eu aceito a solidão

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Então, eu aceito a solidão.
A tristeza discreta de acompanhar
pessoas acompanhadas.
A formalidade de cumprimentar casais
sem ter ninguém ao meu lado,
ou dois casacos no banco de trás do meu carro.
O peso da individualidade vazia
e da liberdade superestimada de não estar junto de alguém,
cai sobre meus ombros quando eu deito.
Grilhões que às vezes pesam na hora de acordar.
Amarras no meu coração que me lembram
que em certos dias eu levanto por mim,
e que talvez, em alguns dias, nem por mim.
Até mesmo eu, que me coroei o rei da minha vida,
que seguro nos braços o amor próprio que me habita,
que me conformo calado com os caprichos do destino,
que sou falsamente consolado quando dizem "sua hora vai chegar",
que decidi aprender com cada amor que sou obrigado a enterrar,
e a crescer com a falta da reciprocidade.
Eu não aguento mais a sensação de solidão,
de ter pra quem ligar quando o mundo cai,
mas de não ter pra quem querer ligar quando o mundo está
normal, tedioso e casual.
O amor não está no surpreendente,
nem no urgente,
nem no medo,
ou nos sentimentos intensos demais.
O amor está principalmente na calmaria,
e quem eu amei
percebeu,
a calma pra mim é insuportável.
Eu prefiro estar sentindo a dor da decepção
do que obrigado a viver em paz
na calmaria de um coração não-apaixonado.
Eu sei que foi amor
porque perto de você o silêncio bastava,
e o não-extraordinário era o suficiente.
Eu aceito a solidão
e tudo o que ela significa quando vive em mim.
A falta de inspiração, o sumiço da vontade,
as manhãs perdidas dormindo demais,
as noites vazias dormindo de menos,
e a sensação de estar preso numa esperança
que não morre nunca.
Nem com as pauladas do destino,
nem quando eu imploro pra ela morrer e me deixar.
Afinal, a esperança fortalecida pelo tempo
e pela vontade de amar
ainda vive dentro de mim,
só não me avisaram que quando ela apanhasse,
eu também fosse apanhar.

Mar MeninoOnde histórias criam vida. Descubra agora