cinquanta

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Meus pés batem incansavelmente sobre o chão branco do hospital.

O abre e fecha de portas, as rodas rolando de macas e o vai e vem de pessoas é apavorante, mas nada é pior do que o choro, o choro dos que receberam a notícia de que não conseguiram salvar o ente querido, o choro de desespero por estar sem notícias a horas e o choro dos que estão feridos.

Um médio entra na sala de espera e me levanto, junto com outras três pessoas, mas ele só vai até um de nós. Solto um suspiro e passo os braços ao redor do meu corpo quando o frio da porta de entrada sendo aberta me atinge, o jornal da manhã não estava brincando quando disse que essa seria a tarde mais fria do mês, e me arrependo de não ter vestido uma roupa mais quente quando acordei esta manhã, mas como eu saberia que no final do dia, ia acabar em um hospital?

Volto a me sentar na cadeira de metal fria e me curvo, apoiando os cotovelos no joelho. Uma jaqueta é colocada sobre meus ombros e eu olho para o lado a tempo de ver Matteo ocupar a cadeira ao meu lado.

— Como ela tá? – Ele pergunta enquanto ajeita a jaqueta para que me cubra por inteira. Puxo a lapela dela e me encosto na cadeira, minha cabeça deitando em seu ombro.

— Eu não sei, ela tá lá dentro há mais de duas horas. – Respondo com a voz rouca, parei de chorar a apenas alguns minutos.

— Odeio hospitais – Ele resmunga, o corpo rijo abaixo da minha cabeça.

— Passei meses indo de um hospital a outro procurando minha mãe. – Seu braço me rodeia e ele me abraça.

A porta se abre novamente, o frio voltando a me atingir, mas desta vez, ela traz Martina, Pietro, Ettore, Francesca, Zoe e Dante, que lidera o grupo junto com Dean que sumiu do prédio após a ambulância e Matteo chegarem. Assim que me veem, Fran e Zoe correm na minha direção e quando sinto seus braços ao meu redor, sinto que posso desabar novamente.

— Não acredito no que está acontecendo – Fran murmura e se senta ao meu lado, Zoe ocupa a cadeira do outro lado, desocupada por Matteo – Quero dizer, Kaori? Ela nem estaria na minha lista.

— Eu fui burra – Murmuro e encosto a cabeça contra a parede, vejo que os outros se amontoaram ao nosso redor – Minha raiva por ela me fez esquecer de seu aniversário e...

— Não diga isso – Matteo me interrompe – Ela estava com Zach, ela nunca seria uma de nossas opções.

— E você não tem culpa disso – Zoe continua – Quem tem culpa são eles – Se referem ao bando de filhos da puta responsáveis pelas mortes.

— Mas se ela... morrer – Engulo em seco – Eu não vou conseguir não me sentir culpada. – Todos ficam em silencio por longos minutos, somente o som do hospital ao nosso redor se fazendo presente.

— Nenhuma notícia dela? – Nego com a cabeça para Dante.

— A última coisa que soube foi que a levaram para fazer lavagem. – Desvio o olhar para Pietro quando o vejo bufar.

Olhando agora pela primeira vez para ele, ele parece tão... destruído, olheiras visíveis e rosto fundo de quem não dorme e não come a dias, mas talvez, tudo seja por causa da abstinência, porém, não sei o motivo de Martina estar em estado parecido.

— Não sei o que estamos fazendo aqui – Franzo o cenho para sua afirmação, ao seu lado, vejo Ettore e Dean trocarem um olhar de alerta – Vocês sabem quem fez isso, não sabem? – Ele me olha, esperando a resposta, mas é Dean que responde.

— Eu já disse Pietro, não sabemos se foi realmente Zach, ele só estava no prédio minutos antes e...

— O caralho que não sabem – Pietro o interrompe, sua voz saindo em um quase grito, atraindo olhares irritados em nossa direção – Vocês estão é com medo de ir na polícia denunciá-lo, mas querem saber? Eu mesmo faço isso.

OverdoseOnde histórias criam vida. Descubra agora