Capítulo 22

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No fim das contas segui o conselho de Thompson. Procurei um analista na Filadélfia para entender o que aconteceu comigo. Fico alguns dias na Cidade do Amor Fraternal para arejar minha mente.

E aqui estou eu deitado no divã, contando ao especialista todas as experiências que passei com Heidi e a possibilidade de que tudo aquilo tenha sido apenas uma ilusão.

-Parece que o senhor sofreu um surto psicótico, -ele pontifica -provavelmente desencadeado pelo estresse causado pela morte de sua esposa.

-Mas seria possível eu ter tido alucinações tão reais como as que eu tive? Eu toquei nela... Eu a senti. - gesticulo com as mãos para enfatizar o que digo.

-A questão é o que o cérebro considera real. Por exemplo, há sonhos tão realísticos que só percebemos que são sonhos quando acordamos.

-Ou seja, meu cérebro criou uma realidade virtual? – o interrompo.

-Sim, pode ter acontecido isso. Mas eu não posso dar um diagnóstico definitivo. O que eu posso sugerir é que a figura dessa moça seja a projeção de culpas que você teria em relação à sua esposa e à sua filha.

-Você também acha que eu estou ficando louco? Que eu talvez precise de um psiquiatra?

-Não. Normalmente os loucos não fazem essa pergunta. Talvez você não precise de ajuda psiquiátrica, mas seria bom fazer algumas avaliações.

Concordo com ele.

***

O lançamento do meu novo livro A Estrangeira em Chicago está sendo um sucesso. A livraria está lotada e diante da minha mesa há uma enorme fila de pessoas esperando que eu autografe seus exemplares.

Há muito tempo não passava por essa experiência e estou me sentindo feliz com isso.

Chega todo tipo de pessoas, das mais variadas idades. As dedicatórias são para elas mesmas, para maridos, esposas, filhos, filhas, namorados, namoradas...

Paro um minuto para falar com meu editor que está ao meu lado. Quando me volto para frente, me deparo com um exemplar sendo segurado por uma mão feminina muito familiar. A unha do polegar está pintada com um esmalte preto que conheço bem. Olho para a outra mão, que repousa sobre a mesa. Um de seus anéis tem um pentagrama. Exatamente como o de Heidi. Fico paralisado por um breve instante. À medida que subo o olhar vejo uma camiseta de rock vestindo um corpo magro e delicado, cabelos escuros com pontas louras espalhados sobre os ombros. O rosto é muito bonito e juvenil, apesar da maquiagem escura. Mas minha expectativa se desvanece. Não é ela.

-É para mim mesma, por favor. –diz a voz suave.

-Claro. Qual o seu nome?

-Holly.

Autografo. – Boa leitura. –desejo a ela.

-Obrigada. –Sigo-a com os olhos enquanto ela se afasta. Porém, mais um livro estendido para mim me faz voltar a atenção de novo para ao que estava fazendo, autografar e autografar.

Quando olho de volta, ela já desapareceu.

***

De volta Cape May, me pego olhando pela janela de meu quarto para a casa ao lado, lembrando a primeira vez que vi Heidi lá naquele quarto, com o namorado.

Mas logo a nova moradora percebe que estou olhando e se assusta. O marido fecha a cortina de maneira grosseira.

Tenho que aceitar que jamais a verei novamente. Foi tudo fruto da minha mente. Com o tempo eu a esquecerei.

Deitado na cama, me vem imagem de Heidi sentada no sofá da casa dela enquanto bebíamos e conversávamos. Ela estava tão radiante. De alguma forma ali eu já sabia que não esqueceria essa imagem.

Tenho uma noite de sono tranquila e pela manhã sigo minha rotina. Tomar café na varanda e ler o jornal. Responder ao bom dia de Thompson. Está tudo em seu devido lugar. Minha vida pessoal e profissional vão muito bem.

Vou até a caixa do correio. Pego as correspondências e volto para casa. Coloco-as sobre o balcão da cozinha junto a outras cartas que já estavam lá para verificar tudo junto depois. Mas algo me chama a atenção. Pego uma das cartas que estavam anteriormente ali. Não posso acreditar no que estou vendo. No campo destinatário está escrito HEIDI ZEIGERS. E há várias outras com o mesmo nome. Como assim? Não, não pode ser.

Confuso, corro até o meu quarto. Preciso verificar se algo está lá. E está. Sobre a minha escrivaninha. O anel com a caveira que ela havia deixado ali quando lera meu livro pela primeira vez. Pego-o e tragou-o para perto dos meus olhos.

-Sim. Ela esteve aqui- digo para mim mesmo.

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⏰ Última atualização: Feb 13, 2020 ⏰

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