O atraso era de mais de uma semana e sentia coisas estranhas nos seios e barriga. Seria possível? Achava que não, mas por via das dúvidas comprou o teste na farmácia.
Na manhã seguinte, urinou no copinho, mergulhou a caneta-bastão por quinze segundos e esperou cinco minutos, como dizia a bula. Duas riscas.
Sentiu água correr dos olhos, frio na barriga, pulos no coração e tremor nas pernas. Como?
Ela nunca acreditara que isso pudesse acontecer. Mas acontecera. Esses testes podiam dar falsos negativos, mas falsos positivos eram quase impossíveis.
E agora? O que faria? Ela entenderia?
Não podia lidar com isso sozinha. Mas faltava coragem para falar com ela. Preferiu ligar primeiro para a melhor amiga, parecia mais fácil. Tomara que estivesse acordada.
– A-alô?
– Uaaah... Bom dia... Hã? Algum problema? Sua voz está estranha...
Balbuciou uma hesitante explicação.
– Que coisa! – Exclamou a voz do outro lado da linha, já bem desperta. – Tem ideia de quando foi?
– Deve ter sido no feriado do Dia do Mar, Umi no Kinenbi. - Respondeu com voz sumida. - Fizemos uma farra da madrugada até a noite, paramos só para comer. Sem camisinha. Supostamente o período fértil tinha acabado na véspera e de qualquer forma...
– Hum... Vinte e quatro dias, então. Ainda é tempo para qualquer coisa.
– É... Como você acha que isso aconteceu? Eu nunca tinha me preocupado muito com isso porque... Ele... É uma ilusão mágica. Pelo menos, eu supunha que era.
– Ora... Parece que é de verdade o suficiente enquanto dura. Eu nunca tinha me perguntado sobre o que aconteceria num caso desses. Quando a ilusão se vai... As secreções e espermatozoides deveriam desaparecer, mas pelo jeito, se o óvulo já tiver sido fecundado, a fertilização é irreversível. Se a ilusão permanceu por mais de oito horas depois da primeira transa, foi tempo suficiente para a fertilização.
– O que você me aconselha?
– A primeira coisa é falar com ela, claro, depois veremos. Aconteça o que acontecer, decida o que decidir, conte comigo! Estamos juntas!
– Muito obrigada, Madoka-chan!
– De nada! Boa sorte, Sayaka-chan! Estou ao seu dispor, ligue quando quiser, seja que hora for!
Voltou ao quarto. Sua companheira ainda estava se vestindo.
– Kyoko-chan... – Não conseguiu dizer mais nada. Apenas mostrou a caneta-bastão. Ela devia saber o que significava.
Kyoko olhou por alguns segundos, intrigada, antes de entender o que a trêmula Sayaka estava segurando. E então ficou boquiaberta, sem dizer nada, por um longo período.
– Caraca! – Exclamou, por fim. – Sério, eu nunca pensei que pudesse mesmo acontecer!
Foi um alívio para Sayaka. Seu maior receio era de que Kyoko duvidasse da possibilidade daquilo e cismasse que ela tinha voltado a se encontrar com Kyosuke ou coisa assim. Mas isso não lhe passou pela cabeça. Não duvidou nem por um segundo de que Sayaka fora fecundada por seu duplo masculino criado pelo Rosso Fantasma, Kyoko-kun, num daqueles loucos ménage à trois que no fundo não deixavam de ser ménage à deux.
– Como fazemos? – Perguntou Sayaka. – Tenho algum dinheiro guardado e posso pedir emprestado pra Madoka, mas precisamos achar logo um médico de confiança.
Salvo em casos de estupro e risco para a mãe, o aborto era proibido no Japão. Todos sabiam que era possível fazê-lo clandestinamente, mas Sayaka também receava que um médico descobrisse seu poder de regeneração ou outras bizarrices de sua fisiologia de morta-viva. Podia ter de pagar muito caro para comprar não só seu trabalho, como também seu silêncio.
– Sayaka-chan... – Aproximou-se Kyoko e lhe pegou a mão. – Você não quer o bebê?
– E-eu... Não temos escolha, temos? – Gaguejou Sayaka. – Com essa vida que a gente leva...
– Sayaka-chan! Você não seria a primeira mulher com uma atividade perigosa a ser mãe. A gente dá um jeito. Akira-kun é esperta, é bem mais madura e consciente do que éramos quando entramos nesta vida e já está mais forte do que eu, pode muito bem tomar o seu lugar na linha de frente por um tempo. De hoje até nossa cria nascer e crescer um pouco, fique na retaguarda para cuidar das garotas feridas, nisso você é insubstituível. Sinceramente, Sayaka-chan... Adorei a ideia de ser mãe com você. Ou pai, tanto faz!
Aquilo era inesperado. Mas, pensando bem, talvez pudesse dar certo. Sayaka tinha imaginado que retornaria à Lei dos Ciclos com Madoka assim que ela esclarecesse as coisas com Homura e que isso não levaria muito tempo, no máximo mais um ano ou dois. Ser mãe era assumir um compromisso de prazo muito mais longo. Vinte anos pelo menos, talvez mais. Bem, se tivesse Kyoko ao seu lado, não seria nenhum sacrifício. A Lei dos Ciclos podia esperar.
– Kyoko-chan... – Emocionou-se Sayaka. – Assumimos juntas e criamos esse nenê? Tem certeza?
– Claro, que tenho, sua cretina! – Prometeu Kyoko, zangada. – E vou provar já! Eu sei que tenho sido folgada e irresponsável. Me perdoa, Sayaka-chan! Mas se vamos ter nossa criança, divido a sério as tarefas de casa a partir de agora. Deixa o café e a faxina de hoje comigo. Vou também procurar algum trampo para você não precisar nos sustentar sozinha. Alguma coisa como entregar jornais, trabalhar como carteira, sei lá! Qualquer coisa que não me obrigue a ficar fechada numa oficina ou escritório serve...
Sayaka riu, a abraçou e beijou. Não tinha certeza do quanto Kyoko conseguiria cumprir dessas promessas, mas, naquele momento, a intenção lhe bastava. Restava o problema de como explicar isso para os conhecidos que não eram garotas mágicas. Os pais, ela imaginava que iam estranhar e franzir a testa, mas aceitariam sem fazer muitas perguntas. Uma vez haviam lhe dito que a única coisa que os incomodava no seu casamento com outra mulher era que ela não lhes daria um neto. Mas e Hitomi? Será que ela e as amigas desconfiariam de Kyosuke? Ao contrário de Kyoko e Madoka, elas não tinham faziam ideia do que a magia era capaz.
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Maioridade em Mitakihara
Fiksi PenggemarE se as protagonistas de Puella Magi Madoka Magica conseguissem sobreviver até se tornarem adultas? Há tempos eu queria escrever uma fanfic de Madoka Magica e me pareceu que essa possibilidade foi, até agora, relativamente pouco explorada. O ambie...