diciassete

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Domenica

Assim que acordei do meu cochilo pós almoço no domingo e vi várias roupas jogadas pelo quarto, me arrependi imediatamente de ter aceitado a oferta de Vincenzzo.

— Isso não é um encontro. – Reclamo, deitada na cama enquanto ela revira meu armário.

— É um encontro. – Reviro os olhos.

— Que você marcou por mim.

— Vamos voltar a isso? – Pergunta, olhando por cima do ombro.

— Não. – Faço careta. K joga uma calça jeans preta e uma blusa azul escura de manga comprida e decote em v em cima de mim.

— Pode ser? – Dou de ombros.

— Tanto faz. – Sento na cama, tentando tomar coragem para me arrumar. Falta apenas meia hora para me encontrar com Vincenzzo, e eu estou totalmente sem vontade.

— Se anime, tente aproveitar e esfriar a cabeça. – Tenta me animar. Respiro fundo e me levanto, passando a trocar de roupa.

— Eu poderia perguntar se ele tem algum amigo para você ir junto. – Tento, mas K revira os olhos e se senta em sua cama.

— Encontro duplo? Eca – Ela desvia o olhar. - E eu tô saindo com alguém, você sabe.

— Não sei, na verdade – Abotoo a calça e levo às mãos a cintura. – Você nunca fala sobre isso, quando eu pergunto, desvia do assunto, nunca me apresentou a ele, e eu aposto que essa pessoa tem a ver com suas sumidas.

— Em partes – Dá de ombros. – Eu só... não tenho certeza se isso vai durar, por isso não quero te apresentar a ele.

— Isso nunca te impediu de me apresentar a algum ex namorado ou até a um caso de uma noite. – Termino de me vestir e calço uma bota com salto.

— Eu só não quero falar ainda, pode respeitar isso, por favor? – Respiro fundo. Algo me diz que tem algo de errado com esse "namoro" de Kaori, mas não posso cobrar dela quando também estou escondendo coisas.

— Eai? – Pergunto e abro os braços.

— Arruma esse cabelo, tá com cara de quem acabou de acordar.

— É porque eu acabei de acordar – Ela revira os olhos, vou até o banheiro e pego minha escova de cabelos. – Eu só nunca vi esse cara na vida.

— Você anda com traficantes e possíveis assassinos, tem algo mais assustador do que isso? – Abaixo a escova, sem respostas para isso. Faço gargarejo com o enxaguante bucal e quando volto a erguer a cabeça, franzo o nariz. Meu rosto está inchado e vermelho por conta do cochilo, por isso passo um pouco de base, contorno meus olhos com um lápis de olho azul escuro e finalizo com um batom rosa claro.

— Vou indo. – Pego a jaqueta de couro recém comprada pendurada na porta do armário, e que não tive tempo ou vontade de usar antes, o celular e algum dinheiro.

— Canivete? – Murmuro um obrigada antes de ir atrás do instrumento.

Vincenzzo chega às sete em ponto, veste uma calça jeans clara e um moletom laranja escuro que me fez querer rir por causa de seu cabelo. Ele nos leva em seu carro ao cinema no único shopping da cidade no centro, o lugar, como previsto, está lotado e levamos vinte minutos só para comprar os ingressos para um filme de terror. Duas horas mais tarde, acabamos parando em um restaurante de comida chinesa.

Tudo está ótimo até agora, mas provavelmente apenas porque mal tivemos tempo de conversar sobre outras coisas senão sobre o filme. Enquanto o espero voltar do banheiro, tento segurar os hashis e levar um jiaozi a boca, mas assim que ele cai pela terceira vez, solto um palavrão e pego um garfo.

OverdoseOnde histórias criam vida. Descubra agora