Capítulo 34

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Ian

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Ian

     Ao descer da carruagem inspiro profundamente aquele aroma com cheirinho de lar. Sigo apressado até a casa principal, carregando nas costas o peso da mala com meus pertences. Mesmo cambaleante chego rápido ao meu objetivo pois tenciono fazer uma rápida refeição e partir imediatamente à busca de Missy. Ah, tenho tanto a dizer a ela, tantas páginas à lhe mostrar com escritos sobre meus pensamentos. Vou desnudar minha alma diante dela, isso é o mínimo que Missy merece. Não encontro ninguém ao chegar ali, e um empregado me informa que estão todos na casa principal. Mesmo ali, não vejo ninguém, então despejo minha mala num canto qualquer e aguço os ouvidos. Ouço vozes murmuradas vindo do escritório de Jamie e sigo até lá, onde entro logo após algumas batidas.

-- Não chorem, estou de volta! -- anuncio brincando.

     Oito pares de olhos se voltam para mim, ainda na porta, e ali mesmo eu paraliso ao ver e compreender a cena. Jamie me encara, cauteloso. Lizy e Nita consolam, apreensivas e preocupadas, uma quarta pessoa que é Agnes, em carne, osso e lágrimas. E se Agnes está aqui... Oh, meus deuses, meus deuses.

-- O que aconteceu? -- entro de vez e corre até a mulher que chora, desesperada.

     Ela está ferida, percebo. Tem um corte na testa, circulado por um grande hematoma, quase onde começam os cabelos negros que estão sujos de sangue. Me abaixo diante dela, agarro seus ombros e a sacudo freneticamente.

-- O que aconteceu, mulher? Me diga logo! -- grito e ela apenas chora ainda mais.

-- Solte-a, Ian! -- Lizy me empurra e Jamie, que estava próximo à janela vem até mim, e me arrasta até o outro sofá.

-- Jamie, por favor… -- imploro.

-- Até onde sabemos, ela está viva. -- ele diz, sombrio.

     Um zumbido na cabeça me impede de ouvir o restante da frase dele, então apenas observo seus lábios me mexerem já que preciso me concentrar em alguma coisa. Um medo gélido me invadiu, cruel e mortal. Eu já senti isso uma vez. Quando vi minha mãe baleada e sangrando no chão, desacordada. Ela precisou de mim e eu não estava lá. Minhas mãos tremem e as fecho em punho para conter a emoção. Eu estou aqui agora e, como Missy sempre fez, farei o que for preciso.

-- Contem-me o que aconteceu. -- peço mais calmo e controlado, e finalmente Jamie me atende.

-- Foi tudo muito rápido e sabemos apenas o que Agnes viu. -- suspira frustrado e se senta numa banqueta ao meu lado -- É melhor a senhorita explicar.

     Agnes funga algumas vezes, claramente segurando o choro e começa seu relato.

-- Nem eu sei bem o que aconteceu, senhor. Ontem mesmo estava tudo bem, e hoje… hoje… -- soluça mais uma vez e eu conto até dez para conseguir não sacudi-la novamente -- Aquele homem retornou nessa madrugada e trouxe mais alguns trogloditas malditos com ele.

-- Quem, Agnes? -- pergunto já exasperado.

-- Ora, senhor Ian! Patrik Lavin, é claro! Ele invadiu a propriedade de forma bem silenciosa e traiçoeira, agora eu ocupo um quarto próximo ao da senhorita Missy. Eu estava acordada quando ouvi barulhos estranhos no andar de baixo. Faltava pouco para o amanhecer então pensei que Madalena já estivesse de pé, preparando o café da manhã.

     Aquele maldito verme asqueroso! Alguma coisa me dizia que ele queria muito mais do que algumas moedas e, ao que parece, minha intuição sempre esteve certa.

-- Eu desci para encontrá-la e foi aí que o inferno começou! Patrik e mais dois homens estavam na cozinha, com sorrisos ferinos, e Madalena... Madalena… -- fungou mais uma vez, triste -- estava agonizando no chão, engasgando com o próprio sangue com um punhal cravado bem aqui. -- ela toca o próprio pescoço, logo abaixo da orelha.

-- Continue, por favor. -- peço com um ranger de dentes.

-- Eu sai correndo, claro. Corri até senhorita Missy que ainda dormia, tentando dizer que precisávamos fugir imediatamente, mas foi em vão. Logo eles arrombaram a porta. Ela disse para levarem o que quiserem, disse onde estava o dinheiro. Mas Patrik queria algo mais. Ele foi atrás dela. -- disse olhando agora diretamente para mim.

-- O quê? -- grito e tento me levantar mas logo Jamie me impede.

-- Sente e escute o resto. -- ele me empurra de volta ao sofá -- Senhorita, se apresse antes que meu irmão perca o controle, sim?

-- Tudo bem, claro. De alguma forma aquele homem deduziu que o filho que a senhorita Kedard espera é de Paul, seu irmão. Então, na mente dele, está no direito de assumir a o bebê, se casar com Missy e controlar a propriedade e fortuna dela. Ele disse que gostaria de ter feito isso antes, mas… hã… -- ela começou a retorcer as mãos sobre as saias do vestido.

-- Pode dizer, Agnes. -- incentiva Lizy.

-- Ele achava que o senhor ainda estivesse lá. Quando soube que estavamos sozinhas ele agiu imediatamente.  -- aquilo produz em mim uma nova onda de agonia e remorso -- Missy o enfrentou, claro, disse que não aceitaria aquilo jamais. Ele ia agredí-la mas eu impedi. -- agora ela toca a ferida na cabeça -- Então ela percebeu que estávamos em total desvantagem e começou a colaborar, permitiu que ele discursasse sobre o que faria na propriedade, sobre o que faria com ela. Fizemos de tudo para ficarmos juntas todo o tempo mas, na primeira ínfima oportunidade, ela me fez escapar.

-- Oh, meus deuses… -- murmuro desesperado.

-- Eu tentei convencê-la a vir comigo, mas em seu estado delicado ela não aguentaria uma cavalgada rápida. Então, eu prometi buscar ajuda. Cheguei aqui há uma hora, mais ou menos, e estávamos discutindo o que fazer quando o senhor chegou.

     O cômodo crepita em tensão enquanto todos aguardam minha reação.

-- Você me prometeu que cuidaria dela! -- acuso Jamie que arrelaga os olhos, assustado -- Me deu sua palavra!

     De assustado, logo seu olhar muda para furioso.

-- E eu cumpri! -- ele se levanta para me enfrentar -- Eu a visitei toda semana, para verificar se estava bem, se precisava de algo, para supervisionar a propriedade! Lizy e Nita foram até lá a cada quinzena e a estavam ajudando a preparar o enxoval. Não ouse me culpar por isso, Ian, não ouse.  A culpa dessa merda é toda sua!

      Suas últimas palavras me ferem mais que um soco pois são a mais pura verdade.

-- Tem razão. -- sussurro.

-- Não! -- Lizy se levanta e vem até nós rápida e irritada -- Nenhum de vocês tem culpa de nada. O único culpado é esse Patrik, esse maníaco! Agora que Ian está aqui e tudo já foi esclarecido precisamos de um plano de resgate imediatamente. Então você -- ela aponta o marido -- entenda o desespero de Ian, já que sem dúvidas estaria mil vezes pior na situação dele. E você -- ela aponta para mim -- não é hora de auto piedade, é hora de ser o herói que sua mulher precisa. Vai conseguir fazer isso?

-- Vamos começar. -- concordo enquanto sinto um sorriso feroz curvar meus lábios e me preparo para salvar minha amada.

Meu querido Senhor Mackenzie - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora