Capítulo 4

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Nesta manhã eu acordo mais cedo que o habitual. Foi a me­lhor noite de sono que tive nos últimos dias, e dessa vez não acordei debruçado na escrivaninha.

Decido tomar o café da manhã dentro de casa. Não quero correr o risco de vê-la tão cedo. Seria um pouco embaraçoso.

Mas por outro lado preciso sair um pouco. Fazer alguma coisa diferente. Dar uma volta talvez me inspire a escrever alguma coisa. Primeiro subo ao meu quarto e verifico, com meu binóculo, se ela está em casa. Nenhum movimento por lá.

Então visto a camiseta esportiva, shorts e calço tênis. Vou correr à beira da praia.

No caminho, encontro a senhora Kincaid. Ela mora na casa seguinte à do Thompson. Está cuidando do jardim.

-Bom dia senhor Whitman! Saindo para passear hoje?

-Sim, senhora Kincaid. Estou indo à praia. Não posso desperdi­çar uma manhã tão bonita como essa. Não concorda?

-Claro! Bom passeio então. - ela acena com a mão despe­dindo-se

-Obrigado. - retribuo o aceno.

Moro a apenas uma quadra do mar e por isso o caminho não é demorado. Logo chego à praia.

Corro por dez minutos e já estou cansado. Estou mesmo fora de forma. Me agacho com as mãos sobre os joelhos.

Decido ir para a areia. Ela é mais clara do que eu me lem­brava. O sol está forte e ofusca um pouco os olhos.

Sento na areia. O mar está agitado, as ondas um pouco altas. A ideia de vir aqui foi boa. Talvez o relaxamento me ajude a escrever. Fecho os olhos e respiro fundo. E logo me vem à mente a imagem de Lorraine. Não a de seus últimos dias, mas a da Lorraine saudável, viva e ativa. Eu a amava muito. Suspiro. Não está sendo fácil viver sem ela.

Me perco nas lembranças e nem sinto o tempo passar. Quando olho no relógio, percebo que é hora de voltar para casa.

Depois de almoçar, vou para a varanda observar a casa ao lado enquanto disfarço lendo um livro. Fico na expectativa dela aparecer. Mas não há nenhum sinal. A casa permanece fechada. Nenhum movimento por lá. Acabo adormecendo ali mesmo. Quando acordo já anoitece. Está tudo escuro na casa ao lado.

Eu desisto por hoje. Entro em casa e vou direto para o quarto. Abro o notebook para ver se consigo escrever alguma coisa. Mas então olho para a janela. Ela me atrai irresistivel­mente. Me levanto e vou dar uma espiada. Nada diferente por lá.

É tão estranho, penso. A mesma casa de onde se originam os sons que estremecem a minha cabeça agora jaz num silêncio sepulcral. Parece que é uma trégua depois dos dias anterio­res sem paz.

Canso de olhar. Pelo menos poderei dormir bem esta noite. Bocejo. Vou para cama.

Na manhã seguinte acordo com disposição.

A primeira coisa que faço é olhar a caixa de correio. Já faz dias que não verifico a correspondência. Talvez tenha até contas atrasadas lá.

De fato a caixa está abarrotada. Pego tudo, fecho-a caixa e entro em casa. Coloco os envelopes e papéis sobre a mesa de centro. Pego o café que acabou de ficar pronto e os biscoitos. Sento e começo a verificar cada correspondência enquanto tomo o café. A maioria são propagandas. Algumas são contas, cartas do banco. E... Espere. Tem um envelope que não está em meu nome. O que está escrito nele? Procuro os meus ócu­los.

Heidi Zegers. É o nome do destinatário. E o número é o da casa vizinha. Sim, a carta é para ela. Heidi.

Outro envelope também é destinado a ela. Por que vieram parar aqui? É alguma brincadeira? Ou foi simplesmente um erro do carteiro?

Seja qual for o motivo preciso entregar as correspondências a ela. Pode ser algo importante. 

A EstrangeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora