prologo

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Luglio
(Julho)

Meus pés batem incansavelmente sobre o chão, antes possivelmente branco, agora sujo, da delegacia. O tique taque do relógio no alto da parede a minha frente só não é mais irritante do que a secretária, que bate com seus dedos furiosamente em um teclado enquanto estoura uma bola de chiclete a cada cinco minutos. Um soluço ao meu lado me faz desviar o olhar. A mulher baixinha e ruiva ao meu lado assoa seu nariz pela décima vez em um lenço de papel que segura com uma das mãos, enquanto com a outra, segura um terço orando para o Deus em que acredita. Quando a porta da delegacia abre e fecha mais uma vez, decido me levantar, já cansada da demora em busca de notícias.

— Com licença. - Chamo a atenção da secretária que me olha entediada - Você poderia me informar sobre...

— Garota eu já lhe disse, assim que tiver notícias um policial virá lhe chamar.

Minhas mãos se fecham em punho e respiro fundo tentando me controla e não pular em seu pescoço quando a bola de chiclete rosa estoura mais uma vez. Imbecil. Dou as costas e estou prestes a me sentar novamente quando o agente que me encontrou no hospital hoje cedo, entra na delegacia. Seu olhar cruza com o meu e seu leve aceno de cabeça me faz o seguir.

Caminhamos pelos corredores, em silêncio, enquanto eu tento retirar alguma cutícula inexistente em minhas unhas. Seus passos param em frente à sala com a denominação "delegado" e ele bate antes de entrar, assim que abre a porta, entro atrás do mesmo.

Olho ao redor enquanto o policial se aproxima da mesa do delegado. A sala é pequena e escura -apesar da luz acesa-, com alguns armários com possivelmente, arquivos rodeando-a, duas poltronas estão em frente à mesa ao centro, uma delas me é indicada e eu me sento sem protestar.

— Qual o seu nome? - O que, pelo que diz a placa em sua mesa, delegado De Luca, questiona.

— Anabela Coppola.

— E o que fazia na cena do crime senhorita Coppola? - Engulo em seco. Minhas mãos começam a tremer e me sento em cima delas, sei que qualquer sinal de fraqueza, será considerado suspeito.

— Luna e eu havíamos combinado de nos encontrar no Rock's, porém Luna atrasou, não atendia o celular e eu me preocupei porque Luna nunca se atrasava para nada, eu fui então até seu dormitório e bem, a encontrei, daquela forma... - Minha voz foi diminuindo o tom até sumir.

— Há quanto tempo conhece a senhorita Di Angelo? - Fez um sinal para o policial, que estava parado perto da porta, se aproximar. Não gagueje Anabela.

— Há dois meses, desde que fui transferida para cá... Me desculpe, mas o que aconteceu? Quando a encontrei no quarto eu liguei para a emergência, a acompanhei até o hospital, mas seu agente não me deixou ficar lá, como ela está? - O policial, quieto até então, solta um suspiro e para atrás de mim.

— Luna Di Angelo está morta. - Seguro o ar - Overdose.

Overdose? Não é possível que seja overdose, qualquer pessoa que conhecesse Luna saberia que ela era totalmente contra as drogas desde que perdera seu pai para o vício.

— Sabe se Luna Di Angelo possuía algum conhecido na cidade? - Nego com a cabeça para o delegado, seu olhar é ameaçador.

— N-não, não sei senhor. – Todos seus parentes vivem na cidade vizinha.

— É uma pena – De Luca pega um carimbo de dentro da gaveta, abre o arquivo a sua frente, em que consigo enxergar uma pequena foto de Luna, e carimba "arquivado". Ele então se levanta, dá a volta na mesa e abre a porta - Tem algo a mais a declarar senhorita Coppola? - Encarei-o, confusa.

É só isso? Sem mais perguntas? Sem interrogatórios? Investigar quem vendeu as supostas drogas, ou o motivo para ela usar? Dou risada mentalmente percebendo que estão encobrindo alguém. Está não é a primeira morte por, supostamente, overdose no campus, e sinto que não será a última.

— Não senhor. - O delegado sorri.

— Está liberada.

Do lado de fora da delegacia, enquanto encaro a chuva forte que cai a minha frente, me pego imaginando quem poderia ser o culpado de tudo isso e só um nome me vem à cabeça.

Apesar de nova na cidade, todos falam sobre os Ghostins, sobre seus envolvimentos com coisas ilícitas e por serem quem vendem as drogas na universidade, mas eles não teriam tanto poder assim para comprar a polícia local, teriam? A estudante de direito dentro de mim se agita.

Dean Bianchi e seus amigos estão envolvidos nisso e eu não irei parar até vingar a morte de Luna Di Angelo.

OverdoseOnde histórias criam vida. Descubra agora