Ian
O sacolejar do trote do cavalo era relaxante e me ajudava a meditar. Eu fiquei na propriedade Kedard apenas um dia, porém essa visita mais parecia ter durado semanas, pela quantidade de coisas que nesse período aconteceram.
A teimosia de Missy me foi inesperada, eu tinha plena certeza de que ela aceitaria minha oferta e retornaria comigo até minha casa para solicitar uma reunião com Jamie. Porém, aqui estou eu sozinho e inquieto.
Se isso não fosse o bastante, descubro o quão atormentada ela vive ali, sendo atacada por homens vis e perturbada por aquele quarto assombrado pelo falecido pai. Um sorriso se abre em meu rosto quando me lembro de que ela matou um homem. Missy é muitas coisas, mas covarde não é uma delas. Mesmo sem querer, me pego pensando no que fazer para vê-la novamente, porém nenhuma ideia me vem à mente. Repreendo-me. O que há comigo? Já fiz tudo o que podia nesse caso, e talvez até um pouco mais do que deveria.
Chego na propriedade Mackenzie na hora do almoço e encaminho-me até a sala de jantar onde encontro Jamie ainda só, aguardando os demais.
-- Não se desespere, eu já estou de volta! -- digo sorrindo e sento-me em seguida.
-- Ora, ora vejam só quem apareceu! -- Jamie diz -- Seja bem vindo de volta, irmão, seja lá onde você tenha se enfiado.
-- Obrigado.
-- E então? -- ele pergunta, inclinando-se para frente, me olhando curioso.
-- E então o que?
-- Onde esteve, Ian? Saiu no meio da manhã, sem falar nada a ninguém, deixando apenas um bilhete em sua cabana. Quero saber que mulher é a responsável por lhe causar tamanha ansiedade.
-- Como sabe que há uma mulher envolvida? -- pergunto.
-- Ian, sempre há mulheres envolvidas quando se trata de você! Desembuche. Agora.
-- Assim você me ofende. -- coloco a mão sobre o coração, indignado -- Não sou tão devasso quanto vocês pensam, ouviu?
Jamie apenas me encara com expressão zombeteira e o silêncio permanece, enquanto ele espera que eu lhe diga por onde andei. Bem, ele vai precisar esperar por algum tempo.
-- Eu estive em uma missão totalmente altruísta, onde busquei favorecer os menos afortunados. -- digo evasivo.
-- Está se tornando devoto de alguma religião? Em seguida reivindicará o celibatário?
-- Imagino ser um pouco tarde para isso, irmão, minha virtude está ligeiramente comprometida. E, caso não saiba, não é questão de religião fazer o bem. É questão de caráter e bom senso!
-- Ian, o que você fez? -- ele pergunta desconfiado.
-- Jamie, você confia em mim? -- digo sem hesitar.
-- Tenho até medo de minha resposta, mas sim. Eu confio.
-- Fico aliviado e feliz. E peço que se lembre disso futuramente.
-- Futuramente uma ova, você vai me dizer o que…
Passos e vozes chegam e, graças aos deuses, interrompem a interrogação de Jamie.
-- Seu moleque irresponsável! -- ouço Nita gritar.
Levanto-me para abracá-la, porém tudo o que consigo dela é um doloroso cascudo.
-- Ai, mãe! Essa doeu!
-- E vai doer muito mais na próxima vez que você me aprontar uma dessas! Onde já se viu você se escafeder sem avisar nada a ninguém! Nem a sua velha mãe! Eu já não tenho o coração tão bom quanto antes.
-- Ela diz isso há quatro anos, não é Jamie! E duvido que haja coração mais forte que o de Nita... -- Lizy diz, porém o olhar cortante de minha mãe a silencia -- Desculpe, Nita, continue.
-- Pensei que estivesse com problemas! Ou que tivesse fugido! Pensei que estivesse morto em algum lugar qualquer! Escute aqui menino se você morrer por ser um idiota, eu te mato de novo! Entendeu?
Seguro para não rir com a reação exagerada dela, mas me coloco em seu lugar e percebo que fui impulsivo.
-- Sim, senhora. Me perdoe, mãe. -- peço sinceramente e vejo seu olhar de raiva se suavizar..
-- Está bem? Fez bem o que quer que tenha ido fazer?
-- Sim, está tudo bem. E fiz o melhor que pude.
Agora sim ela me abraça, quase me esmagando. Ah, como eu amo esse abraço, esse cheiro de lavanda, farinha e mãe.
-- Que bom, meu menino. Agora coma.
Sento-me novamente e fazemos a refeição normalmente agora que tudo está resolvido. Os gritos e risadas dos gêmeos se fazem ouvir, vindo da sala de jogos, seguidos dos resmungos das duas amas que cuidam deles. Imagino que assim que a pequena Clarissa der seus primeiros passos, mais uma ama será necessária.
Tudo volta a ser como era antes de minha pequena aventura. O convívio com minha família, o trabalho árduo, as horas que passo brincando com os pestinhas Robb e Owen. Porém, minhas noites tem sido solitárias, pois não há nenhuma dama aquecendo meus lençóis. Na verdade, só há cachos alaranjados em meus sonhos, acompanhados de doces e enigmáticos olhos verdes.
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Meu querido Senhor Mackenzie - Livro 2
RomanceNaquela remota cidade da Escócia todos sabem que a senhorita Kedard é uma mulher bela, arrogante e interesseira, capaz de fazer qualquer coisa para conseguir um casamento vantajoso. Mas... alguém realmente conhece Missy Kedard? Alguém sabe qua...