Capítulo 4

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     Chegamos em casa pouco antes do entardecer

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     Chegamos em casa pouco antes do entardecer. Apenas tive tempo de tomar um banho e queimar as malditas cartas das amantes já que pelo menos aquele assunto estava resolvido. Já era quase hora da reunião que solicitei com todos os empregados quando eu dispus na minha penteadeira todas as moedas que minhas vendas do dia me proporcionaram. Sem nem contar moeda a moeda estava claro que lucrei mais do que eu esperava, notei com gratidão. E eu suspeito que esse fato se deva não à qualidade das minhas mercadorias, mas sim a compaixão daquelas pessoas. Minha atual situação não era segredo e, devido ao meu passado afortunado, todos me conheciam.

    Me incomoda profundamente que eu ande por aí causando pena nas pessoas. Eu ouvi os cochichos e sussuros ao meu redor enquanto caminhava pela feira:"O pobre pai fez de tudo para que ela se casasse e ela não quis, e agora está aí passando necessidades.", "Quanto tempo levará para que esteja pedindo esmolas ou trabalhando num bordel?", alguns eram até piores. Odeio que falem essas coisas de mim, odeio que as pessoas não conheçam a verdade sobre aquele miserável. Mas nessa altura, honestamente, o que eu poderia fazer?

     Guardo na gaveta o saquinho de couro, pagamento de Ian Mackenzie pelo broche, e levo o restante do dinheiro para o escritório e o guardo cuidadosamente numa caixa de madeira maciça. Além de me preocupar com cada carta de cobrança que chegou nesses dias, eu li e reli todo o livro de contabilidade e sabia exatamente quanto era devido a cada empregado ali. Como meu pai era injusto! Alguns tinham salário atrasado há meses, enquanto alguns poucos haviam recebido adiantamento pelos seus serviços.

     Com um suspiro de indignação saio e sigo até a bendita reunião. Ao chegar percebo que todos já estão ali, inclusive os capangas dele. Desço alguns degraus para ficar mais próxima e começo logo o que eu tenho que fazer.

-- Todos vocês me ouvem? -- eles balançam a cabeça afirmativamente -- Ótimo. Primeiramente gostaria de agradecer pelo trabalho árduo de cada um em todos esses anos. Os chamei aqui para uma boa notícia e um comunicado. A boa nova é que cada um de vocês receberá o que lhes é devido hoje, junto das minhas profundas desculpas por tamanho atraso nos pagamentos.

     Um leve burburinho tem início com a comemoração deles. Vejo os sorrisos naqueles rostos suados, sujos e cansados. Aqueles sorrisos acendem uma centelha de alegria em mim, coisa que não sinto há algum tempo.

-- O comunicado é o que vocês talvez já saibam, o próximo pagamento será apenas após a colheita que terá início em alguns meses. E eu não posso garantir a qualidade dessa safra, portanto não posso prometer que não mais haverão atrasos em seus pagamentos futuros. Então se alguém quiser, por livre e espontânea vontade, sair daqui para procurar um novo trabalho tem a minha permissão e a minha benção. Conversarei no escritório com cada um a sós, para pagá-los e saber de sua decisão. Agnes vai ajudá-los a organizar uma fila, os mais velhos primeiro, por favor.

     Retiro-me seguindo ao escritório e ali fico por um longo, longo tempo.

     Eu observo o líquido âmbar brilhar no copo à luz da lua cheia enquanto estou aqui, sentada à grande janela de meus aposentos, intercalando meus olhares entre ele e o belo céu noturno

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     Eu observo o líquido âmbar brilhar no copo à luz da lua cheia enquanto estou aqui, sentada à grande janela de meus aposentos, intercalando meus olhares entre ele e o belo céu noturno. Já é madrugada e eu ainda não consegui dormir. Não que eu tenha ótimas noites de sono, mas geralmente sempre consigo descansar pelo menos algumas horas. Sinto o cansaço nos ossos, me consumindo tanto que mal percebo outras coisas além dele, já que não como desde o café da manhã e a fome ainda não se fez presente. Cansaço e preocupação, é o que sou agora.

     Quase todos os empregados irão embora pela manhã, ou mais tardar no dia seguinte. Quem me restou? Os mais velhos e cansados, que disseram não ter coragem ou disposição de procurar novo trabalho à essa altura da vida. Sou grata pois poucos trabalhadores ainda é melhor do que não ter nenhum, mas estou apreensiva pois essa quantidade é insuficiente para a colheita e pior, mesmo todos juntos eles não tem mais a força e energia necessária para tal tarefa. Temo pela saúde deles caso se esforcem demais e temo perder a safra.

     O que fazer? Eu honestamente não sei. Gastei quase todo o dinheiro que arrecadei e só me restaram as vinte moedas daquele bendito saco de couro, que serão utilizadas amanhã para o pagamento das dívidas dos suprimentos da casa e para comprar alguma comida. Tomo num gole só o restante do conhaque, sentindo a ironia daquilo.

-- Está rindo de mim, não está, papai?

     Nesse momento ouço um uivo, e sinto os pelos do meu braço se arrepiarem. Levanto-me, deposito o copo do aparador e saio do quarto perseguindo aquele som. Ouço novamente aquele gemido que percebo vir do quarto de meu pai.

-- Você realmente odeia que eu te chame de pai, não é? -- eu digo segurando a maçaneta da porta e a giro lentamente.

     Desde o dia que o vi morto ali, deitado no chão numa gigantesca poça de seu próprio sangue, eu nunca mais voltei naquele quarto assombrado. E agora parecia que ele estava me chamando ali para zombar de mim, troçando das dificuldades que venho enfrentando. Com o canto da visão, vejo algo branco flutuando e com um pequeno alívio percebo ser a cortina. A janela está aberta graças ao vento e é dali que vem aquele som de mau agouro. Apresso-me a fechá-la e ao sair, paro na porta observando por um breve momento a mancha negra que permanece no chão.

-- Vai ter que se esforçar mais para me destruir, papai. -- digo enfatizando a última palavra.

     Retorno ao meu quarto e tranco a porta. Encaminho-me ao meu assento confortável na janela mas algo me detém, então desvio meu caminho para a penteadeira retirando de sua gaveta a bolsinha do pagamento de Ian Mackenzie. Espalho as moedas ali e me surpreendo, notando haver bem mais de vinte moedas. Como não notei que o peso estava acima do esperado? Havia pelo menos trinta moedas de prata e, para meu espanto, quatro de ouro. Ele certamente sabia o valor que possuía ali, então porque não me pagou apenas a quantia que pedi, dando-me todo aquele dinheiro?

     "Porque ele queria te ajudar e certamente você recusaria"

     Uma voz soa em minha cabeça. Me ajudar? Então porque simplesmente não me disse?

     "Porque você nunca aceitaria a ajuda de um Mackenzie. Mesmo não estando em posição de recusar qualquer auxílio, o pouco que restou de seu orgulho não admitiria isso e ele sabe."

-- Eu não diria orgulho. Está mais para uma soma da resignação de minha condição presente e a vergonha de atos do passado. -- digo em voz alta para ninguém -- Oh, céus, aqui estou eu em plena madrugada conversando sozinha, depois de discutir com o fantasma de meu pai e beber algumas doses de conhaque, assim como aquele maldito fazia.

     Abandono as moedas onde estão e sigo ao meu cantinho na janela, imaginando se seria isso que o destino me reserva: ser uma maluca solitária. Isso, mais que a falência iminente, me deixa completamente apavorada.

-- Deuses, ouçam minha prece. Eu estou tão perdida, tão sem rumo, tão só… não me abandonem também. Enviem-me um milagre.

     Gente, esse capitulo está meio médio, eu sei! Mas nele eu quis passar a solidão que nossa Missy sente, como ela está perdida e sem esperança!

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     Gente, esse capitulo está meio médio, eu sei! Mas nele eu quis passar a solidão que nossa Missy sente, como ela está perdida e sem esperança!

Me digam o que estão achando e o que esperam dessa história ♥️😉😘

Meu querido Senhor Mackenzie - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora