eu tenho essa mania de achar, inconscientemente, que eu posso salvar as pessoas. vejo alguém meio triste, meio cansado, e de repente passo a dedicar todo o tempo que consigo àquela pessoa, esperando que, com os meus cuidados, ela seja capaz de ficar bem. eu sei que não tem nada de errado em gostar de alguém e muito menos em estar por perto quando essa pessoa precisa de mim.
o problema é que eu uso meus relacionamentos como escapatória, às vezes. pra esquecer que eu também preciso dos meus cuidados e, por sinal, deveria pensar nisso em primeiro lugar. talvez porque eu tenha medo de olhar pra mim mesmo. de admitir onde dói.
sim: porque eu não posso me doar se não tiver organizado minhas próprias estruturas, respirando fundo, tirando um tempo pra pensar em mim mesmo e descansado depois da rotina exaustiva. não posso esquecer da minha terapia, de vomitar meus sentimentos mais pesados e lidar com eles. nem de lembrar dos momentos bons dos últimos dias. pra depois, então, escutar os problemas de outras pessoas e estar ali pra quando elas precisarem de mim. mas só se eu também puder estar. só se isso não for um peso a mais pra mim, sem acrescentar muitas coisas boas.
o mais importante disso tudo, eu acho, é entender que ouvir e tentar ser compreensivo é uma coisa. outra coisa é achar que eu posso esquecer dos meus próprios problemas pra tentar resolver os dos meus amigos, dos meus pais ou do menina que conheci há uns dias mas já mexe comigo. eu preciso de foco. porque quando não consigo cuidar de mim mesmo e resolver minhas próprias questões, tendo a me concentrar nas dos outros. isso é um risco enorme.
porque, sinceramente, eu sei que não posso salvar nenhuma outra pessoa de nada. mas, muitas vezes, eu posso salvar a mim mesmo. e não vai ser fácil, claro. sempre vai ser difícil pra mim enxergar minhas feridas pra poder tratá-las. sempre dói muito antes da cura. mas esse é um risco que eu quero correr.
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Mar Menino
Poesíaesse livro traz textos e poemas sobre meus dias em companhia da ansiedade, retratando desde o dia em que nos conhecemos. até os dias sombrios em que meu corpo sorria de maneira automática e eu era apenas uma carcaça sendo dirigida. o livro também re...