Sete.

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O céu escuro chega acima de nós trazendo vários pontos brilhantes, a brisa se tornava mais gelada e conformar-nos-emos chegando mais ao sul, ela ficava cada vez mais fria. As folhas das árvores faziam barulho dependendo da velocidade do vento. A floresta pode ser silenciosa até demais algumas vezes, fazendo com que nos sentíssemos sozinhos no mundo, mas de um jeito bom, um que nos relaxa trazendo paz para nossas mentes. A intensidade do fogo perto de nós havia diminuído, mas estava aguentando firme.

Noah está deitado na grama observando o céu. Parece estar pensativo, no que estava pensando era outra história. Decido sentar perto de seu rosto inclinando meu corpo e olho para o mesmo ficando com o rosto em frente ao seu campo de visão, atrapalhando sua vista do céu. Sua expressão continua a mesma, mas agora ele olha em minha direção. Meu cabelo toca no chão em sua volta, alguns dos fios brancos pousam sobre sua bochecha. Arrumo minhas asas para que não toquem na fogueira ao nosso lado.

Eu sorrio para ele igual uma criança boba como se estivesse pedindo para que se sentasse. Agradeço mentalmente por ele ter entendido e levanta suas costas do chão, virando-se para ficar de frente para mim. Ele me encara no momento em que nossos olhos se encontram. Não utilizo muitas palavras , até porquê o controle de energia é mais a respeito do que consegue sentir no ambiente.

Pego uma de suas mãos, que se encontram na grama sustentando o seu corpo, fazendo com que sua postura mude para ficar confortável. Respiro fundo e coloco sua palma encostada na grama entre nós e posteriormente, coloco a minha sobre a dele. Seu olhar era curioso, não decide se para em minha pessoa ou em nossas mãos no solo.

Me esforço para transmitir uma parte da energia da natureza embaixo de nós para que chegasse a superfície e tocassem sua mão e então se chocasse com a dele. Seu rosto muda de expressão assim que sente as sentem tocando uma a outra. Guio sua segundo mão para a grama e ponho minha mão sobre a dele novamente, assim como fizemos com a outra. Agora eu tentava levar sua energia para mais longe, podendo sentir energias variadas a quilômetros de distância de nós. Fecho os olhos para levá-lo a cada canto que conseguia a alcançar no bosque. Não era tão fácil quanto parecia ser. Eram muitas distrações ao nosso redor e era preciso foco no que queria.

Nossas mãos deixam a grama me fazendo abrir os olhos e vendo que Noah estava fascinado pelo que acabara de vivenciar. Parecia estar sem palavras, mas já sabia o que estava pensando através de seu olhar.

-Nossa.- conseguiu dizer-então é assim que você se sente quando...uau! Todos deveriam poder sentir isso...nossa!- ele se atrapalhava com suas palavras. Sorrio para ele orgulhosa.- talvez não todos -disse pensando melhor me fazendo rir.

-Que bom que gostou. -digo sorridente. Seu rosto me analisava curiosamente me deixando um pouco constrangida. O azul de seus olhos estavam notáveis no momento e era até engraçado pensar que combinavam perfeitamente com a intensidade do preto de suas asas, como se tivesse sido planejado por alguém.

-Me pergunto se é realmente uma bagunça aí dentro como reclama tanto.- diz quebrando meu ar constrangido, finalmente.

Ofereço minha mão para que a segurasse e assim, permitindo que ele sinta minhas energias. Não era nada mais justo, já que senti a dele mais de uma vez.

Noah a pega delicadamente e a puxa para mais perto de si esticando meu braço. Sinto meu rosto queimar de vergonha, mas procuro não ligar muito para isso. Olho para minha mão e depois para seu rosto, permitindo que ele pudesse descobrir o que quisesse sobre mim.

Seu olhar mudava a cada minuto que passava, como se estivesse analisando tudo enquanto podia e o mais rápido possível, pois como eu já disse antes, sentia que dentro de mim havia muito mais do que apenas uma e que meu corpo era uma espécie de abrigo para todas essas energias diferentes que não devem ter conseguido achar um lar. Estranho pensar desse jeito, me faz parecer mais uma cápsula do que uma valaziana.

Seus olhos se encontram com os meus novamente e permanece assim por alguns instantes, até que decido puxa meu braço de volta para mim, impedindo que aquilo continuasse. Desviei meu olhar fitando o chão ao seu lado, mas conseguia sentir seus olhos ainda em mim. O silêncio estava me matando, aquilo estava sendo uma tortura. Ele deve estar tão perdido quanto eu em relação a eu mesma.

A maior parte da minha vida foi eu e meu pai, apenas. Na maioria das vezes tinha somente a mim. Havia muitas horas que desejava ser igual a minha mãe...sociável. Ainda estava tentando me acostumar com a sensação de não estar sozinha o tempo todo.

-Descobriu o que queria?-falei quebrando o silêncio que pairava sobre nós há algum tempo, voltando minha atenção à ele, que fez que sim com a cabeça sem desviar seu olhar até que percebeu o quão constrangida aquilo estava me deixando. Chacoalhou a cabeça e limpou a garganta. - e então...?

-Então o que?-pergunta surpreso.

-O que você viu?

Noah parece estar tentando organizar seus pensamentos e tenta falar alguma coisa, mas nenhuma palavra sai de sua boca me deixando impaciente. Acho que eu quebrei o garoto, devia realmente ser uma bagunça...grande bagunça.

Levanto-me e vou para meu lugar me acomodar para dormir visto que ele não falaria nada. Assim que sento, posso ver que ainda permanece na mesma posição de antes, olhando para o nada em sua frente, então me deito sobre a grama do outro lado da fogueira e me viro de costas para ele, não demora muito para que pegasse no sono.

Valazia (não finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora