Valazia (não finalizada)

Vinte e dois.

"-E é assim que se faz Gwen.-ele termina de explicar e passa a espada para minhas pequenas mãos.-agora tente fazer do jeito que te mostrei.

Eu prestava atenção em todos seus atos para que, dessa vez, eu não errasse. Pego a lâmina pesada de suas mãos nas minhas e tento levantá-la sem demonstrar a dificuldade que sentia em fazer tal ato, não conseguia a empunhar como ele, com tanta calma. Por mais que eu tentei não deixar que ele notasse meu esforço, ele nota e solta uma gargalhada.

-Tudo bem, começaremos com essa.-Meu pai me passa uma adaga que estava enterrada em uma de suas botas. Ela era linda! Seu cabo era dourado todo trabalhado nos detalhes em sua volta, ela possuía algumas pequenas esmeraldas espalhadas pelo dourado e uma no metal que também não deixava de ser bonito por ser a parte de metal.- Quem sabe um dia o lugar dessa adaga seja na sua armadura...-Ele joga ela para o alto e a pega pelo lado do metal afiado fazendo com que possa segurar no cabo com facilidade.

Ele pega a espada de minha outra mão e a coloca em suas costas assim como já o vi fazer milhares de vezes, era sempre o mesmo movimento. Agora era minha vez de impressiona-lo. Seguro a lâmina da mesma maneira que me mostrara minutos atrás, Tyron segura um galho longo para que possa corrigir minha postura enquanto faço os movimentos. Levanto a adaga para bloquear o galho e faço um movimento rápido para o atacar.

Seus olhos estavam arregalados em minha direção. Sua mão deixa o galho cair no chão sem preocupações e depois se dirigem para onde a adaga o perfurou sem saber o que fazer. Vejo seus olhos tristes me encarando novamente alternando entre eu e a lâmina. Seus joelhos fraquejam e ele cai sobre eles no chão ainda me encarando.

-O que você fez?

-Pai! Eu não queria! -digo desesperada tentando senta-lo o segurando com minhas pequenas mãozinhas.

-Errou novamente, Gwen!

-Vou acertar na próxima, pai! Eu prometo!- meus olhos já não me obedeciam e as lágrimas já eram impossíveis de serem contadas, meu rosto estava todo molhado e minhas mãos sujas de sangue...de seu sangue.

-Não vai ter uma próxima vez, Gwen.- sua voz era fria e seus olhos sem vida assim como seu corpo que termina de cair no solo em minha frente. O que eu fiz?"

Levanto rapidamente colocando minhas mãos em meu rosto para seca-lo. Minha respiração estava fora de controle e minha visão ainda não havia se ajustado pela quantidade de luz do lugar, que não era muito por ainda estar à noite. Olho para o lado e vejo que Noah ainda dormia, procuro Anne pelo lugar e meus olhos não conseguem a encontrá-la. Onde ela está?

A luz do rio estava muito mais forte do que quando a garota ruiva nos avisou, o que me deixava pensando se era mesmo a luz que irradiava a energia desconhecida...

Meus pés descalços caminham calmamente até a margem do rio enquanto minha mente vagueia pelo pesadelo que tivera instantes atrás. Eu me lembrava daquele dia....claro que não fora daquele jeito que acabara. Foi a primeira vez que meu pai me ensinou a empunhar uma espada, eu devia ter oito anos naquele dia, fazia tudo errado e demorei muito para começar a compreender os movimentos certos para ser capaz de lutar contra um oponente habilidoso, como Tyron.

A água bate na pele exposta de meus pés trazendo uma sensação boa consigo, não conseguia escapar da memória de Tyron me dando a adaga de presente, era meu aniversário de quatorze anos aquele dia, nós treinamos o dia inteiro na montanha e descemos escutando as árvores cochichando...bom, pelo menos eu as escutava, mas assim que chegamos em nossa pequena cabana, vejo um bolo em cima na mesa da cozinha. Ele estava caindo em pedaços, era realmente um desastre! Tinha morangos e mirtilos cobrindo o topo, e ele era todo torto, mas foi o melhor presente que já ganhara em toda a minha vida. Lembro-me de sentarmos para saborear o chocolate com as frutas e ele me contando a história da adaga que aguardava em sua bota, uma lâmina que eu ansiava pela posse desde de meus oito anos. "Comprei ela para sua mãe no seu aniversário de quatorze anos", minha boca cai aberta, por perceber que ele a tem por todo esse tempo, o fazendo rir instantaneamente. "Agora quero que ela seja sua...já me salvou de várias batalhas e quero que ela faça o mesmo para você".