Capítulo 24 - Outro intruso

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Finalmente, recuperei a voz. Um grito explodiu da minha garganta. Dei as costas para a mulher, mas a imagem da agulha comprida e do corte fino em seu flanco estava viva em minha mente.

Saí correndo pela porta rumo ao corredor. Como minha cabeça girava, o chão parecia se erguer ao meu encontro. Pra que lado? Pra que lado?

Por fim me lembrei e, ofegante, segui a toda velocidade em direção à porta dos fundos. Não desacelerei quando vi o resto do pessoal entrando na casa, com Brendan na frente.

Brendan parou de repente quando me viu correndo ao seu encontro. Ele estava boquiaberto. — Rachel? Onde você estava? O que há de errado?

— Victoria Fear! — Gritei, quase sem ar ao dizer as palavras.

Brendan me abraçou.

— Ei. Que bom que você está bem.

Os outros me olhavam, confusos.

Dei um passo para trás com meu coração disparado.

— Victoria Fear! Eu a vi! — exclamei. — Um espírito. Um espírito, Brendan. Eu vi o espírito de Victoria Fear.

Brendan sacudiu a cabeça.

— Rachel, não estou entendendo. Você viu o vídeo de segurança. Temos dois assassinos na casa. Por que você está falando desse negócio de espírito?

— Eu... eu a vi — insisti.

Os outros falavam coisas, todos ao mesmo tempo.

— Rachel, você bateu a cabeça?

— Você viu um espírito? Perdeu totalmente o juízo?

— Ela está bem? Está em choque por causa do Kerry?

Brendan se aproximou e tentou me puxar para outro abraço. Mas eu o afastei. As palavras saíam numa torrente.

— Você tem que acreditar em mim. Eu a vi. Vi os animais que ela estava empalhando. E ela estava costurando... costurando a si mesma. Brendan, ela...

Ele pressionou um dedo sobre a minha boca.

— Mostra pra gente — ele pediu. — Rachel, respire fundo. Depois mostre o que você viu. Leve a gente até lá.

Segui as instruções dele. Respirei fundo, prendi o ar, depois o soltei lentamente. Mas isso não me acalmou.

— Era um espírito, Brendan. Eu a vi. Não sou maluca.

Os outros me encaravam, murmurando entre eles. April se aproximou de mim.

— Você está em choque, Rachel. Todos nós estamos. Mas não podemos começar a ver espíritos.

Precisamos...

— Mostra pra gente — Brendan repetiu. — Mostra o quarto. Onde você viu o espírito?

— Tinha... uma porção de estantes de livros — gaguejei. — E ela estava atrás de uma mesa comprida.

— A biblioteca, no primeiro andar? — perguntou Brendan. — Certo. Venham comigo.

Ele avançava a passos largos pelo corredor e eu me apressei para acompanhá-lo. Os outros seguiam, agora em silêncio.

Dobramos o corredor e eu vi o quarto. A porta ainda estava aberta, o retângulo de luz refletia no chão do corredor.

— Ali — sussurrei. — Ela está ali.

Paramos a alguns palmos da porta, como se nos preparássemos para o que estávamos prestes a ver.

Então, Brendan e eu entramos juntos no quarto. Olhamos as prateleiras altas de livros. Então, nós dois viramos para a frente do quarto.

Soltei um grito agudo.

— Não tem ninguém aqui — apontou Brendan.

Os outros entraram e permaneceram reunidos perto das estantes de livros na parede dos fundos.

— Não — sussurrei. — Eu a vi.

— Não tem ninguém aqui — Brendan repetiu, ainda olhando para a mesa comprida, que estava vazia.

Completamente vazia. A madeira escura reluzia sob a luz do teto.

Brendan se virou para mim. Eu não conseguia interpretar sua expressão. Será que ele estava preocupado comigo?

— Não foi coisa da minha cabeça — afirmei. — Ela estava aqui dentro. Tinha pedaços de animais...

Um corpo de cachorro. Ela estava bem ali.

Virei-me e vi que os outros me observavam atentamente. Ninguém dizia uma palavra, mas eu sabia o que estavam pensando.

Rachel enlouqueceu.

Rachel está vendo espíritos.

Rachel está maluca.

— Não sou maluca! — gritei. Então, virei-me e disparei para a porta. Sem pensar, sem nem perceber o que eu estava fazendo, passei por April e Geena, afastando-as do meu caminho e saindo pelo corredor. Eu tinha de me afastar. Precisava fugir do olhar deles, das expressões duras que me julgavam, sentindo pena de mim. Pobre Rachel, perdeu a cabeça.

Corri cegamente pelo corredor, virei e continuei correndo por outro. Este estava escuro, exceto por uma luz fraca vinda de uma janela na outra ponta.

Dava para ouvir Brendan gritando meu nome, gritando para que eu parasse.

Mas continuei correndo.

Continuei correndo, até que vi algo. Ou alguém.

Um borrão. Somente um borrão de cor contrastando com a luz cinza. Alguém atravessou o corredor mais adiante. Alguém correndo.

E eu o reconheci. Mesmo na escuridão, eu o reconheci. Mas era impossível. Não podia ser.

Mac? Mac Garland?

Não, sem chance.

Por que o Mac estaria aqui?

— Ei... Mac? — gritei seu nome, e voltei a correr. — Mac? É você? Eu te vi!

Será que ele me seguiu até aqui?

Por quê?

Talvez eu estivesse errada. Talvez não fosse o Mac. Mas pensei ter reconhecido seu cabelo liso e louro-escuro. Reconheci o jeito como ele fica ereto quando corre (uma vez, eu lhe disse que ele corria como uma girafa).

— Mac? Eu vi você! Mac? — Minha voz ecoava pelas paredes, aguda e alta.

Encarando a escuridão, fui desacelerando e parei. Nem sinal dele. De alguma forma eu o perdera de vista. Será que virei no lugar errado? Ele estaria se escondendo em um dos quartos? Eu me curvei e apoiei as mãos sobre os joelhos. Respirei fundo repetidas vezes, tentando fazer meu coração desacelerar.

Eu me ergui, ainda com o coração disparado. Perdi o ar quando ouvi passos rápidos. Batidas fortes. Atrás de mim. Vindo depressa.

— Hã? — Eu me virei.

E vi alguém vindo correndo, com as mãos estendidas pra me pegar. Um homem com uma máscara preta.

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