dodici

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Marcoledi

Não ficaria surpresa se houvesse alguém batendo um martelo na minha cabeça quando abrisse os olhos, mas sei que isso é impossível, só me restando outra opção: ressaca.

Eu só fiquei de ressaca uma vez na vida, fora durante o ensino médio, após o time de Zach ganhar um jogo que os classificou para as estaduais, ele estava eufórico aquela noite, na verdade, toda a Ammou Superiore estava, era a primeira vez que o time de futebol ganhava algo tão importante, então, fizeram a maior comemoração já vista no colégio e acabei entrando na onda e comemorando. Tive uma ressaca dos infernos, e ela ficou ainda pior com o sermão de uma hora de meu pai.

Quando estou consciente o suficiente, tento abrir os olhos, mas volto aos fechar por causa da luz. Quem deixou a cortina aberta? Tento puxar o edredom que está enrolado nas minhas pernas para voltar a dormir, mas uma tontura me atinge e volto a deitar, soltando um resmungo.

— Você tá uma merda – Ouço a voz de K, mas sou incapaz de responder. – Tem aspirina aí do lado.

Sentindo a pior dor que já senti na vida, forço meu corpo a sentar e entreabro um olho, parecendo um pirata, e encontro a aspirina na mesa de cabeceira ao lado, junto a um copo de água. Pego a aspirina, coloco-a na boca e a engulo com a ajuda de um gole de água, depois, volto a cair na cama.

— Levanta a bunda daí, já perdeu a primeira aula. – Resmungo de olhos fechados.

— Eu não sinto minhas pernas, eu perdi as pernas? – K gargalha.

— Não, mas acho que você se acabou ontem.

— Ontem? – Pergunto, virando o rosto em sua direção e finalmente abrindo ambos os olhos. K está sentada em pernas de índio no meio de sua cama, em suas mãos está um esmalte laranja neon e ela termina de pintar as unhas da mão direita, eu nem me lembro a última vez que pintei as unhas. – O que aconteceu ontem?

— Eu não sei – Pinta a unha do dedo mindinho e fecha o vidrinho de esmalte. – Quando eu cheguei você não tava no quarto, e olha que já eram duas da manhã. Ouvi um barulho as quatro, acho que foi você.

— Que horas são?

— Oito horas. – Solto um muxoxo.

— Eu dormi só quatro horas? Ah não K. – Reclamo.

— Vai mesmo perder todas as aulas do dia? – Solto um suspiro, realmente considerando.

— E o que você faz aqui? – Olho para ela que dá de ombros.

— Alguém tinha que saber se você ainda estava viva – Arqueio a sobrancelha, e o movimento dói como o inferno – E me pareceu um bom motivo para faltar. – Solto um riso pelo nariz e olho para o teto.

— Que merda, quando deixamos de ser aquelas garotas mega exemplares do ensino médio?

— Quando os Ghostins invadiram nossas vidas. Voltando ao assunto principal, onde você foi ontem?

Flashs de memória invadem a minha mente e eu arregalo os olhos, jogo o cobertor de lado e me sento, tão rápido que faz a pontada em minha cabeça aumentar. K arregala os olhos de susto

— O que foi?

— Eu fiz merda – Lembro das mãos de Dante descendo de minha cintura para minha bunda – Puta merda, eu fiz muita merda. – Me levanto e passo a andar pra lá e pra cá, a dor, sendo esquecida rapidamente.

— O que você fez? Onde você foi?

— Fui a uma festa próxima daquele lugar que você foi me pegar uma vez.

OverdoseOnde histórias criam vida. Descubra agora