Capítulo 38 - Socorro

7 3 4
                                    


Seus cabelos estavam despenteados pelo vento. Seus olhos estavam arregalados, intensos. Ele assentiu.

— Estou vivo.

Ele foi até a beirada da água e eu estendi as mãos para que ele me puxasse do lago.

Minha roupa estava ensopada, a água escorria pelo meu rosto e eu não conseguia parar de tremer.

Mas eu o observava, incrédula.

— E-eu achei... — gaguejei.

— Achou que eu tivesse morrido? — Ele sacudiu a cabeça. — Não. Eu não fui atingido. — Ele tentou afastar o cabelo para trás, com as duas mãos.

— Eu... vi você cair.

— Não fui atingido. Eu fingi — explicou ele.

— Eu queria dar a você e ao Brendan uma chance de fugir. A bala pegou na parede, nem passou perto de mim.

Eu não sabia o que dizer. Ver Mac era como ver um espírito, era como ver Patti, Kerry e Eric vivos outra vez. Só que o Mac não estava num jogo. E o rifle que o cara alto tinha disparado era real.

Ele tirou a jaqueta de couro e colocou nos meus ombros trêmulos.

— Mac... Como você fugiu? Como me encontrou?

— Os dois saíram correndo — disse ele, com os olhos ainda fixos nos meus. — Foram atrás de você e do Brendan. Eu esperei até que eles tivessem ido embora, depois saí. Imaginei... — A voz dele foi sumindo.

— Você foi muito corajoso lá dentro — eu disse. — Partiu pra cima deles. Eu achei... Achei que você estivesse maluco. Mas...

Mac finalmente ergueu os olhos. Ele se virou e olhou para trás.

— Temos que nos apressar, Rachel. Me segue.

— Seguir você? Pra onde?

Ele apontou para a margem. Acima de nós, a lua tinha ressurgido. Os olhos de Mac cintilavam como prata sob a luz súbita.

— Vem — ele sussurrou. — Não há tempo. Eu tenho uma canoa, Rachel.

Ele saiu correndo pelo capim alto, seguindo a margem.

— Escondi do outro lado. Longe do cais. Vamos, depressa.

Hesitei. Será que devia segui-lo? E quanto ao Brendan?

Se eu voltasse à cidade, poderia chamar a polícia de Shadyside. Poderia resgatar Brendan e o pessoal do porão.

Mac gesticulava para mim, impaciente.

— Vem. Anda logo. Vamos. Vou tirar você desta ilha.

— Está bem. Obrigada. — As palavras saíram num sussurro trêmulo. Será que eu realmente estava saindo viva daquele pesadelo?

Inclinada contra o vento, segui Mac pelo mato. Nossas sombras eram longas sob o luar, como dedos estendidos à nossa frente. Percorremos o desenho da borda da ilha. Árvores finas perfilavam a margem, inclinadas, como se também tentassem fugir da ilha.

Outra curva acentuada e estávamos de volta à floresta. O luar prateado aparecia e sumia, fazendo tudo parecer irreal, fazendo as árvores desaparecerem e ressurgirem como mágica.

— Mac... aonde estamos indo?! — exclamei. — Eu levei tanto tempo pra sair da floresta, e agora...

— Minha canoa está depois da próxima curva, Rachel — ele respondeu, e esperou que eu o alcançasse. Depois, passou a mão em volta da minha cintura e me guiou pelo labirinto de árvores e vegetação.

Eu mal podia esperar. Queria ver aquela canoa. Queria ir para a água, atravessar o lago agitado e chegar a um lugar seguro.

— Por aqui — apontou ele, apertando o braço em volta de mim. Ele me guiou por cima de um tronco caído e por uma abertura estreita, em meio a uma vegetação cerrada.

— Mas nós estamos nos distanciando da água. Não estamos...

Parei quando vi os homens numa pequena clareira, depois dos arbustos. Os dois homens mascarados. E Brendan. Sim. Brendan estava com eles. Um dos atiradores segurava Brendan com os braços para trás. O outro estava em pé, esperando por mim e Mac, com o rifle ao lado.

— Bem-vinda de volta — disse ele.

Uma armadilha. Mac me levou para uma armadilha.

Eu me virei e o encarei, transbordando de raiva.

— Como você pôde? Por quê? Por quê, Mac? Por que fez isso comigo?

J O G O S   M A C A B R O SOnde histórias criam vida. Descubra agora