trentuno

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Martedi

Solto um suspiro quando termino de ler a carta, e volto a dobrar o papel desgastado seguindo as marcas bem demarcadas, depois, aperto a carta contra o peito, sentindo as lágrimas que segurei desde que me sentei para ler, caírem pelo meu rosto e soluços que escapam de minha garganta, reverberando por todo o local.

Vim para o ginásio da piscina logo após jantar, por volta das oito, Zoe tentou vir atrás de mim, mas felizmente ela ainda estava na metade da refeição, já que escolhi começar a comer logo no primeiro horário para poder fugir para cá quando todos começaram a chegar para a refeição.

Eu enrolei o dia todo para ler a carta, temendo me desapontar mais com minha mãe ao ler o conteúdo, mas assim que Martina me parou no corredor entre as aulas para avisar da reunião de hoje à noite, percebi que não poderia mais enrolar, e fico feliz por ter lido.

Minha mãe me amava, sempre me amou, me acompanhou ao longe para saber se estava bem, ela se importava, fez tudo isso para me proteger e proteger Matteo. Um alivio me atinge, eu sei que tia Caterina já havia me dito, mas ler suas palavras...

Não sei quanto tempo se passa até eu conseguir parar de chorar e passar a alimentar minha raiva pelo meu pai, afinal, se ela se afastou foi por causa dele, mas ao mesmo tempo, ele só queria me proteger e... estou confusa pra caralho, por isso não ouvi quando a pessoa que se senta ao meu, entrou.

— Oi – Passo a mão que não segura a carta pelo rosto, secando as lágrimas antes de olhar para o lugar ocupado ao meu lado na pequena arquibancada. Dante tem os olhos preocupados em mim. – Estava chorando?

— Não. – Respondo e guardo a carta no bolso do casaco. Ouço Dante suspirar ao meu lado, mas mantenho o olhar fixo para a piscina coberta por uma lona a nossa frente.

— Podemos conversar? – Não respondo, mas ele provavelmente sabe a resposta, e a ignora mesmo assim: - Não quero que me odeie para sempre. – Solto um riso.

— Você só se aproximou de mim por causa da carta, não seja hipócrita. – Digo, prevendo que ele dirá a mesma coisa que os outros: a gente pode ter te usado, mas você também nos usou.

— Mais ou menos – Curiosa, olho para ele pelo canto de olho, mas, por estar de cabeça baixa, só consigo enxergar a touca do moletom vinho que usa – Antes que me chame de pervertido, a bebida na sua roupa na festa foi um acidente – Reviro os olhos, lembrando de seu olhar em meus peitos – Mas foi a primeira vez que te vi tão de perto, e te achei gostosa – Ele dá de ombros, enquanto eu faço uma careta – E apesar de ter tentado investir em você – Agora meu corpo está virado totalmente em sua direção, então consigo ver quando ele dá de ombros. – Não foi só por isso que me aproximei, nem pelo pedido de Antonella.

— Por que então?

— Eu quis proteger Dean – Minha careta agora se tornou uma expressão confusa. Dante solta uma lufada de ar e ergue a cabeça, mas mantem o olhar longe do meu, para a frente – Desde criança a gente sempre foi temido pelas pessoas da cidade, e apesar de nunca ter dado a mínima para isso – Ele realmente não deve ligar muito para isso, afinal, toda vez que o tratei feito merda, ele surgia de novo com uma piada ridícula – Dean dava, mas só fomos descobrir isso quando a única namorada dele deu um pé na bunda dele – Arqueio as sobrancelhas, surpresa. Dante me olha assustado. – Não deixe ele saber que você sabe disso.

— Ok, eu acho.

— Não acredito nem um pouco em você – Dou de ombros, o que o faz revirar os olhos – Enfim, desde então ele passou a querer abraçar tudo, se alguém se metia com um de nós, ele tomava a frente para resolver a situação, se algum garoto zombava da sexualidade do Pietro, ele ia atrás e espancava o cara. – Ele faz uma careta.

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