Sento na cama e vejo os dois ainda dormindo então dirijo-me para o banheiro querendo lavar os cortes sujos de meus braços. Passo pela pequena porta sem fazer muito barulho para não acordar ninguém. O banheiro não era grande, mas era perfeito para que o dono da casa ficasse à vontade. A pia ficava a estrada na porta com um pequeno espelho pendurado em cima, uma de suas pontas estava quebrada. Olhei para meu reflexo não pensando em nada, apenas o observando.
Jogo um pouco de água em meu rosto e volto a olhar para meu reflexo. Solto meu cabelo que estava preso desde ontem fazendo com que os fios caíssem sobre meus ombros e escondessem onde minhas asas saiam das costas. Os fios de meu cabelo ainda estavam brilhantes o que me deixou surpresa.
Molho minha mão para passar no braço foi arranhado de leve pela harpia, sem desviar minha atenção do espelho. Passo minha mão sobre o machucado esperando que a ardência aparecesse a qualquer momento, mas não acontece. Olho para o machucado confusa. Ele não está mais ali.-Mas o que?-Falei para mim mesma olhando para meu braço dessa vez. Estava surpresa e confusa ao mesmo tempo.
Voltei para o quarto para colocar minha armadura que se encontrava encostada na cama junto com minha espada, assim como as deixei e depois as botas. Caminho até a cozinha pegando um copo d'água e uma fruta em cima da mesa. Sento na cadeira que estava virada de frente para a janela, novamente olhando para o campo de batalha. Imagino meu pai ensinado movimentos para os outros assim como fez comigo, imagino, também, seu desapontamento quando alguém não faz certo o que ele acabara de demonstrar. Deixo um riso escapar imaginando seu estresse com as pessoas que o não levassem a sério.
Um guardião passa arrumando sua armadura indo em direção para a muralha com pressa. Devia ter acordado atrasado. Levanto da cadeira e chego mais perto da janela para sentir a brisa gelada que passava por ela. Mordo mais uma vez a fruta de minha mão, agora pensando nas pessoas trabalhadoras no mercado. O sorriso sai de meu rosto quando pensa nelas. São pessoas fazendo o que precisam fazer para sobreviver, não merecem serem deixadas aqui para morrer, não merecem. Três soldados passam pelo campo de batalha, um empurrando o outro brincando. Penso no que Igg dissera ontem à noite.
-No que tanto pensa?-meu pai diz indo pegar água, dando-me um susto e me tirando de meus pensamentos.
-Nada...
-Você e essa sua mania de achar que eu não te conheço.
Suspiro virando de costas para a janela para encará-lo.
-Tem que ter um jeito de tirarmos essas pessoas daqui... Temos que tirá-las daqui o mais rápido possível... as coisas não estão normais! Ontem fomos atacados pelos Gallus... vão esperar o que para fazer alguma coisa?
-Tenho certeza que daremos um jeito nisso. Quanto a essa questão, irei conversar com o rei para que aumente o número de guardiões da muralha.
-Não pai, você não está entendendo.-suspiro novamente ficando impaciente- não estamos seguros aqui! Tem pessoas que não conseguem se proteger por conta própria! O que elas vão fazer se derem de cara com uma dessas criaturas enquanto vão cuidar das plantações? Não há guardiões o suficiente para proteger a todos aqui.
- Gwen, eu sei que as coisas não estão "normais"- diz colocando o copo em cima da mesa.- mas acho que está exagerando. Também acho estranho harpias andando tão perto da vila, mas Gallus? Ninguém os vê há décadas.- "fala isso porquê dormiu o tempo todo durante o ataque deles ontem à noite" penso.
- Pai, escuta! Tem alguma coisa acontecendo e acho que...
-Chega, temos problemas mais importantes para cuidarmos no momento.
-Pai...
-Eu disse chega!
Bato minha mão na parede perto da janela bufando.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Valazia (não finalizada)
Fantasía"Há muito tempo que eu não sabia mais o que acontecia em Valazia, tudo o que me restava eram as lembranças que tinha de antes de deixar o país para trás. Era só eu e meu pai vivendo em uma cabana dentro da floresta, não era tão ruim quanto e...