Foi de madrugada que finalmente chegou ao seu destino. Pittsburg, Hotel Ox Road.
Estacionou entre muitas velharias, desdenhando do local que tinha cara de ser ponto de pervertidos traidores de esposas, lembrava até o "Motel Bates" do filme "Psicose".
Não conseguia tirar Chapelle da cabeça. Imaginou que se tivesse conseguido chegar a feiticeira, ela também teria o mesmo fim que a velha amiga ou pior, que o demônio se enfureceria e a arrastaria para as profundezas do inferno antes do programado. Tinha uma oportunidade de livrar a barra e usaria ao seu favor, mesmo que isso significasse roubar dos caçadores mais uma vez.
Estranho até, caçadores sempre a procuravam, a tinham como uma "Muambeira" geral para coisas do oculto, selando tratos em beira de estradas ou cafés, com ela vendendo amuletos e/ou armas. Essa era a primeira vez em que se via em problema com eles. Nunca havia precisado roubar um caçador, exceto pelos Winchesters. E aqui estamos nós de novo na mesma situação desagradável. Se Dean sequer desconfiar... Está tudo acabado.
Quarto 65, foi o que Dean disse no telefone. "É isso"- Confirmou ao se dar com o número gravado na porta. Com receio de que talvez estivessem dormindo, bateu com força e repetidas vezes. Escutou movimentação do lado de dentro, o que já era um bom sinal. A porta se abriu repentinamente mas só pouquinho, uma brecha minúscula por onde reconheceu os olhos verdes que a encararam meio bravos, era Dean. Logo, o rapaz desapareceu por um instante, até chegou a pensar que ele bateria a porta em sua cara, o que felizmente acabou sendo o contrário. Ele a escancarou, anunciando-a como um vendedor de carros:
- Bela, em carne e osso! -Só faltou o típico "senhoras e senhores".
- Você ligou pra MIM, se lembra? -Enfatizou, pondo a certeza de ser alguém que nunca deixa um "cliente na mão". Adentrou com um sorriso convincente, decidindo por não reparar na pobreza do ambiente pelo seu bem psicológico. Parou um instante no meio do recinto para abrir o zíper da bolsa, enquanto Dean a encurralou mais uma vez com sua atitude de macho alfa após fechar a porta.
- Eu me lembro que você me deu um fora. -Certamente ele não esperava que ela fosse aparecer.
- Bem... -Amansou. - Eu sou cheia de surpresas. -Virou-se rapidinho a espreitar o restante do quarto, encontrando Sam sentado numa cadeira frente a uma cômoda com alguns livros velhos do qual o rapaz usava como mesa. Ele parecia sem jeito e extremamente desconfortável, acenou com a mão e com uma cara de quem está segurando um peido ou algo assim:
- E aí Bela, o que manda? -Acoado e acanhado. Até um pouco fofo, pensou ela, esperava dele uma recepção mais calorosa. Bela não teve muito o que fazer a respeito, devolveu-lhe um sorriso de cumprimento, tornando-se a Dean e sua pose incrédula ainda com a mão agitada dentro da bolsa.
- Eu te trouxe a sua raiz do sonho africana. -Entregou-lhe o pote, do qual ele pegou até um pouco impressionado. - Coisa desagradável. E nada fácil de descolar. -Pôs a bolsa em cima da tv velha, pronta para se sentir mais à vontade. "Jesus, é aqui que vou dormir?". Enquanto retirava o sobretudo, Dean não admirou o pote com um "obrigado" e nem com suspiro de alívio. Ao invés disso, atirou toda a desconfiança possível não medindo o corpo da mercenária, mas sim suas intenções. A fixava tão forte que parecia tentar ler sua mente em busca de alguma mentira.
- Por que de repente mudou de coração?
- O quê? Não posso fazer um favorzinho de vez em quando?
- Não! -Quase gritou. - Não pode.
"Quando a esmola é grande, o santo desconfia" é o que diz o ditado. E Bela tinha que manter a aparência e convencê-lo de sua boa vontade. Talvez tivesse a resposta na ponta da língua, ainda que a expressão "Que saco" tentasse fugir de seu disfarce.
VOCÊ ESTÁ LENDO
BELA TALBOT - Uma Corrida Contra O Tempo
HorrorConheça Bela Talbot, uma caçadora de artefatos mágicos raros, que atua como mercenária no campo do ocultismo. Armada e perigosa. Uma ladra, traiçoeira, egoísta e venenosa. Mas, será mesmo? Graças a tragédias que se abateram em sua vida, Bela descobr...