Capítulo 1

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     A mesa do escritório estava abarrotada de papéis

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     A mesa do escritório estava abarrotada de papéis. Cartas que começaram a chegar no dia seguinte do enterro de meu pai e não pararam desde então. Agora, uma semana depois, a pilha estava gigantesca. Mas não pense que são doces cartas de condolências. Oh, longe disso. São cartas de cobrança de dívidas, duras e precisas, com palavras e quantias afiadas como lâmina de faca recém amolada. Cada uma mostrava seu valor e os credores de papai não demonstravam paciência alguma para esperar receber o que lhes é devido.

     Aquele maldito acabou com toda nossa fortuna. Em que? Em carruagens que agora estão descuidadas apodrecendo nos depósitos, em garrafas e barris das bebidas alcoólicas que ele se empanturrava noite após noite, e em mulheres. Mais da metade daquelas cobranças eram de amantes, meretrizes e de bordéis. Exigiam o pagamento urgente aos seus "serviços prestados". As dívidas mais modestas ali eram as dos suprimentos da casa e fazenda. E, claro, a lista de pagamento dos empregados.

     Não que houvesse restado muitos. Mais da metade foi demitido quando a nossa decadência teve início, mais de três anos atrás, quando lorde Mackenzie rompeu os negócios conosco. Consequentemente, devido a mão de obra reduzida, nossa produção caiu. E com o passar desses anos a qualidade de nossa colheita caiu. Hoje em dia, quem adquiria nossos grãos eram alguns pobres mercadores que compravam da Fazenda Kedard apenas por não terem dinheiro suficiente para produtos melhores.

     Um suspiro escapou de meus lábios, e fechei os olhos enquanto apertava as têmporas para tentar aliviar a dor de cabeça devido a tanta leitura. Eu não podia sequer lembrar dos Mackenzie sem estremecer, sem que tudo que se sucedeu depois daquela festa maldita voltasse a minha mente com riqueza de detalhes.

     Lembrei-me do silêncio taciturno de papai durante a viagem de volta. Do quanto rezei naquela noite entre os sacolejos da carruagem. Eu tinha absoluta certeza que era meu fim, que eu não veria o nascer do sol no dia seguinte. Mas meu pai não me matou.

     Ele me açoitou. Dezenove vezes. Uma para cada ano de minha vida, que segundo ele, foram anos que eu apenas o atormentei. Nos três primeiros golpes eu gritei, tentei me soltar puxando as cordas que me mantinham presa à uma madeira no galpão de armazenamento. No quarto golpe eu implorei, pedi misericórdia ao meu algoz entre os soluços do meu choro. Depois do décimo golpe eu apenas aceitei a dor e contei.

Onze, doze, treze, quatorze, quinze...

     Ali senti minha carne romper, senti o sangue quente espirrando e escorrendo. Podia ouvir a respiração de papai, ofegante devido ao esforço. Eu sentia o prazer sádico dele, que se regozijava naquele momento, vendo minha dor e humilhação.

Dezesseis, dezessete, dezoito, dezenove.

     O silêncio que veio depois da última chibatada era ensurdecedor. Havia um zunido em minha mente, eu me sentia completamente tonta e totalmente incapaz de mover sequer um dedo. Ele me soltou. Ele se abaixou a minha frente e levantou meu rosto para que eu o olhasse nos olhos. "Quando eu lhe der uma ordem, cumpra! Nem todo escravo é mulher, Missy. Mas toda mulher é um escravo."

Meu querido Senhor Mackenzie - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora