Ainda na estrada...
Que "beleza", um segundo desvio que vinha na forma de uma estrada de terra ampla, porém, vazia, se mostrou à direita. Nenhum carro vinha de lá. E provavelmente nenhum atrás do seu seguiria por ali também.
Não havia nada além de mato mal formado na borda do caminho, com vários espaços vazios de terra morta entre um montinho verde e outro. Quase como num deserto. Estranho, é o tipo de cenário que se encontra em Nevada, não Ohio.
Estendendo-se paralelo ao seguimento do desvio, em direção a uma infinita escuridão, os poucos postes trilhavam o caminho, assim como alguns cones laranjas e pedaços de fitas amarelas mal amarradas neles. Aquele trecho deve ser novo e provavelmente sendo preparado para ser asfaltado. As chances eram grandes, não, era certeza de que haveria algum cruzamento ao fim daquele caminho novo que levava ao "nada", dados aos painéis de obra bem ao fundo e postos bem espaçados um do outro no horizonte, centralizando o que poderia ser um sinal de que ali haveria um cruzamento com três ou até quatro ruas naquele eixo.
"É agora ou nunca?" -Quando virou o volante, foi arrebatada por aquela ansiedade comum de adrenalina. "É sério que vou fazer isso?" "Mas eu preciso!"
Entrou no desvio, rápida e em curva, igual a arrancar curativo. Dói menos e sobra menos tempo para dúvida quando se é mais rápido. Seguida por uma nuvem de poeira feita com os pneus traseiros, seguiu aos trancos e solavancos da obturada via de terra, mirando nos pontos luminosos dos painéis ao longe, piscantes em laranja e com palavras ainda impossíveis de ler, impregnadas, provavelmente "Cuidado" - à frente de uma paisagem escura de um paredão de árvores.
E dado as condições escorregadias de se passar por terra, freou antes da hora, afim de diminuir a velocidade sem riscos de derrapar no último minuto e acabar atropelando alguma coisa ou uma das placas. Os pneus rasparam com força, rugindo até a parada total, terminada com a lataria coberta pela nuvem de poeira marrom flutuando em volta do carro.
- É isso. -Encarou a caixinha metálica que fez o caminho em cima do painel, que veio sacudindo de vez em quando e até ameaçando cair algumas vezes. Podia ter guardado de novo no porta-luvas, mas não ter ela em vista seria torturante. Isso a atormentaria com a impossível possibilidade de ter perdido o objeto, vai entender. "Se não posso ver, sinto que posso perder ou que vai sumir a qualquer momento".
Freio de mão puxado, motor desligado, caixinha em mãos, tudo pronto? Não, ainda falta a foto...
Trouxe a bolsa até o colo, abrindo-a veloz, tirando a carteira ali de fácil alcance. No primeiro compartimento, nos buraquinhos que normalmente se guardam moedas, puxou para fora uma foto sua 3x4, uma de muitas, terminando por também depositá-la junto ao ossinho e a terra de cemitério, recém coletados.
"Rápido como curativo" - Saiu do carro, analisando o ambiente ao sinal de presença. Somente Bela e... Eu iria dizer "Só Bela e Deus", mas deixa quieto.
E sim, era um encruzilhada. Aquele trecho se chocava com mais três futuras estradas, à frente, e outras duas uma de cada lado. Um único poste, projetava luz formando um círculo amarelado naquele centro, onde cada uma das quatro entradas para cada caminho, inclusive a que veio, eram bloqueadas por painéis com pontos redondos levemente luminosos, como os sinalizadores de trem que servem como aviso. Deu a volta por um deles, adentrando ao "Círculo" cercante.
"Mesmo nos círculos do inferno, existe heroísmo para os companheiros pecadores que se apegam um ao outro no turbilhão de fogo e nunca se recriminam." -George Eliot.
Abaixou-se, tateando a terra ao começar a cavar um buraquinho. De nada importam as unhas feitas, elas foram úteis mesmo com a delicadeza. A minúscula cratera em forma de tigela que fazia, veio logo. Seria um pouco de exagero dizer que o solo abriu caminho para Bela, que a terra queria que o ato fosse concretizado, que até se tornou mais fofa para ser cavada, mas não seria de total absurdo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
BELA TALBOT - Uma Corrida Contra O Tempo
HorrorConheça Bela Talbot, uma caçadora de artefatos mágicos raros, que atua como mercenária no campo do ocultismo. Armada e perigosa. Uma ladra, traiçoeira, egoísta e venenosa. Mas, será mesmo? Graças a tragédias que se abateram em sua vida, Bela descobr...