Capítulo 37 - Molhada

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Fiquei olhando para o ancoradouro, como se fosse fazer um barco surgir. O capim alto, ao meu redor, balançava com o sopro constante do vento. O único som era a batida suave das ondas escuras contra as estacas do cais.

Achei que tinha ouvido algo, então prendi a respiração e me afastei para longe da água. Estreitei os olhos para as árvores. Não. Não tinha ninguém ali.

Você está sozinha aqui, Rachel. O que vai fazer agora?

Uma estranha sensação de calma recaiu sobre mim. Percebi que havia um limite para sentir medo e pânico. Assim, soltei um longo suspiro, me sentindo anestesiada pela exaustão.

Voltei a respirar normalmente. Enfiei as mãos nos bolsos, parei de tremer e me virei de volta para o cais.

Então, era isto: eu não poderia fugir de barco da ilha. Um novo plano certamente seria necessário.

O que você vai fazer, Rachel?

Meu cérebro estava girando, quase dava para ouvir as engrenagens trabalhando. Eu sabia que não tinha muitas escolhas.

Eu poderia esperar perto do ancoradouro, para o caso de o barco dos empregados realmente voltar, como Brendan disse que seria.

Aí eu poderia voltar para casa, e talvez pudesse libertar o pessoal do porão. Então, nós estaríamos em número maior que os atiradores e...

Não. Aquilo era uma estupidez. E era perigoso.

Que outras opções eu tinha? Eu poderia me esconder na floresta...

A calma estranha que eu sentia começou a se dissipar. Pensei em Brendan. Será que estava morto?

Será que realmente pretendiam me matar?

O barulho de passos no mato surgiu tão depressa que eu nem tive tempo de pensar.

Eles estavam vindo e não havia onde se esconder. O capim alto não me esconderia. Não tinha como alcançar as sombras do cais.

Os passos apressados foram ficando mais ruidosos.

Eu tinha de me esconder... ou estaria morta.

Avancei e entrei na água. Eu estava olhando para as vigas de madeira que sustentavam o ancoradouro. Se eu conseguisse entrar atrás delas...

Que frio! Nossa, frio demais. O choque da temperatura da água dificultava a locomoção.

Não vou conseguir fazer isso. Meus dentes já estão batendo.

Meus sapatos pareciam muito pesados no fundo arenoso do lago. Inclinei o corpo, encarando o frio, e me forcei a me mexer. Em segundos, a água congelada estava batendo nos meus joelhos. Meu corpo inteiro tremia.

— Ai. Ai. Ai. — A água gélida me fez gemer alto.

Cheguei às estacas e passei os braços em volta de uma das toras altas. Fui para atrás dela.

As ondas baixas batiam, levando água até meus ombros. Eu me segurei na tora e pressionei meu corpo contra ela.

Aqui eu fico fora de vista. Mas vou morrer congelada em um ou dois minutos. Ou me afogar.

Prendi a respiração, tentando fazer meu corpo parar de tremer. A água enchia meus sapatos, encharcava minha roupa e me mantinha ali. Uma onda alta trouxe a água até meu queixo.

Eu engoli um pouco de água. Densa e gélida.

Comecei a tossir, então me agarrei à tora molhada e escorregadia. Engasguei tentando respirar, depois cuspi a água e fechei os olhos para a próxima onda.

Será que os dois homens estavam na margem? Será que tinham me visto ali?

Eu não conseguia ouvir nada além do barulho das ondas batendo nas estacas.

Segurando firme no toco de madeira, me virei para dar uma espiada na margem.

A água escorria em meus olhos, e tentei piscar para ver melhor.

Eu vou morrer aqui. Vou morrer congelada.

— Rachel... — uma voz rouca chamou.

Hã?

Eles me acharam. Eles me pegaram.

Eu me virei. Inclinei a cabeça e olhei por trás das vigas. E fiquei sem ar com a surpresa. — Mac? Você está vivo? Mac? É você mesmo?

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