Estou a caminho do estúdio de tatuagem que eu ainda acredito que seja dela.
Quem me atende na entrada não é a mesma pessoa que me recebera da outra vez que eu estive aqui. É um cara mais magro, estilo meio punk. Me aproximo.
-Boa tarde - eu o cumprimento.
-Em que posso ajudar?
-O proprietário está?
-Quem gostaria?
-Albert Whitman.
-Vou ver se ele está disponível. Só um minuto. – ele fala baixo ao telefone mas consigo ouvi-lo: -Aquele senhor está aqui...
Eu aguardo sentado. Poucos minutos depois aparece um homem jovem, cabeça raspada, braços musculosos cobertos de tatuagens. O atendente fala com ele apontando para mim. O homem forte acena positivamente com a cabeça e se dirige até mim. Me levanto e aperto sua mão.
-Como posso ajudá-lo?- ele me pergunta
-O senhor é dono do estúdio?
-Sim.
-Ah... É que eu sou amigo da antiga proprietária e já não a vejo há um tempo e decidi fazer uma visita a ela. Heidi Zeigers é o nome dela. O senhor deve tê-la conhecido, deve ter comprado o estúdio dela.
-Não a conheço.
-Tem certeza? É uma jovem, ela é holandesa...
-Não senhor. Eu comprei este estúdio de um homem.
-De um homem? Faz muito tempo?
-Não, há apenas uma semana.
-Tudo bem então. Desculpe tomar o seu tempo.
-Sem problemas.
Ao contrário do que eu esperava, saio do estúdio com mais perguntas do que respostas. O tempo desde que aquele cara comprou o estúdio bate com o momento que Heidi decidiu partir. Mas o cara não tratou a venda diretamente com ela. Mas mesmo assim saberia pelo menos o nome de quem estava comprando. Enquanto caminho de volta para casa, imagino várias possibilidades, nenhuma delas conclusiva. Chego a ficar com um pouco de dor de cabeça. Não sei mais em que pensar.
***
Em casa faço mais uma tentativa de localizar Heidi pelo telefone. Ligo para o número dela acrescentando o código do país dela. Sem resposta. Desisto. Tomo um remédio para a dor de cabeça e em seguida vou tomar um banho.
Enquanto a água quente cai sobre meu corpo, quase me conformo com a ideia de que Heidi era uma fantasia da minha cabeça. Mas não consigo, pois lembro-me claramente dos momentos que passei com ela. Eu toquei nela. Eu a senti. Tudo aquilo não pode ter sido uma ilusão. Tem que ter uma explicação.
Chega por hoje. Minha cabeça está explodindo. Preciso dormir para colocar as ideias no lugar.
A primeira coisa que faço quando acordo é abrir o manuscrito do meu livro. Talvez escrever me ajude a aliviar essa tensão. Leio os últimos capítulos que escrevi e reviso o início do livro. Não há mais nada a modificar ou acrescentar. A obra já está concluída. Como não tinha percebido isso?

VOCÊ ESTÁ LENDO
A Estrangeira
RomansaUma misteriosa jovem transforma a vida de um escritor mais velho que acabou de perder a esposa.