Capítulo 15 - "Alguém está me ameaçando."

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Fiquei olhando as palavras até virarem um borrão.

Então, soltei um berro sufocado quando mãos seguraram meus ombros com força. Quase perdi o equilíbro quando alguém me puxou para trás, me forçando até a porta.

— Ei! — Recuperei minha voz e me virei. — Brendan!

— Rachel, aqui está você. Eu a ouvi gritar, mas não conseguia encontrá-la. — Ele soltou meus ombros. Seus olhos escuros estavam arregalados, seu rosto contorcido, numa expressão confusa.

— Brendan, eu achei...

Ele deu um passo para trás e olhou acima do meu ombro, para o vulto balançando na corda.

— É... é um boneco — gaguejei. — A luz estava tão estranha. Estava difícil de enxergar. Brendan, pensei que fosse você.

Ele não respondeu. Passou por mim, se aproximou do boneco e pegou o bilhete no chão. Reparei que ele o lia repetidamente.

— Brendan... você está bem?

Por fim, ele se virou para mim.

— Parece comigo. Está até vestindo minhas roupas.

— Eu sei. — E me aproximei dele. — Achei...

Ele amassou o bilhete e jogou do outro lado do quarto.

— Quem fez isso? — ele murmurou baixinho. — Quem faria isso? Alguém está tentando estragar a minha festa?

— Só pode ser uma brincadeira — sugeri. — Talvez...

— Brincadeira? Sério? Uma brincadeira? — ele explodiu.

Eu me assustei com a raiva repentina. Mas, ao olhar seu rosto, vi a raiva se transformar em medo.

— Não é brincadeira — ele murmurou, sacudindo a cabeça. O rosado das bochechas passou a vermelho.

— É uma ameaça, Rachel. Alguém está me ameaçando. — Ele pegou o boneco, empurrou com força e ficou observando-o balançar de um lado para o outro. — Primeiro, os animais mortos nas camas. Agora, isto. Decididamente, é um alerta.

— Espere. Pense. — Peguei seu braço. — Só pode ser uma piada nojenta. Será que o Eric...?

— Eric? — Ele sacudiu a cabeça. — Não. O Eric é um sacana, mas isso não é o estilo dele. Eric é um pateta, nunca é cruel. — Ele ergueu as sobrancelhas para mim. — Sem chance. Eric, não. Nós somos bons amigos. Ele não faria isso.

— O que você vai fazer? — perguntei. — Vai parar a caçada? Mandar todo mundo para casa?

— De jeito nenhum. — Ele se virou e me olhou fixamente. — Eu planejei esta festa durante semanas. Não vou deixar ninguém estragá-la.

— Mas se você acha que é uma ameaça séria...

— Não me importo. Não vou parar a caçada. Não vou parar a festa.

— Mas, Brendan, você não acha que deve reunir todo mundo? Talvez contar a todos o que aconteceu aqui? Se é mesmo só uma brincadeira, você não quer...

— Se isso é uma brincadeira, é bem hostil. Olhe pra este troço. — Ele empurrou mais uma vez o boneco, que ficou balançando. — Enforcar alguém não é uma piada engraçada.

— Se você acha que é uma ameaça real, decididamente deve ligar pra polícia. Sério.

— Ligar pra polícia? Como? Os telefones estão desligados. E os celulares não funcionam aqui. — Ele bateu os dois punhos no boneco e o fez balançar mais uma vez. — Quem faria isso? Vamos pensar. Vamos pensar.

Sabia que ele não estava falando comigo, que estava falando consigo mesmo.

Brendan sacudiu a cabeça e começou a andar de um lado para o outro, evitando o boneco, que girava lentamente na corda.

— Meus primos? Morgan e Kenny têm um senso de humor doentio. Aqueles dois são bem sinistros. Provavelmente porque são Fear. — Ele parou de andar e olhou a janela suja de poeira, obviamente pensando.

— Mas quando eles poderiam ter feito isto? — perguntei. — Seus primos estavam no barco com a gente. Quando teriam tido tempo? Estavam no salão de festas até começar a caçada. Não os vi sair.

Ele mordeu o lábio inferior.

— Você está certa. Você viu alguém saindo do salão enquanto estávamos comendo?

Abri a boca para responder, mas parei quando ouvi um grito agudo no corredor. Primeiro, achei que fosse o chiado dos morcegos, mas, depois, percebi que era um grito humano. Um grito amedrontado. E outros gritos vieram, berros altos de terror.

Brendan agarrou o boneco, como se estivesse se mantendo de pé com ele.

— O que é isso? — ele cochichou. — O que está havendo?

E nós dois saímos correndo do quarto e seguimos pelo corredor comprido em direção ao som assustador.

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