Seis semanas se passaram com a velocidade de um raio e felizmente sem muitas surpresas. Depois do ataque de Erik, a visita de Ian Mackenzie e depois a descoberta de que eu matei aquele homem, tudo o que eu mais necessitava era a calmaria e o conforto de uma rotina, coisas que agradecidamente consegui. E isso melhorou minha saúde, pois recuperei o peso que havia perdido, e o mal estar e fraqueza apesar de ainda presentes, eram bem menos frequentes. Até minhas noites de sono estavam relativamente melhores, pois o cansaço do trabalho me dominava tanto que os uivos agonizantes do quarto assombrado me acordavam com menos assiduidade.
As manhãs eu passava na plantação, vistoriando se tudo estava nos conformes e ajudava meus poucos homens nos afazeres necessários. As tardes eu passava em casa, algumas vezes conversando com Agnes, outras apenas descansando por alguns momentos. Ao fim da tarde, eu alimentava os animais e durante a noite após o jantar, eu observava as poucas moedas que me restou com preocupação.
Apesar de economizarmos em tudo, e de haver poucos dias para o início da colheita, o medo e o receio não me abandonavam um minuto sequer. Eu tinha sérias dúvidas de que apenas quatro pessoas conseguiriam ceifar os grãos no tempo necessário, o que era assustador, pois caso houvesse atraso seria tudo perdido. Talvez eu precisaria usar essas moedas para contratar mais alguns homens por alguns dias, mas caso o fizesse então não teríamos mais dinheiro para comer até que toda a mercadoria fosse vendida.
Agora, sentada em meu escritório fazendo as anotações dos últimos gastos com mantimentos, penso na proposta que Ian me fez há um mês e meio atrás e sorrio ao perceber como são diferentes esses irmãos. Jamie é tempestuoso e explosivo, determinado e um tanto teimoso. Já Ian era mais suave, de maneiras mais calmas, porém tão determinado quanto o irmão. Com aquela voz grossa e baixa, era capaz de conseguir o que queria com um doce sussurro ao pé do ouvido, sem ser necessário recorrer à gritaria e discussões. Jamie é uma tempestade de verão. Ian é a brisa da primavera, e eu sempre preferi essa estação.
Faço uma pequena anotação mental, um lembrete de que Ian é um tipo de homem muito perigoso, porém muito agradável, e me doía admitir que eu sentia sua falta. Apesar de ser claramente ridículo pois ele jamais foi meu amigo, e não conversamos mais do que algumas poucas vezes.
"Ele foi o único que sequer lhe ofereceu ajuda. O único que mostrou o desejo de lhe ver bem e se esforçou realmente para tal. E você o recusou, sua imbecil."
-- Cale a boca, consciência inútil! -- sussurro comigo mesma, calando essa voz intrometida e impertinente que insiste em me infernizar.
-- Falou comigo, senhorita? -- Agnes pergunta de onde está, sentada na poltrona à frente da lareira do cômodo.
Fecho o livro e dou por encerrada meus deveres pelo dia de hoje, pois já é quase hora de dormir e meus olhos doem de tentar ler e escrever à horas altas como essa.
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Meu querido Senhor Mackenzie - Livro 2
RomanceNaquela remota cidade da Escócia todos sabem que a senhorita Kedard é uma mulher bela, arrogante e interesseira, capaz de fazer qualquer coisa para conseguir um casamento vantajoso. Mas... alguém realmente conhece Missy Kedard? Alguém sabe qua...