quattro

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A SMD se localiza no topo de um rochedo, e sinceramente, o único ponto positivo disto é a vista. Nenhum ônibus sobe o rochedo, por ser uma área particular, então, temos que descer todo ele para conseguir chegar ao ponto a mais dois quarteirões de distância. Esse nem é o grande problema. O problema é a subida, contra a gravidade, aquela subida é tão íngreme que só de olhar, causa exaustão.

Para piorar, os carros de aplicativo cobram uma fortuna para vir até essa costa, então, se eu conseguisse um emprego o mais perto possível, sairia, literalmente no lucro -apesar de ter de pagar para subir-.

Desci todo o rochedo a pé, com o curriculum em mãos, andei pelas ruas mais próximas da universidade, e comecei a entrar em alguns comércios, procurando algum emprego.

Não tive sorte, porém, a cada não que eu recebia, o papel amassado no bolso da minha calça jeans parecia queimar e temia que minha calça pegasse fogo a qualquer momento. Quando deu três da tarde, suada, sem ar e já quase chegando ao centro, eu finalmente aceitei que não teria outra opção senão ir ao local que Dante me indicou.

Na verdade, ainda pensei em outras opções: fugir de Suvellié, pedir um empréstimo no banco, ou a pior, procurar meu pai.

Retirei o papel amassado do bolso da calça jeans e busquei o endereço na internet, seguindo as coordenadas até o local.

"Roccia Ribelle: Lanchonete e Bar"

É o lugar do endereço. A lanchonete/bar ocupa quase um quarteirão todo, as paredes da fachada, que circular as duas grandes janelas e a porta de vidro no centro, são de um tom escuro de vermelho e há um toldo preto acima da porta, onde está pendurado a placa com o nome do local. Assim que abro a porta, o som de um sino soa acima da porta e um frio vindo do ar condicionado me atinge, o dia não está quente, normal nessa época do ano, mas após horas andando, o ar gelado é muito bem-vindo.

As paredes do lugar e o chão são brancos, as primeiras são decoradas por placas de carros e escritas em neon vermelho, o que permite maior destaque as mesas pretas e estofados vermelhos entre elas, já as espalhadas pelo salão são de cadeiras e mesas comuns de madeira pintadas de preto.

O grande balcão oval do lado oposto à entrada  é preto e com o tampo da mesma cor da fachada e das banquetas em frente a ele, atrás dele e à frente de uma grande prateleira recheada de bebidas coloridas ao redor da janela de pedidos da cozinha, há uma ruiva limpando o balcão. O lugar é bem bonito no geral e não está tão cheio, como a ruiva não parece tão ocupada, me aproximo dela.

Sento em um dos banquinhos e coço a garganta, fazendo a ruiva levantar a cabeça e me olhar. Mais de perto, reparo que seus cabelos ruivos são tão claros que quase chegam a serem loiros, eles são longos e estão presos no topo da cabeça por um lenço vermelho, da mesma cor do cropped de alças de seu uniforme e do seu batom.

— Bem vinda ao RR, o que vai querer hoje? – Ela pega um bloquinho do avental preso a sua cintura e se prepara para escrever.

— Um emprego, na verdade. – Ela ergue uma sobrancelha clara, confusa, então volta a guardar o bloco com a caneta.

— Não temos vagas. – O pano está de volta em suas mãos e ela esfrega uma mancha, do que parece ser mostarda, a minha direta.

— Ah – Solto um suspiro e largo a pasta com meu curriculum em cima do tampo, exausta – Merda, eu vou matar Dante. – Resmungo, mas a garota parece ouvir, já que para de esfregar com força a mancha amarela e ergue o olhar para mim.

— Dante? – Me olha com interesse. – Qual seu nome?

— Anabela Coppola. – A garota larga o pano e me olha surpresa.

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