Bárbara López
Na casa onde moro estávamos eu minha irmã, que infelizmente hoje é a única família que me resta. As lembranças do dia do acidente de avião que minha família sofreu, me assombram até hoje como um trauma chamado antropofobia, o medo de várias pessoas juntas foi trazido pelo fato que ninguém ajudou meus pais quando o bendito avião caiu no meio da mata. O cheiro da gasolina inebriava meus sentidos e eu não podia deixar minha irmã sozinha, ela tinha apenas 8 anos. As pessoas estavam apavoradas, como eu e Mariana.
Meus pais ficaram presos com os bancos da frente, com o impacto da aeronave os bancos saíram de seus lugares e prenderam as pernas deles. Ninguém fez nada, eles morreram pedindo socorro e gritando para que salvassem suas filhas.
O cheiro da gasolina, os gritos, o sangue que escorria de meus braços e as mãos de minha irmã que rodeavam meu pescoço eram as únicas coisas que eu conseguia distinguir no meio de todo o pavor que meu corpo estava sentindo. A visão que eu tinha era da minha mãe chorando com a testa sangrando, ao seu lado tinha meu pai, ele já estava morto. Cada vez a que eu olhava para o lado e voltava minha atenção para minha mãe, cada vez ela ficava mais distante, os braços fortes de um estranho me puxavam para longe das carcaças do avião, a aeronave se partiu em dois pedaços com a queda. Meu ar falhava toda vez que via mais gente, o coração estava disparado e os sentidos protetivos eram os únicos que ainda funcionavam. Os olhos apavorados da minha irmã mostravam toda a força que eu precisava para não desistir de andar para longe daquele avião.
- Cuide da sua irmã! - Foram as ultimas palavras da minha mãe antes de fechar os olhos. Normalmente nessas situações eu deveria estar chorando como minha irmã estava em meu colo, mas não, eu não conseguia chorar. Meu estado de pavor tanto que nenhuma lágrima tinha coragem de cair.
Nos levaram para um lugar mais isolado da parte onde os destroços do avião se encontravam. Algumas das pessoas que não ficaram tão machucadas, estavam ajudando as que estavam feridas mais gravemente. Assim que cheguei no local onde pude deixar minha irmã sentada, eu me sentei ao seu lado no tronco caído da árvore e abracei meus joelhos, chorando em desespero por finalmente ter entendido que meus pais haviam morrido.
- Bar, onde estão papai e mamãe? - Mariana perguntou com a voz marcada pelo choro, seus olhos estavam vermelhos e de vez em quando ela franzia a testa por estar sendo derrubado álcool no seu ferimento no braço esquerdo.
- Estão lá em cima. - Disse tentando ao máximo me fazer de forte na frente dela. - As duas estrelinhas mais brilhosas lá em cima, são mamãe e papai.
- Eles irão voltar ? - Ela perguntou olhando para o céu, seus olhos fixados nas duas estrelas que eu acabei de mencionar, as lágrimas não paravam de descer por os nossos rostos.
- Nos nossos sonhos. - Mariana concorda com a cabeça de maneira muito fraca, quase imperceptível.
Ficamos em silêncio ouvindo todos os gritos e as pessoas chorando em nossa volta. Meu peito subia e descia de forma rápida, meu coração estava acelerado e minhas mãos suavam. Não sabia o que era, só sabia que quanto mais gente chegava, pior eu ficava. Ficava mais abafado e cada vez mais me faltava o ar. Olho para o lado e vejo que sou uma das únicas pessoas que não estava tão machucada. O único ferimento que eu tinha era um corte feio no braço e um de raspão na perna.
- Posso te ajudar ? - Azul oceano, brilhantes ao luz do luar, o vermelho do sangue realçava o azul de seus olhos.
- Foi só um corte, não é nada de mais. - Notei que a cada segundo que se passava comigo olhando para ela, minha respiração foi desacelerando, meus batimentos foram diminuindo e minhas mãos pararam de suar.
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Azul Oceano - Barbarena
RomanceAos 14 anos Bárbara López e sua família sofreram um grave acidente de avião, com a queda da aeronave Bárbara e sua irmã mais nova, Mariana, perderam o pai e a mãe. Seu pai era dono da maior empresa do México, a L-Corp. Nessa trágica noite, uma menin...