Cabeça a mil

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– E foi assim, então? – disse Alejandro meio irritado, do outro lado da mesa de jantar da casa dos pais. – Foi por isso que ela não contou do Henry para você?

Alfonso suspirou ao perceber o tom do irmão.

– Foi.

– Ah, nem vem – rebateu, balançando a cabeça, e a veemência se revelou até mesmo na maneira como tomou um gole da sua bebida. – Já devia ter contado há mais tempo. Ela impediu você de conhecer o próprio filho, cara!

Em resposta, Alfonso se limitou a arquear as sobrancelhas. Claro que o irmão tinha razão e, para ser sincero, seu sangue também começaria a ferver só de pensar nisso, se ele deixasse. Tinha esquecido a tarde maravilhosa que passara com Anahí e Henry e agora contemplava toda a mágoa e todo o ressentimento que estava sentindo por ela ter mantido o filho longe dele.

– Tenho que concordar com Alejandro – disse a mãe, sentada ao seu lado. – Não consigo entender por que ela nem ao menos tentou entrar em contato.

Alfonso deu de ombros.

– O que vocês querem que eu diga? Tudo que sei é o que ela me falou.

– Eu sei, querido – respondeu Ruth, resignada. – Mas não é justo. Eu esperava mais dela.

Verdade. Alfonso também esperava. Mas, pensando bem, Anahí sempre tomara decisões duras no que se referia às coisas do coração. Alfonso afastou o prato, que mal tinha tocado, e se recostou na cadeira, com os braços cruzados diante do peito, numa atitude defensiva. Não gostava de se sentir assim tão julgado, e não precisava se sentir desse jeito: afinal, ele não tinha cometido erro algum. Mas sempre agira assim
com relação à sua história com Anahi o que era frustrante.

– E o que vai acontecer agora? – perguntou Ruth visivelmente cautelosa.

Alfonso deu de ombros.

– Eu disse a ela que quero poder ver Henry sem qualquer restrição. Quero conhecê-lo. Já perdi muita
coisa...

A mãe assentiu, e seus lábios se moveram no que parecia ser o esboço de um sorriso.

– E nós também vamos poder conhecer o menino?

Alfonso coçou o queixo.

– Também disse que quero trazer Henry aqui para conhecer todos vocês. É que antes ele precisa se
familiarizar mais comigo.

– Concordo – observou Ruth – Ele é apenas um garotinho. Você não vai querer apressar as coisas.

Ela deu de ombros, e Alfonso viu aquela expressão cansada que a mãe vinha exibindo desde que o filho tinha voltado do encontro com Anahí e Henry se transformar em algo mais brando, emotivo e maternal.

– Mal posso... acreditar que sou avó.

Entrelaçou as mãos e apoiou o queixo.

Alejandro soltou um risinho abafado.

– Pelo menos eu não preciso me preocupar em dar algum neto a você agora...

Alfonso tentou sorrir, mas qualquer tentativa parecia exigir demais, forçada demais. Suspirou, então, e passou a mão pela testa, já que os indícios de uma daquelas dores de cabeça estavam começando a martelar no seu crânio.

– Sei que, pensando bem, isso pode soar extremamente ridículo – disse Alejandro suavemente, como se a raiva que sentia de Anahi tivesse se atenuado – mas você está bem?

Alfonso fez que não com a cabeça porque não, não estava bem. Estava desnorteado: confuso, emotivo e completamente perdido, sem saber como poderia resolver a situação em que se encontrava. Ficara sabendo que era pai havia 24 horas e, durante esse tempo, não pensou em mais nada. Seus pensamentos eram tão fortes que o cérebro parecia prestes a sair do lugar. Por ser geralmente uma pessoa otimista e animada, tinha dificuldade em lidar com a raiva e a frustração. Esses sentimentos o deixavam exausto, mal-humorado e desesperado para encontrar uma saída.

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