trentasette

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Venerdi

São oito da manhã quando meu celular começa a tocar na mesa de cabeceira ao lado da cama e me desperta. Solto um suspiro e me viro, tateando a madeira atrás do telefone, a luz do sol machuca meus olhos e eu praguejo antes de atender a ligação, tenho aula só às dez e planejava recuperar a noite mal dormida na cadeia até às nove e meia.

— Alo? – Resmungo e deito de barriga para cima.

Que merda você fez? – Porra. Solto um suspiro e levo a mão a testa, me preparando para os xingamentos e gritos.

— Muitas coisas na verdade.

Anabela Coppola Vitalle. – Ergo as sobrancelhas, em completa surpresa.

Não ouço meu pai me chamando pelo nome completo desde quando eu capotei com um carro aos dezessete anos e ele foi me ver no hospital, se eu não tivesse saído do carro antes dele rolar morro abaixo, eu provavelmente teria morrido, e ele repetia isso várias vezes aos gritos após verificar que sai, milagrosamente, apenas com poucos arranhões, uma costela fraturada e uma perna quebrada. Ok talvez não "apenas".

Acontece que ele sempre evitava me chamar com o sobrenome de Isobel, mas quando o acontecia, era porque ele estava tão puto que poderia sair atirando para todos os lados, o que felizmente nunca aconteceu.

Você foi presa. – Volto a prestar atenção após ele gritar vários palavrões.

— Ah, isso...

"Ah isso?" – Ele grita, e eu afasto o celular do ouvido – Você foi em cana e me fala "ah isso?" – Ouço sua respiração pesada. – Você enlouqueceu?

Respiro fundo e afasto o edredom, me sentando com as costas apoiadas na cabeceira de madeira da cama. O quarto está silencioso, a cama de Zoe arrumada com perfeição, mas ainda sinto um cheiro de seu perfume no ar, provavelmente ela saíra há poucos minutos. Quando prevejo outra leva de insultos de meu pai, perco a paciência:

— Você tá falando sério? – O interrompo – A gente não se fala a quase três meses, e a primeira coisa que quer fazer é me xingar? – Solto um riso. – Você me conhece merda, sabe que eu não faria algo estupido.

Como correr em rachas ilegais e ser presa? – Mordo o lábio, pega no pulo.

— Eu corria para aliviar as merdas que acontecia em casa, por sua culpa – O ouço engolir em seco – E fui presa por algo que não me arrependo, e não foi por machucar alguém ou fazer algo que poderia ferir pessoas, como você sempre frisou para eu evitar. – O ouço suspirar, parecendo finalmente cair em si.

Por que você foi presa? – Reviro os olhos, deveria ter começado com essa pergunta papai.

— Porque Zach é um ex namorado filho da puta que meteu tanto chifre em mim que perdi a conta, e está tendo um lance com Kaori, minha ex melhor amiga, e chegou em um ponto que eu não aguentava mais guardar tanto rancor dentro de mim e decidi aliviar.

Correndo?

— Não! – Quer dizer, eu corri antes disso, mas ele não precisa saber. – Invadi o vestiário da arena com umas amigas e destruímos os armários e os pertences dele.

Hm, ele mereceu então – Reviro os olhos com seu tom de "não to nem aí", completamente falso, pois sei que ele se sente orgulhoso por dentro – Foi presa por invasão e dano ao patrimônio privado então? – Afirmo com um murmuro. – Quem pagou sua fiança?

— Ah – Passo o dedo pelo bordado do edredom. – Um amigo aí.

Amigo? – Ele solta um riso indignado – Quer que eu acredite que conseguiu sair tão fácil assim da delegacia do maldito De Luca com a ajuda de um amigo? Por favor, qual maldito Bianchi te ajudou?

OverdoseOnde histórias criam vida. Descubra agora