Dois troncos largos pareciam guardiões numa curva do caminho de terra. Depois das árvores, a trilha se inclinava para cima, levando até a casa.— Você está muito quieta — disse Garland. — No que está pensando?
Fiquei tentada a contar que eu tinha acabado de me imaginar dando dois tiros para matá-lo. No que daria aquilo?
Bem, sr. Garland. Acabei de me imaginar empunhando o rifle e estourando buracos em seu pescoço e peito e vendo o senhor sangrar até morrer.
Ele provavelmente não gostaria daquilo. E já que já estava murmurando sozinho, falando maluquices, com a careca toda suada apesar da noite fria, decidi guardar meus pensamentos pra mim.
— Nada de mais — respondi.
A casa imensa surgiu, além do gramado da frente, com o capim balançando sob o luar.
— Mac estragou tudo — resmungou Garland. — Ele não deveria estar aqui. Ele não deveria ter se envolvido. Aquele babaca. Babaca imbecil.
Nós continuamos caminhando. Eu não disse nada, pois sabia que ele estava falando sozinho.
— Mac nos disse que haveria uma festa aqui — ele continuou. — Foi quando percebemos como seria fácil pegar o idiota Fear nesta ilha. — Ele sacudiu a cabeça. — Fácil. Deveria ser fácil. Mas, então, Mac me disse que você tinha me reconhecido. Ele disse que você me identificaria. Estragaria tudo.
— Mac tentou me avisar, semana passada — eu disse. As palavras simplesmente saíram. Garland explodiu, num rugido de ódio.
— Ele o quê? Mac lhe contou sobre isso? Ele disse o que estávamos planejando?
— Não — respondi logo. — Não. Ele não me disse nada. Ele...
— Por que ele simplesmente não postou no Facebook? — Garland gritou. — Pra contar para o mundo inteiro? Ele contou a você que nós vínhamos aqui?
— Não. De jeito nenhum. — Eu me virei para falar com ele. — Mac não me disse nada. Ele só falou que não queria que eu viesse a essa festa. Ele...
— Cala a boca! — rugiu Garland. Ele virou o cano do rifle para mim. — Cala a boca! Cala a boca! Preciso pensar. — Ele esfregou a careca. — Tenho que entender isso. Meu filho... meu filho idiota... o que ele estava pensando?
Caminhei em silêncio. O pai de Mac estava agindo de um jeito cada vez mais perturbado. Falou sozinho o caminho inteiro de volta para a casa. Eu não ouvia o que ele estava dizendo, mas parecia que estava tendo uma grande discussão consigo mesmo.
Nós encontramos Brendan e o outro atirador no salão de festas. Brendan, melancólico, estava sentado numa cadeira perto da lareira com as mãos amarradas atrás das costas.
O atirador rechonchudo estava a alguns palmos de distância, ainda mascarado. Seu rifle estava recostado no canto da parede dos fundos. O fogo tinha apagado e a sala cheirava a fumaça de lenha. O ar frio bateu nas minhas bochechas.
Vasculhei o lugar e avistei Mac curvado numa cadeira, num canto. Ele estava todo encolhido, com se estivesse tentando desaparecer, e levantou o olhar quando seu pai e eu entramos. Depois baixou os olhos de novo.
— Isso mesmo. Não olha pra mim — Garland gritou para o filho. — Não olha pra mim. Estou avisando.
— Mas, pai. Me dá um tempo. Eu a trouxe pra você, não trouxe? Não trouxe? Eu não queria, mas te ajudei.
— Não olha pra mim. Este é o último aviso.
Mac suspirou e se virou para o lado.
Garland me empurrou numa cadeira ao lado de Brendan e seu parceiro amarrou minhas mãos atrás das minhas costas. Eu sussurrei para Brendan: — Você está bem?
Ele sacudiu os ombros, evitando meus olhos: — Você está bem?
— Não — respondi. — Como eu poderia estar bem? — Calem a boca! Calem a boca! — gritou Garland. Seu parceiro arregalou os olhos de susto.
— Ei, o que vamos fazer? Qual é a ordem, chefe? Garland estava com o rosto vermelho, suando.
— Eu não queria o Mac envolvido. Mas o idiota avisou a garota. Ele provavelmente também chamou a polícia.
— Eu, não! — Mac exclamou, zangado.
O cara mascarado se aproximou de Garland, encarando-o frente a frente.
— Você disse que isso seria fácil. Dinheiro fácil, você disse. Os garotos trancados no porão. Oliver
Fear paga e nós damos o fora. Você me prometeu, Dwight. Não disse nada sobre... sobre... — Ele gesticulou para mim e Brendan.— Cala a boca. Estou falando sério, cala a boca. Me deixe pensar. — Garland limpava o suor da cabeça.
— Não há no que pensar — insistiu o parceiro, cuspindo as palavras no rosto de Garland. — Eles sabem quem você é. Já fomos pegos. Temos que desistir e dar o fora daqui. Ou então...
Ele tirou uma faca do bolso, sacou-a da bainha e a balançou na frente dele.
Um arrepio de pavor percorreu meu corpo.
— Não diremos a ninguém — avisou Brendan. — Eu disse a vocês. Eu prometo. Não diremos nada a ninguém. Apenas nos deixem ir. Não diremos uma palavra. Meu pai vai pagar e ele vai ajudá-lo a ir pra um lugar bem longe. O dinheiro não significa nada pra ele.
— Seu mimado nojento — Garland murmurou, de cara feia.
— Vamos simplesmente matá-lo — sugeriu o mascarado. A lâmina da faca reluzia em sua mão enquanto ele se aproximava de Brendan. — Eu realmente quero matá-lo, Dwight.
— Não... por favor! — gritei.
Brendan não pediu. Em vez disso, ele só encarava o homem.
— Você não tem coragem — ele disse, entre dentes. — Não pode me matar se quer o dinheiro. Até alguém imbecil como você sabe disso.
O atirador rugiu e levou a faca ao pescoço de Brendan.
— Se eu sou tão imbecil, por que você é que vai morrer?
— Não... espere, Sal — Garland interrompeu. — O idiota está certo. Nós precisamos dele vivo.
— Valeu, Dwight. Você disse o meu nome a ele. Boa. — E arrancou a máscara da cabeça e a jogou no chão. Seu cabelo era ruivo e encaracolado, tinha olhos verdes e um nariz adunco torto. Seu rosto estava encharcado de suor por causa da máscara.
— Precisamos dele vivo, Sal — insistiu Garland.
— Mas não precisamos da namorada choramingando — retrucou Sal.
Um gemido de pavor escapou da minha garganta. Lutei com a corda, mas não adiantava. Eu não conseguia me mexer.
— Espera... — disse Garland.
Mas Sal não esperou. Ele veio em minha direção, com os olhos verdes arregalados e enlouquecidos. — Espera! — Garland gritou. — Me escuta, Sal. Não faz isso!
Sal ignorou-o e pressionou a lâmina da faca em minha garganta.
Fechei os olhos.
Ah, por favor. Ah, por favor, não.
Ouvi o barulho do ar sendo cortado quando a faca desceu.
— Pare! Não! — Brendan gritou.
— Tarde demais — Sal rosnou. — Tarde demais.
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J O G O S M A C A B R O S
TerrorA história se passa na velha cidade de Shadyside, nos EUA, conhecida por ser palco de acontecimentos misteriosos e aterrorizantes envolvendo os alunos da escola local. Todos na região conhecem a excêntrica e rica família Fear, e sabem também do pass...