Capítulo 30 - "Seu pai é um cretino nojento."

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Soltei um longo suspiro e Brendan colocou sua mão úmida e gélida em meu ombro.

— Um... sequestro? — ele repetiu. — Vocês estão sequestrando a Rachel e eu?

— Só você — disse o Olhos Azuis. — Você é filho de Oliver Fear. O negócio é você, meu chapa.

Pena que sua namorada acabou se envolvendo.

— O que vamos fazer com ela? — perguntou o Gorducho, passando o rifle de uma mão para outra. —

Ela não estava no plano.

— Não se preocupe — respondeu o parceiro. — Ela vai nos ajudar.

Eu vou ajudá-los?

Pensei no pessoal no porão. Fiquei imaginando o que eles estariam fazendo lá embaixo. Talvez tenham encontrado uma porta ou janela escondida... um jeito de fugir. Mas mesmo que conseguissem... Eu sabia que não havia meio de buscar ajuda na cidade. E nenhum modo de escapar da ilha.

— Pegue a corda. Temos que amarrá-los — Olhos Azuis ordenou ao parceiro. — Teremos uma longa espera, e não queremos que vocês pensem que podem tentar sair correndo.

— Não tem pra onde correr — Brendan disse baixinho. Ele ainda estava com a mão no meu ombro. Eu a apertei e a fiquei segurando.

— Só me fale o motivo disso — pediu Brendan.

Os dois homens trocaram olhares.

— O motivo é um milhão de dólares — respondeu Olhos Azuis. Novamente, os dois riram com deboche.

— Isso é o que seu pai, o grande Oliver Fear, vai pagar pra tê-lo de volta são e salvo.

— Então, seu plano... — Brendan começou a falar.

— Venho planejando isso há muito tempo! — Olhos Azuis falou em voz alta. Ele abanou o punho diante de Brendan. — Desde que Oliver Fear arruinou minha vida.

— Pega leve — alertou o parceiro, coçando o topo da cabeça através da máscara grossa de lã. — Você não deve nenhuma explicação ao garoto.

— Seu pai é um cretino nojento! — vociferou Olhos Azuis, agarrando Brendan pelo moletom com as duas mãos. — Ele me demitiu, me mandou embora sem motivo algum.

Ofegante, o homem sacudiu Brendan. Finalmente, ele baixou as mãos e deu um passo para trás.

— Você trabalhou pro meu pai? — perguntou Brendan, arrumando o moletom.

— Irregularidades contábeis. Foi o que ele disse. Ele disse que eu era um pilantra. Disse que estava sendo um cara legal por não me mandar pra cadeia. Um cara legal. Ha ha ha! — Ele cuspiu no chão, quase acertando o tênis de Brendan.

— Tudo bem. Eu cometi alguns erros. Foi só isso. Apenas erros. As pessoas erram, não? Não? — A voz dele se elevou, ainda ofegante. Ele estava a ponto de perder a cabeça.

— Calma, cara — o parceiro falou baixinho. — Você já disse o bastante. Vamos amarrá-los.

Mas Olhos Azuis não tinha terminado.

— Cometi alguns erros. Isso não era motivo para arruinar minha vida. Acabar com a minha reputação e com a minha família. Arruinar tudo pelo qual trabalhei tão duro pra construir.

Sem aviso, ele deu uma coronhada no tórax de Brendan de novo.

Brendan se curvou e gemeu de dor.

— Por favor... — Ele estava sem ar. — Minha costela. Acho que você quebrou minha costela.

— Vou fazer pior que isso — gritou o homem mascarado. — Vou arrancar sua cabeça se o seu pai não entregar meu dinheiro. Vou arrancar seu coração, seu vagabundo!

— Calma, cara — o parceiro repetiu. — Não vai perder a cabeça agora. Eu sei como você se sente, mas... temos um bom tempo de espera aqui.

— Seu pai vai pagar caro pra tirá-lo desta ilha. Vamos ficar com você aqui, até que ele dê um milhão.

— Ele se virou para mim. — Pena que você se envolveu, Rachel — disse ele.

— Ei! — exclamei. — Como você sabe meu nome?

Ele é tão familiar, tenho certeza de que o conheço. Só que... estou em pânico. Estou tão amedrontada que meu cérebro não está funcionando.

— Que pena pra você, Rachel — ele repetiu. — Mas ter você aqui só vai fazer com que Oliver Fear queira pagar mais depressa. — Ele mexeu o rifle. — Sabe, pra evitar uma tragédia. — Ele chegou o rosto perto do meu. Senti cheiro de café em seu hálito. — Não queremos nenhuma tragédia, não é?

— N-não — gaguejei, apertando a mão de Brendan. Uma onda de pânico varreu meu corpo inteiro.

— Vamos amarrá-los àquelas cadeiras — disse Olhos Azuis, gesticulando para algumas espreguiçadeiras junto à parede. — Então, vamos só sentar e esperar o dinheiro.

Brendan estreitou os olhos para o homem mascarado.

— Você já disse ao meu pai que está nos mantendo aqui?

— Isso não é da sua conta, garoto. Quer fazer mais uma pergunta e ver a facilidade com que quebro mais algumas costelas?

Brendan baixou a cabeça e não respondeu.

O gorducho recostou a arma na parede e sumiu no corredor. Brendan e eu ficamos em silêncio, evitando nos olhar. Eu me peguei pensando em minha irmã Beth. Não sei por que ela surgiu na minha cabeça. Pensei no quanto ela era a assustada e eu era a corajosa. Agora não me sentia tão corajosa assim.

Ergui os olhos para o rifle na mão do homem e fiquei imaginando se voltaria a ver Beth. O atirador retornou com dois pedaços de corda no braço.

Uma pontada de medo percorreu meu corpo. O que ele pretende fazer com a corda? Cutuquei Brendan no ombro e apontei o Olhos Azuis.

— Ele não parece familiar? — sussurrei.

Brendan me lançou um olhar interrogativo. Ele sacudiu a cabeça em negativa.

— Sentem-se nestas cadeiras e coloquem as mãos pra trás — ordenou o gorducho. Ele largou uma das cordas no chão e começou a desenrolar a outra.

Minhas pernas tremiam tanto que eu quase errei a cadeira. Soltei o peso e me esforcei para manter o equilíbrio. Meu coração estrondava no peito. Eu nunca tinha desmaiado na vida, mas achei que agora isso talvez fosse acontecer.

Brendan estava em pé, junto à cadeira ao meu lado. O atirador gesticulou para que ele sentasse.

— Mãos pra trás — ele rugiu para mim.

Enlacei as mãos atrás de mim. Mesmo segurando-as firme assim, eu não conseguia fazer com que parassem de tremer.

O homem se curvou atrás de mim e começou a amarrar a corda grossa em volta dos meus punhos. A corda parecia áspera e ele a apertou bem. Então, subitamente, ele parou.

Ouvi um grito e ergui os olhos para a porta aberta da sala.

Alguém entrou correndo, a toda velocidade.

Meus olhos levaram alguns segundos para focar na pessoa. Então, soltei um berro: — Mac! Não! Saia daqui! Mac... não entre! Saia! Vá buscar ajuda!

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