Capítulo 27 - A última vez que a cortina vai se abrir

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Lutando para me soltar, abaixei a cabeça e dei um tranco para a frente com toda minha força. As mãos deslizaram de mim e cambaleei de encontro à parede.

Tentando respirar, eu me virei. E vi Mac Garland.

— Mac! O que você está fazendo aqui? — perguntei, sem ar.

Ele também estava ofegante. Seu cabelo louro-escuro lhe caía na testa. Ele estreitou os olhos cinzentos para mim.

— Mac... você me machucou — gritei. — Por que você está aqui? — Então as palavras começaram a sair como uma avalanche. — Eu vi você correndo. Sabia que era você. O que está havendo? Me fala! Ele olhou para os dois lados.

— Depois eu explico — ele respondeu, num sussurro ofegante. — Anda logo.

— Andar logo? — exclamei. — O que você quer dizer? O que você quer, Mac? Responde. O que você está fazendo aqui? Você me seguiu?

— Depois — ele repetiu. Ele estendeu os braços para mim de novo, mas recusei. — Vem comigo,

Rachel. Eu te disse. Eu avisei que iam acontecer coisas.

— Os assassinatos? Você sabia disso na semana passada?

Ele não respondeu, apenas afastou o cabelo da testa com uma das mãos. Depois deu um impulso para a frente e agarrou a minha mão. E segurou com força. — Vamos.

— Não! Me solta! — berrei. — Me solta! Os assassinatos, Mac. Você sabia deles?

Ele me olhou de cara feia. Ele é um cara bonito, mas é horrendo quando está zangado.

— Cala a boca — ele soltou, novamente olhando de um lado para o outro. — Não sei do que você está falando.

— Socorro... alguém me ajuda! — Tentei gritar para o pessoal na outra sala, mas as palavras saíram num sussurro engasgado.

— Não seja idiota — ele brigou. — Cala a boca e venha comigo. Agora. Eu tenho uma canoa, Rachel. Posso tirar você daqui.

Eu me soltei e recuei vários passos.

— Não vou a lugar nenhum com você. Responde. O que você sabe sobre os assassinatos?

— Temos que ir, rápido, Rachel. Mais tarde eu explico. Não há tempo.

Ele estava arfando, respirando depressa. Eu já o vira zangado, mas nunca o vi assim, tão desesperado.

— Eu não vou com você — falei. Cerrei meus dentes e enrijeci meu corpo inteiro, me preparando para correr. Mac estava no meio do corredor, e eu teria de enganá-lo, de alguma forma, para poder passar por ele.

Brendan e os outros ainda estavam na sala no fim do corredor. Eu sabia que estava a poucos metros da segurança.

— Eu estou te avisando — disse Mac, seu olhar vacilava. Seu rosto estava vermelho de raiva. — Eu estou te avisando. Sei o que vai acontecer, Rachel... vou tirar você daqui. Mas você tem que ir agora. Vamos!

Eu o encarava, pensando, tentando desesperadamente planejar uma estratégia.

Se eu disparar para a esquerda, talvez possa fazer com que ele se mova para a esquerda. Então, vou desequilibrá-lo, se eu correr para a direita.

Respirei fundo, me preparando para correr. Então, notei algo nos olhos de Mac: ele não estava me olhando. Seu olhar estava sobre o meu ombro, em algo no fim do corredor.

A expressão dele mudou e seus olhos se arregalaram de medo. Para minha surpresa, Mac deu as costas e saiu correndo na direção oposta. Antes que eu pudesse dizer uma palavra, ele desapareceu ao virar num corredor.

— Que estranho — comentei.

Meu coração estava agitado em meu peito. Eu me virei e olhei o corredor escuro. Não enxerguei nada. Usei a parede para me impulsionar e cambaleei, com as pernas trêmulas, de volta para a sala, com os outros.

— Brendan... — chamei.

Ele se virou ao som do meu grito.

— Rachel? Você saiu de novo?

— Eu... eu... eu... — gaguejei, pensando em Mac e em seus olhos arregalados e enlouquecidos. Brendan não me deu nem chance de dizer algo.

— Venha comigo. Nós precisamos nos reorganizar. Pensar no nosso próximo passo.

Olhei o corpo de Eric de relance, esticado no sofá. Sua boca estava aberta e os olhos revirados para trás.

Senti uma pontada de terror que apertou minha garganta. Segui Brendan, enquanto ele levava todo mundo pelos corredores compridos. Ele mantinha os olhos fixos à frente e dava passos longos e rápidos, como se estivesse desesperado para se afastar da sala, da visão de Eric imóvel e morto.

Brendan nos levou a uma sala grande, onde não havíamos estado antes. Uma cortina azul se estendia ao longo da parede dos fundos. Poltronas e sofás estavam de frente para a cortina. Era obviamente uma sala de projeção.

Brendan gesticulou em direção às poltronas e aos sofás.

— Todo mundo pode se sentar. Nós precisamos conversar.

Kenny e Morgan despencaram no sofá. Eu sentei numa poltrona de couro marrom. Spider sentou no braço largo da minha poltrona.

— Isso não pode estar acontecendo — ele sussurrou. — Alguém tem que vir pra nos salvar... antes... antes... — a voz dele foi sumindo.

Eu sabia o que ele dia dizer. Antes que todo mundo morra, um a um.

Geena e April não se sentaram. Elas ficaram em pé, tensas, recostadas numa parede, de braços cruzados. Geena mordia o lábio inferior, nervosa, e agora um filete de sangue escorria por seu queixo. Brendan foi para a frente da cortina e começou a andar de um lado para o outro. Finalmente, ele parou e se virou para nós.

— Esta foi uma sala feliz pra minha família — começou ele. — Este é o nosso pequeno teatro, onde costumávamos fazer peças quando éramos crianças, e fazíamos shows engraçados. — Ele suspirou. — Houve muitos bons momentos nesta sala. Mas... eu acho que posso dizer que esta é a última vez que a cortina vai se abrir.

Ele caminhou até o canto da parede, pegou uma corda fina, com as duas mãos, e começou a puxar. E, ao puxar, as cortinas foram lentamente se abrindo.

O choque preencheu a sala quando vimos o que havia por trás da cortina. Então, houve gritos quando percebemos que estávamos olhando para três corpos.

Os corpos de nossos amigos. Patti, Kerry e Eric. De bruços, empilhados, um por cima do outro.

— Como... como eles vieram parar aqui? — gritei, com a voz rouca de pavor. — Quem fez isso? Brendan... quem os trouxe pra cá?

Tentei desviar o olhar. Mas a imagem horrenda me mantinha em transe.

Eric estava embaixo. Kerry em cima dele, com suas pernas longas dobradas num ângulo estranho. Patti estava esparramada, de bruços, por cima de Kerry, com os braços largados no chão e os cabelos espalhados por seu rosto sem vida.

— Não... não... — Sacudi a cabeça, como se tentasse afastar a cena repugnante. — Não... E, enquanto eu observava, tomada de pavor, a pilha de corpos começou a se mexer.

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