trentaquattro

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Giovedi

Só voltei a ver os Bianchis na quarta-feira durante o intervalo. Zoe vinha trazendo algumas colunas de fofoca do Sacro Pettegolezzo com a desculpa de que queria ajudar uma garota Locuste que cuida da coluna sozinha. A Sacro publica uma coluna por dia, e Zoe havia trazido apenas as mais recentes e já havia lotado nosso quarto de papéis, mas não havíamos conseguido ler nem metade.

Solto um pulo na cadeira quando as cadeiras vazias ao meu redor e ao redor de Zoe, são arrastadas e pessoas ocupam o lugar. Paro o caminho da minha colher com pudim a boca, e olho para Martina, Pietro, Dean, Dante, Matteo e Ettore que olham bravos para nossa direção. Mãos batem na ponta da mesa do meu outro lado e Zoe solta um grito e desvia o olhar.

Francesca está com ambas as mãos apoiadas perto de nós, na ponta da mesa, uma cadeira de distância que o pequeno grupo, curiosamente, preferiu evitar sentar. Fran veste um casaco de lá branco, até o joelho, por baixo dele, uma calça jeans boca de sino preta e uma blusa laranja, seus cabelos ruivos caem ao redor do rosto quando ela se inclina sobre a mesa, passando os olhos por cada um de nós com atenção.

— Quem vai me contar a verdade primeiro? – Franzo o cenho e volto o olhar pelo grupo, parando em Ettore que desvia o olhar e engole em seco. Solto um riso e levo a colher a boca, comendo meu pudim de chocolate – Anabela? – Dou de ombros por estar de boca cheia e aponto com a cabeça para Dean. – Dean?

— Por que nos tirou de nossa mesa? – Ele retruca com outra pergunta. Fran bufa.

— Por que eu sei que todo mundo nessa mesa está mentindo para mim – Ela praticamente rosna. Eu nunca vi Fran brava, mas essa sua versão é fofa – Dá para pararem de me olharem com cara de bunda? – Ela quase grita e bate na mesa com força. Engulo em seco o pudim e quase engasgo com o susto. – Se não me contarem, eu vou rasgar isso aqui em pedacinhos.

Fran retira um papel grande enrolado e quando reconhecemos que é o mapa do hospital, todo mundo segura o ar quando Fran faz menção de rasgar.

— A gente tá investigando as mortes por overdose no campus. – Dante, sentado ao meu lado, se inclina pra frente e sussurra para Fran, que arregala os olhos.

— L-letitia? – Ela gagueja.

— E outras quatro garotas – Dante acrescenta – E quem resolveu te esconder isso foi Ettore.

O olhar raivoso de Fran segue para o namorado, que tentava se esconder atrás de Dean. Me encosto contra a cadeira e impeço um sorriso debochado de abrir, olhando ao redor, reparo que todo o refeitório encara nossa mesa, o usual barulho alto do lugar, agora um murmuro baixo.

— É melhor a gente conversar lá fora. – Zoe murmura.

— Você – Fran aponta o rolo de papel para Ettore. – Lá fora, agora.

— Olha...

— Ettore! – Fran grita, e a cena mais bizarra acontece:

Ettore se levanta com pressa, fazendo a cadeira em que estava cair contra o chão e um barulho alto soar pelo lugar, então, ele segue apressado em direção a porta do refeitório. Fran olha para a gente, e imitamos o gesto de Ettore, parecendo um bando de crianças levando bronca da mãe.

No gramado do lado de fora, Fran anda para lá e para cá enquanto associa tudo que falamos do plano até agora após xingar todo mundo, vou perder a próxima aula pelo jeito. Fran finalmente para de andar, olha para a gente e depois para o mapa.

— Ok, como isso vai ser?

— Você conseguiu o cartão? – Matteo pergunta. Fran assente e retira um cartão do bolso, mas não permite que ninguém pegue.

OverdoseOnde histórias criam vida. Descubra agora