Capítulo 6 - "Ouvi coisas que não deveria."

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— Só quero conversar — ele disse, me apertando contra o carro. — Podemos apenas conversar?

— Conversar? Você está maluco? — gritei. — Tire as mãos de mim. Agora.

Ele baixou as mãos, mas não recuou. Seus olhos cinzentos frios se fixaram nos meus. Seus cabelos alourados brilhavam sob a luz.

Eu me sacudi como um cachorro tentando se livrar das pulgas. Ainda sentia a pegada dele em meus ombros.

— Você quase me mata de susto e quer conversar? E depois do que você fez ontem à noite?

Ele balançou as mãos no ar.

— Escuta, Rachel. Só escuta.

Meu coração estava disparado. Já tinha visto Mac passar de calmo a furioso em dois segundos. Era aterrorizante. O que eu poderia fazer para evitar que ele explodisse?

Eu o encarava, alerta a qualquer movimento que ele pudesse fazer, encarava-o como se eu nunca o tivesse visto. Mac é bonito. Amy diz que ele se parece com um jovem Brad Pitt, e eu também acho.

Ele não sorri muito. Tem um tique estranho de ficar piscando três ou quatro vezes em poucos segundos, como um espasmo. Não acontece com muita frequência, mas eu acho que isso mostra o quanto ele é tenso.

Ele estava vestindo uma jaqueta verde-militar sobre uma camiseta preta e um jeans justo, com os dois joelhos rasgados, e botas pretas. Dei uma olhada no maço de cigarros amassado no bolso da jaqueta.

— Mac — sussurrei. — Vá embora. Nunca mais quero falar com você. Depois de ontem à noite...

— Ontem à noite foi uma maluquice. Eu estava fora de mim — ele disse. — Rachel, eu passei a noite toda, a noite inteira, no meu carro. Fiquei muito mal por sua causa. Não consegui vir à escola hoje. Eu achei... achei... que você e eu... nós...

— Não, Mac — interrompi. — Nós terminamos. Desculpa, mas você vai ter que lidar com isso. Nós terminamos. Como você sequer pode achar que eu vou falar com você? Depois... depois do rato morto.

Ele piscou.

— O quê?

— O rato morto.

— Rachel, do que você está falando?

— Ah, não tente mentir pra mim. Você é um péssimo mentiroso, Mac. Por que ainda tenta?

Sempre que Mac conta uma mentira aparecem umas manchas rosadas em suas bochechas. E elas certamente estavam ali agora. Dava para ver, mesmo com a luz fraca do estacionamento.

Fui para a porta do carro.

— Por favor... me deixe ir. Vamos simplesmente nos despedir, está bem? Só chega pra trás e me deixe ir.

— Eu... não posso — ele disse. Ele não se mexeu. Novamente, aqueles olhos prateados fulminavam os meus. — Eu preciso te dizer uma coisa, Rachel. Outra coisa. Não é sobre mim e você. Você tem que me ouvir.

— Se eu ouvir sem falar nada, você me deixa ir? Você promete?

Ele assentiu.

— A-hã, claro. Mas você tem que ouvir. Eu... vi você conversando com o Brendan Fear.

— E daí? Você estava me espionando?

— Você precisa ficar longe dele.

— Como é? Acho que não, Mac. Eu posso falar com quem eu quiser. — Minha voz falhou. Eu não queria provocá-lo. Não queria provocar sua fúria.

Ele chutou um dos meus pneus.

— Escuta. Estou falando sério. Rachel, não vá para a ilha do Medo. Não vá àquela festa.

— Como você sabe que eu fui convidada? Como sabe das minhas conversas particulares? Escuta aqui, Mac. Você e eu... terminamos. Está entendendo? Acabou. Você tem que parar de ficar me espionando. E você não pode me dizer com quem eu posso ou não falar.

Ele sacudiu a cabeça.

— Apenas não vá, Rachel. Eu... eu ouvi coisas.

— Ouviu coisas? Você está maluco? — Minha voz saiu alta e aguda.

Ele agarrou os meus braços de novo. Apertou com tanta força que eu gritei.

— Mac, me solta! Você está me machucando.

— Eu ouvi coisas, Rachel. Ouvi coisas que não deveria ter ouvido.

— Mac... me solta. Estou avisando. Mac, você precisa procurar ajuda. Você está fora de controle.

Precisa arranjar ajuda antes que faça algo terrível.

— Não vá. Está me ouvindo? É pelo seu próprio bem. — Ele começou a me sacudir.

— Para! — gritei. Girei e soltei meus braços. Empurrei Mac com força e o fiz cambalear para trás.

Ele perdeu o equilíbrio e caiu de bunda no asfalto.

Ofegante, agi rápido. Abri o carro e entrei. Bati a porta e travei tudo.

Ainda dava para ouvir Mac gritando quando liguei o motor do carro e dei a ré para sair da vaga. Pelo retrovisor, eu o vi ainda no chão, sacudindo o punho fechado para mim.

— Eu estou avisando — ele gritava. — Estou avisando, Rachel. Fica longe do Brendan Fear.

Saí acelerando, quase batendo nos outros carros. Fiz a curva cantando pneu e peguei a rua.

— Tchau, Mac — eu disse, em voz alta. — Tchau, Mac. — Pisei no acelerador e o deixei para trás, me distanciando de toda a sua maluquice. — Tchau, Mac. E bem feito. Mas será que isso seria o fim dos meus problemas com Mac? Quem me dera.

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