A Vida é Curta

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"Bem, tem hora para viver e hora para chorar. Nada dura para sempre além da terra e do céu tudo passa, a vida? Ah a vida é muito curta e nenhum dinheiro do mundo vai comprar outro minuto.
É preciso perdoar para renascer."



- Tem ficado muito tempo em hospitais recentemente, não é mesmo? - disse Fernando.

Alfonso soltou uma risada cansada.

- Demais.

- Como está se sentindo? - perguntou o pai, num tom de voz firme, mas sensível.

Alfonso não respondeu de imediato. Na verdade, estava sofrendo muito: até partes do seu corpo que ele
nem sabia que existiam estavam doendo.

- Olhe para mim, Alfonso.

Ele obedeceu, já que desde que era criança conhecia aquela voz do tipo "deixe de bobagens".

- Se está com dores, diga aos médicos. Sua visão está boa? A cabeça não está doendo, está?

- Um pouco.

- Quer que eu chame a enfermeira?

- Não, pai. Estou bem. - Alfonso olhou para a porta. - Onde está mamãe?

- Já deve estar chegando.

Fernando se aproximou da cama e se sentou na cadeira mais próxima. Soltou o ar com força pelo nariz e
pigarreou. Depois, levou as mãos à boca, pressionando os lábios.

- Estou me sentindo... me sentindo devastado, Alfonso.

O filho franziu a testa.

- O que foi? Está com algum problema pai?

- Não. É que estou preocupado com você. - Deixou cair as mãos. - Sempre me preocupei com você - Ele balançou a cabeça, olhando para o chão. - Se você... Ah, meu filho.

Alfonso se ajeitou na cama, meio impressionado com o rumo daquela conversa.

- Estou bem, pai. O médico disse que vou poder ir para casa em menos de uma semana.

- Eu sei - disse Fernando assentindo. - Mas é minha função ficar preocupado. Sou seu pai. - Suspirou. - Você sempre foi o mais sensato dos três, o que mais sentia a necessidade de nos agradar. Fez algumas escolhas erradas por pensar em outras pessoas. O otimismo e o altruísmo sempre foram as suas maiores qualidades, Alfonso. Pensa em todo mundo antes de pensar em si mesmo.

- A não ser daquela vez, não é?

Alfonso ergueu um dos cantos da boca. Era bastante arriscado trazer à tona o tempo em que foi preso, mas já estava cheio de ficar evitando o assunto.

- É. - Fernando assentiu. - A não ser daquela vez.

Ele suspirou.

- Sinto muito, pai. Não sei o que mais posso dizer, ou quantas vezes vou repetir. Eu... Foi a maior besteira fazer aquilo.

Fernando bufou e cruzou os braços.

- Não quero ouvir pedidos de desculpas. Você já se desculpou o bastante. E, vendo você aqui,
agora... Sei... Sei que não foi nada fácil.

- Eu desapontei você, pai. Sei disso.

Fernando fechou os olhos por um instante.

- Mas pagou por isso. E se você tivesse... se voce tivesse morrido enquanto ainda estávamos...enquanto eu ainda estava... Jamais me perdoaria meu filho.

Alfonso ficou decididamente surpreso com as palavras do pai e com a luta que ele parecia travar consigo mesmo para dizê-las.

- Eu estou bem, pai. Sou forte.

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