Desabafando

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"E estou cercado por
Um milhão de pessoas
Ainda me sinto sozinho
Deixe-me ir para casa
Sinto sua falta você sabe"

Musica: Home- Michael Bublé

***

As pernas de Alfonso o impulsionavam para a frente, e as pisadas firmes estavam em sincronia com as batidas do seu coração. A cada passo, rezava para que as lembranças do décimo sétimo aniversário de Anahi desaparecessem. Mas, mesmo depois de correr por trinta minutos com Oscar.

Alfonso podia jurar que o cheiro dela naquela noite continuava ali, ao seu redor. Quando entraram na rua da casa dos pais, aceleraram o ritmo da corrida, e o suor escorria pelo rosto de Alfonso. Oscar venceu por pouco aquela corrida-que-não-era-bem-corrida-mas-que-acabou-sendo e se jogou no gramado, esticando as pernas e as costas. Alfonso simplesmente se atirou na grama perto do irmão,
respirando como se fosse um idoso de 80 anos com enfisema pulmonar.

– Está ficando mais lento com a idade, cara – observou Oscar alongando os glúteos.

– Vá à merda!

– É a barba – prosseguiu o caçula. – Você perdeu a aerodinâmica.

Alfonso se virou para o irmão, estreitando os olhos por causa do sol de junho.

– Sabe de uma coisa, Oscar? Quanto mais implica com a minha barba, mais me convenço de que, na verdade, você a adora. E mais determinado fico a mantê-la assim.

Oscar deu uma risada e ergueu os braços acima da cabeça.

– Além disso – continuou Alfonso – sei que só está com inveja porque, em vez destes magníficos folículos faciais, você tem um cabelo de garotinha.

Sorrindo, Oscar deu um peteleco na barba do irmão. Alfonso caiu na gargalhada, virando-se para ficar de quatro e se levantar. Quando entraram, a casa estava em silêncio. Ruth tinha ido ao hospital com tia Maggie e, já que Fernando vinha melhorando a cada dia, Katty e Rosie haviam voltado para casa. O pai continuava na Unidade de Terapia Semi-Intensiva, mas fazia progressos consideráveis. Havia dois dias que Fernando tinha aberto os olhos, e agora já estava se sentando e comendo. Alfonso e os irmãos se revezavam para ficar lá com a mãe. Naquele dia, era a vez de Alejandro.

– Ale me falou sobre aquela coisa estranha que aconteceu na loja da Disney – disse Oscar depois que
os dois já tinham tomado banho e se vestido.

Estavam estirados num sofá da sala de estar, com a TV ligada, mas, na verdade, não assistiam a nada em particular.

Alfonso suspirou e meneou a cabeça. “Coisa estranha” era a expressão perfeita. Estremeceu só de se lembrar da cena e de todas as recordações que invadiam a sua cabeça desde então. Parecia injusto ter que lidar com aquelas lembranças da época mais feliz da sua vida, sendo que ele e Anahi eram, agora, praticamente estranhos.

Oscar inclinou a cabeça.

– Você parece triste, cara!

Alfonso jogou o controle remoto na mesinha de centro.

– É muito chato, sabe? – Ele esfregou a testa com as pontas dos dedos. – Quer dizer, ficamos juntos por tanto tempo, e agora é como se mal nos conhecêssemos.

Oscar  deu de ombros.

– Então vai lá e muda isso.

– O quê?

O irmão indicou a porta com um gesto.

– Corre atrás dela, tenta de novo.

Como se fosse assim tão fácil..., pensou Alfonso. Oscar revirou os olhos quando o irmão cerrou os lábios e voltou a encarar a TV.

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