dieci

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Lunedi (Segunda-Feira)

Quis botar fogo em cada jaqueta de couro que vi durante o dia.

Estou sendo vigiada, de novo. Na verdade, venho sido vigiada, ou melhor, seguida, desde sexta-feira, mas só percebi quando encontrei o cara de olhos azuis na biblioteca. No começo, achei ser um mero acaso, afinal, ele realmente acertou na escolha do livro, mas quando sai, e no caminho até a SMD, finalmente me toquei do óbvio.

Agora eu sei a experiência de ser uma celebridade, ou uma fugitiva. Pelo menos antes não ficava ninguém me seguindo.

Já no corredor próximo a entrada do refeitório, sinto meu braço ser puxado para o lado, me levando junto. Me viro vendo Candelária, uma das garotas da turma de ética, e suas amigas me encarando sorridentes. Certo, isso é estranho, nenhuma dessas garotas falam comigo, é como se eu tivesse sarna ou algo do tipo.

— Oi? – Pergunto tentando soar simpática, mesmo estando confusa e sem paciência.

— Oi! Anabele né? – Abro a boca para corrigi-la, mas ela me corta antes. As duas amigas ao seu lado me analisam de cima a baixo – Garota, você precisa nos contar o segredo!

— Segredo? – Franzo a testa, ainda mais confusa.

— De como conseguiu fazer o Dean ficar amarradão em você – Abro a boca em descrença. Candelária parece interpretar de outra forma – Nem adianta negar garota, a gente viu.

— É, vimos vocês saindo juntos do prédio Corvi na sexta-feira – Uma das garotas, a da esquerda, com um sotaque extremamente forte, fala. Me pergunto porque ela estava lá sendo que ela é uma Locuste – Duas vezes. – Faz o número dois com a mão.

— E vimos o olhar dele sobre você no refeitório outro dia – A outra, da direita, continua, acho que ela é uma Alpha, como Candelária – Dean não costuma se encontrar mais de uma vez com uma garota, o que você fez? – Seus olhos brilham de curiosidade.

O que eu fiz? Bem, quebrei o para brisa do carro dele, arrumei uma tremenda dívida e o irrito toda vez que nos vemos, sem contar que eu provavelmente vou virar outro cachorrinho dele.

— Acho que houve um engano – Começo, tentando ser cautelosa com as palavras escolhidas, aquelas garotas podem ser fofoqueiras, mas pegam uma mentira no pulo, não é à toa que estão neste curso. – Não tem nada rolando entre a gente.

— Como não? – Volto meu olhar para Candelária –Temos muitas provas que provam ao contrário. – Respiro fundo, tentando manter a calma.

— Olha, não sei se sabem, mas eu quebrei algo do carro dele...

— Ah, sabemos – A Locuste me interrompe, dando uma risada – Todo mundo sabe quem é a louca da garrafa.

Louca da garrafa? Ok, meu estresse voltou com tudo.

— Enfim, eu quebrei, agora vou ter que pagar o conserto e ele só fica me perseguindo para me lembrar da grana. – Nem sei porque estou me dando o trabalho de explicar, mas caso não diga nada, elas podem pensar o pior.

— Só isso? – A outra Alpha pergunta, semicerrando os olhos – E o Dante? – Reviro os olhos, já chega.

— Não sei se vocês sabem, mas um garoto e uma garota podem ser amigos sem precisarem foder – Elas arregalam os olhos com meu tom hostil. Eu cruzo os dedos para que Dante não saiba o que eu acabei de dizer, ele já parece achar que temos algum tipo de proximidade – O que eu deixo ou não de fazer na minha vida é problema meu, vocês deveriam passar essa atitude de interrogadoras para as aulas de direito. E mais uma coisa: é Anabela – Finalizo, dando as costas, mas ainda consigo ouvir a Locuste falar:

OverdoseOnde histórias criam vida. Descubra agora