabe o que foi que houve, certo?

- Acho que sim. -Ele ficou surpreso com a fala emburrada, fitando a parceira que assistia a tudo, esta, uma moça também de terno, calada no canto e de mãos dadas consigo mesma.

- Não precisa me contar o que não quiser. -Prosseguiu ele. - Só me esclareça o que for possível, por favor.

- Aquilo veio do inferno. -Afirmou em meio a uma ameaça do choro.

- O que veio?

- Eu... eu não sei o que era... Aquilo matou ela! -Abaixou a cabeça, entregando os primeiros soluços.

- Seu nome é Abernathy, não é? Mary Chapelle nos chamou. Sabe por que ela fez isso?

- Porque eles querem me matar.

- Quem quer te matar?

- Aqueles demônios... -Murmurou, antes de ter um ataque histérico. - Eles são demônios! É de verdade! Eu não queria acreditar mas depois do que fizeram... -Engoliu as palavras, tampando a boca de desespero.

- Você está segura agora.

- Como?!... Como eu poderia estar segura?

- Nada nem ninguém irá entrar aqui. Este é um lugar protegido. Ninguém que queira te machucar vai encontrar você aqui. -Ele tentou alcançar sua mão, talvez para fazer alguma carícia em forma de conforto. Gesto este que ela recusou, puxando os pulsos para si como se o toque fosse uma ameaça:

BELA TALBOT - Uma Corrida Contra O TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora